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Epilepsia

© Equipe Editorial Bibliomed

Neste artigo:

- Introdução
- Tipos
- Causas
- Status Epilepticus
- Diagnóstico
- Tratamento
- Tratamento cirúrgico
- Crise epiléptica
- Complicação
- Prognóstico

 

Introdução

A epilepsia é uma alteração temporária e reversível do funcionamento do cérebro, que não tenha sido causada por febre, drogas ou distúrbios metabólicos. Durante um curto espaço de tempo (segundos ou minutos), uma parte do cérebro emite sinais incorretos, que podem ficar restritos a esse local ou espalhar-se. Se ficarem restritos, a crise será chamada parcial; se envolverem os dois hemisférios cerebrais, generalizada. A doença afeta cerca de 50 milhões de pessoas no mundo, sendo que 75% dos casos tem início ainda na infância e não tendo as causas específicas determinadas.

Tipos

Os especialistas dividem a epilepsia em quatro tipos principais:

Epilepsia Focal Simples: Esta forma de epilepsia, também chamada de Epilepsia Jacksoniana, não causa perda da consciência, mas as pessoas afetadas podem se queixar de períodos de confusão mental, movimentos inusitados, tremores, sensações de deja vu, alucinações leves ou respostas extremas para gostos ou cheiros. Após a crise de ausência, a pessoa em geral se queixa de fraqueza temporária em certos músculos.

Epilepsia Focal Complexa: Este tipo responde por pouco mais da metade dos casos de Epilepsia em adultos. Em 80% dos pacientes, o problema está no lobo temporal do cérebro, uma região localizada próxima ao ouvido; nos 20% restantes, o problema está no lobo frontal. Os distúrbios nesta área do cérebro podem resultar em erros de julgamento, comportamentos involuntários ou descontrolados, ou mesmo perda da consciência.

Muitas pessoas com Epilepsia Focal Complexa apresentam sinais de alarme antes da ocorrência das convulsões. Estes sinais são chamados Auras, e podem ser representadas por diversas sensações olfativas, visuais ou auditivas.

Durante as crises (que não duram mais de 2 minutos), estas pessoas podem perder a consciência durante um breve período de tempo, parecendo estar aéreas, com um olhar perdido. As emoções podem ser exageradas e alguns pacientes podem se comportar como se estivesse embriagados e, após alguns segundos, começam a realizar movimentos repetitivos (p.ex.: mastigar, estalar os lábios, etc).

Epilepsia tipo Grande Mal ou Tônico-Clônica Generalizada: É a forma de Epilepsia mais conhecida e com as manifestações mais dramáticas. O Grande Mal possui uma fase inicial chamada Tônica, onde se observa uma contração generalizada dos músculos por 10-30 segundos. Nesta fase, os pacientes em geral caem rígidos no chão, podendo se machucar seriamente com a queda. Alguns pacientes relatam alguma espécie de Aura, mas maioria perde a consciência sem o menor sinal de alarme.

Após cerca de 30 segundos, os espasmos musculares vão cedendo e a pessoa entra na fase chamada Clônica, onde os músculos alternam períodos de rigidez com períodos de relaxamento durante mais 2-3 minutos. Algumas pessoas podem perder o controle intestinal ou urinário ao final da fase Clônica.

Terminada a convulsão Tônico-Clônica, o paciente costuma permanecer inconsciente por alguns minutos, e então acorda confuso e queixando uma fadiga extrema.

Epilepsia tipo Pequeno Mal ou Crises de Ausência: As crises de Pequeno Mal ou Ausência são episódios breves (3 a 30 segundos) de paralisia e desatenção que podem até passar despercebidos pelas outras pessoas. Não raramente, a Epilepsia tipo Pequeno Mal é confundida com Epilepsias Focais. Contudo, no Pequeno Mal o paciente experimenta perda da consciência. Além disso, as crises de ausência ocorrem são bem mais frequentes, podendo ocorrer 50-100 vezes por dia. Cerca de 25% das pessoas que sofrem de Pequeno Mal terminam desenvolvendo crises convulsivas do tipo Tônico-Clônicas Generalizadas.

Causas

Na maioria dos casos, a causa da epilepsia é desconhecida, mas pode ter origem em ferimentos sofridos na cabeça, recentemente ou não. Traumas na hora do parto, abusos de álcool e drogas, tumores e outras doenças neurológicas também facilitam o aparecimento da doença.

As crises convulsivas podem ser causadas por febre alta, especialmente em crianças entre três meses e cinco anos de idade, e algumas formas de epilepsia podem ser transmitidas de modo hereditário.

Status Epilepticus

O Status Epilepticus é um distúrbio grave, que pode causar lesões cerebrais sérias ou até mesmo a morte. Ele é definido como um padrão de crises convulsivas generalizadas recorrentes com duração de cerca de cinco minutos intercaladas por períodos muito breves de alívio parcial. Quanto mais tempo o estado durar, maior o risco de lesões cerebrais permanentes.

Em mais de 1/3 dos pacientes, o Status Epilepticus é a primeira manifestação da epilepsia. Outros 30% dos casos ocorrem em pacientes que não estão fazendo uso correto dos medicamentos anticonvulsivantes. Mais da metade das crises de Status Epilepticus ocorre em crianças. Felizmente, menos de 8% dos casos resultam em morte do paciente.

Diagnóstico

O diagnóstico em geral é feito no atendimento médico de urgência durante uma crise convulsiva. Se a pessoa for levada para atendimento médico relatando ter sofrido convulsões no passado recente ou porque suspeita sofrer de Epilepsia, o médico então irá realizar um exame clínico detalhado.

Um estudo recente mostrou que o exame clínico simples é capaz de identificar com boa precisão a região do cérebro responsável pela crise convulsiva. O nariz costuma escorrer após epilepsias do lobo temporal e não após epilepsias originadas de outras regiões cerebrais. Além disso, a mão com a qual o paciente limpa o nariz corresponde ao lado do cérebro onde a convulsão ocorreu.

O exame médico é importante para excluir outras causas de convulsões, tais como alcoolismo, infecções, traumas na cabeça, envenenamento, abuso de drogas e diabetes. Havendo suspeita de infecção, o médico poderá solicitar uma análise do líquido espinhal.

O exame diagnóstico mais importante na epilepsia é o Eletroencefalograma (ou EEG). O EEG avalia o padrão das ondas cerebrais e deve ser realizado ainda nas primeiras 24h após a crise. Entretanto, o EEG não é à prova de falhas, e até metade das pessoas que sofrem crises epilépticas não apresentam alterações ao exame.

Havendo necessidade, o passo seguinte é a realização de uma Tomografia Computadorizada do Crânio. Este exame pode mostrar lesões, tumores ou outras alterações cerebrais responsáveis pela crise. Atualmente, existem exames ainda mais sensíveis que a tomografia simples, como por exemplo a Ressonância Nuclear Magnética e a Tomografia Computadorizada com emissão de pósitrons, que podem ser utilizados no caso de dúvidas.

Tratamento

O tratamento prolongado com remédios anticonvulsivantes está indicado na maioria dos pacientes que apresentaram duas ou mais convulsões. Porém, em alguns casos, os remédios podem ser iniciados já após a primeira crise.

Os anticonvulsivantes mais comumente empregados no tratamento da epilepsia incluem carbamazepina, fenitoína, ácido valpróico, fenobarbital, primidona, diazepam e clonazepam.

O tipo e a quantidade de drogas empregadas no tratamento da Epilepsia variam de acordo com a idade do paciente, o tipo, a freqüência e a causa das crises. Felizmente, cerca de 80% das convulsões epilépticas pode ser tratada com uma única droga.

Vale lembrar que os anticonvulsivantes possuem várias interações medicamentosas. Por isso, antes de fazer uso de qualquer outra medicação, é essencial que o paciente comunique o fato ao seu médico, evitando associações que podem causar efeitos colaterais graves.

Por exemplo: os anticonvulsivantes reduzem a eficácia da pílula anticoncepcional. Mulheres epilépticas que estejam fazendo uso de anticonvulsivantes devem utilizar contraceptivos contendo pelo menos 50 microgramas de etinil estradiol ou mestranol. Remédios para tratar asma, úlceras gástricas e doenças cardíacas também podem ter seus efeitos afetados pelas drogas anticonvulsivantes.

A interrupção dos medicamentos pode começar a ser planejada quando a pessoa tiver passado mais de dois anos sem novas crises convulsivas. Cerca de 60% dos pacientes tratados corretamente consegue suspender as medicações após cinco a dez anos de tratamento.

Tratamento cirúrgico

O tratamento cirúrgico pode ser indicado se os remédios não forem capazes de controlar as crises convulsivas após dois a três anos de tratamento. Os procedimentos mais realizados envolvem remoção da área cerebral responsável pelas crises, sendo a Lobectomia Temporal a cirurgia mais frequentemente realizada.

Os candidatos ideais para lobectomia temporal em geral sofrem de Epilepsia Focal Complexa iniciada entre os cinco e dez anos de idade, que entrou em remissão durante a infância mas que retorna resistente ao tratamento durante a adolescência e o inicio da idade adulta. O procedimento resulta em cura de 70% a 80% dos pacientes operados.

Crise epiléptica

Durante a crise convulsiva, o paciente deve ser mantido protegido para evitar lesões adicionais. Ajoelhe-se próximo à cabeça da pessoa, protegendo-a entre suas pernas e posicionando algo macio sob sua cabeça (p.ex.: uma blusa ou toalha dobrada). Isto evitará que o paciente se machuque ainda mais durante os espasmos, contundido o crânio contra o chão duro. Mas não tente conter o paciente à força.

Não introduza coisa alguma na boca da pessoa durante a convulsão. Isso poderá apenas provocar um reflexo de vômito com grave risco de aspiração. No máximo, limpe com um pano o excesso de saliva da boca do paciente, desobstruindo as vias respiratórias.

A pessoa não deve ser deixada sozinha durante a convulsão. Se a crise estiver durando mais de dois a três minutos, ou houver suspeita que a vítima se machucou gravemente, é diabética ou está grávida, acione o serviço de emergência mais próximo.

Complicação

A ameaça e o receio permanente de ter uma convulsão a qualquer momento gera um estigma desagradável. Além disso, muitas crianças e adultos afetados pela Epilepsia sofrem bastante e são humilhados após uma convulsão, principalmente quando o episódio é acompanhado de incontinência urinária ou intestinal. Devido estas repercussões emocionais associadas à doença, pessoas que sofrem de epilepsia possuem um risco maior para suicídio.

Quedas e acidentes causados pelas crises epilépticas também são complicações comuns. Não é preciso nem dizer o risco que representa uma crise enquanto a pessoa está dirigindo ou nadando.

Prognóstico

Praticamente todas as crianças que apresentam convulsões febris apresentarão melhora do problema com o tempo, sem qualquer sequela.

A imensa maioria das pessoas que sofreram uma crise convulsiva, relacionada ou não à febre, jamais irá apresentar outro episódio semelhantes. As pesquisas mostram que apenas de 30% a 40% das pessoas que sofreram uma crise convulsiva irão sofrer uma segunda crise. Contudo, após uma segunda crise, de 60% a 90% das pessoas irão sofrer crises subsequentes.

Felizmente, o prognóstico no longo prazo para pessoas com Epilepsia de causa indeterminada (ou seja, epilepsias que não estão relacionadas a tumores, hemorragias cerebrais ou meningite, por exemplo) é excelente: um estudo mostrou que 70-90% dos pacientes que sofriam de Epilepsia estavam livres da doença após 20 anos da primeira crise.

Copyright © 2019 Bibliomed, Inc. 27 de março de 2019.