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Como parar de fumar?

© Equipe Editorial Bibliomed

Neste artigo:

- Introdução
- Riscos do tabagismo
- Dependência
- Métodos que auxiliam a pessoa a parar de fumar
- Por que algumas pessoas desistem?
- Tabagismo no Brasil

Introdução

Grande parte das pessoas que fumam (80%) deseja parar de fumar, mas não conseguem. Eles usam a droga em quantidades maiores ou por um tempo maior do que desejariam, e mantém o seu uso apesar de conhecerem os danos físicos e psicológicos causados por ela. Embora a maioria dos fumantes já tenha enfrentado algum problema físico em função do cigarro, dar um basta neste hábito é uma das tarefas mais difíceis que o ser humano pode enfrentar, o que demonstra que as manifestações da dependência da nicotina são muito semelhantes às de outras drogas, com a diferença de não produzir manifestações psíquicas com o seu uso. Ainda que fumar não torne a pessoa mais agressiva ou eufórica, o seu padrão de consumo é típico de uma droga que produz dependência.

Estima-se que existem 1,3 bilhões de fumantes no mundo, que juntos consomem mais de 6 trilhões de cigarros ao ano, e dos quais 650 milhões vão morrer prematuramente por causa do cigarro. Só no século XX, a Organização Mundial da Saúde (OMS) calculou cerca de 100 milhões de mortes em decorrência do consumo de tabaco. Em alguns países, como Estados Unidos, China, Rússia e Índia têm elevada taxa de tabagismo, sendo que um em cada quatro homens e uma em cada 20 mulheres fumem. De forma geral, o consumo de tabaco vem diminuindo em países desenvolvidos e crescendo em países em desenvolvimento.

A prevalência de tabagismo é o resultado de novos usuários de tabaco e da interrupção do consumo, por cessação do tabagismo ou morte. Portanto, a identificação dos fatores determinantes da iniciação e da cessação do tabagismo é fundamental para o planejamento de ações específicas para o controle do tabaco.

Segundo os especialistas, a informação ainda é o primeiro passo para a decisão definitiva que só o fumante pode tomar. Para isso, vamos explicar aqui alguns conceitos básicos a respeito da dependência do tabaco e seus malefícios, embasando esta decisão.

Riscos do tabagismo

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e a Fundação do Coração, os malefícios do fumo ultrapassam a ação da nicotina e dizem respeito a diversas substâncias tóxicas resultantes da combustão do tabaco. O SBC identifica 43 destas substâncias como cancerígenas. Relaciona-se ao tabagismo 90% dos casos de câncer do pulmão, 80% dos casos de bronquite crônica e entre 20 e 25% das anginas ou infartos do miocárdio. Fumar também está relacionado com a ocorrência do câncer de boca e do esôfago e é possível que favoreça o desenvolvimento de câncer no pâncreas, bexiga, rim e estômago. Além disso, os filhos de mães fumantes mostram retardo no crescimento intrauterino e baixo peso ao nascimento.

De acordo com a instituição, fumar também prejudica a circulação sanguínea e acaba propiciando os acidentes vasculares cerebrais, popularmente conhecidos como 'derrames'. Em alguns casos, o entupimento dos vasos que irrigam as pernas (tromboses) pode levar à gangrena, não restando alternativa senão a amputação.

O coração é especialmente prejudicado pelo hábito de fumar. A nicotina torna-se prejudicial ao aparelho cardiovascular à medida que propicia a liberação de substâncias - as catecolaminas - que habitualmente só seriam liberadas no organismo em ocasiões de estresse. Essas substâncias preparam o corpo para enfrentar situações de perigo iminente, e, como consequência, aumentam a frequência cardíaca, a pressão arterial (e, portanto, a necessidade de oxigênio) e a resistência que os vasos opõem à passagem do sangue. No caso dos indivíduos com problemas cardíacos, todos estes efeitos são multiplicados.

Os malefícios do fumo sobre o coração e os vasos sanguíneos devem-se não somente à nicotina, mas também ao monóxido de carbono resultante da queima do papel e do próprio fumo. A combinação do monóxido de carbono com a hemoglobina - pigmento das hemácias com função de transportar o oxigênio - forma a carboxihemoglobina, com uma ligação 250 vezes mais forte do que a do oxigênio com a hemoglobina.

Assim, o conteúdo de oxigênio dos glóbulos vermelhos dos fumantes se reduz em 15% a 20%, comprometendo o seu fornecimento aos órgãos. Esse déficit de oxigênio, sempre prejudicial, torna-se ainda mais sério em virtude do aumento da demanda provocado pela nicotina. Como se já não fosse dano bastante, o monóxido de carbono tem ação tóxica, agredindo a parede interna das artérias, criando uma lesão na qual irá se depositar a gordura que circula no sangue. Para completar, o fumo ainda tem a propriedade de aumentar o fracionamento das gorduras no interior dos vasos, aumentando, assim, a concentração de LDL, o colesterol 'mau', e reduzindo a de HDL, o colesterol 'bom'". Por tudo isso, estima-se que o fumante perca, em média, dez anos de vida.

Dependência

Ser dependente de uma substância significa, basicamente, não ter mais controle do seu uso, apresentando sintomas tais como tolerância (necessidade de quantidades cada vez maiores da droga para se obter os mesmos efeitos) e síndrome de abstinência (menor concentração e atenção, ansiedade, vontade de fumar: respostas do corpo para a ausência da nicotina, levando o fumante a repô-la em períodos cada vez mais curtos). Na atualidade, já não se intitula uma pessoa como dependente ou não-dependente, mas como mais ou menos dependente, ou seja, a dependência é relativa à intensidade destes sintomas.

De acordo com os psiquiatras, muitos fumantes que tentam parar de fumar sozinhos não alcançam o seu intento por apresentar os sintomas de abstinência e não saber reconhecê-los como tais. Na realidade, não são todos os fumantes que apresentam sintomas de abstinência, mas pode-se afirmar que cerca de 70% deles apresenta algum desconforto relacionado à ausência do cigarro. Eles explicam que os sintomas normalmente aparecem horas depois do último cigarro fumado e podem se estender por um período que pode durar até dois meses.

Os sintomas da abstinência são relatados como ansiedade, inquietude, irritação, agressividade, depressão, baixa concentração e atenção e aumento do apetite. Pode-se observar alterações do EEG (Eletroencefalograma), diminuição dos batimentos cardíacos e da pressão arterial, vasodilatação periférica, alterações do sono, aumento do peso e diminuição da performance em provas de vigilância e memória. O sintoma mais típico é o 'craving', ou seja, uma vontade de fumar intensa e inexplicável.

Métodos que auxiliam a pessoa a parar de fumar

Reposição de nicotina

Método que tem como objetivo a reposição da nicotina para reduzir os sintomas de abstinência. Estudos mostram que a reposição da nicotina dobra os índices de sucesso, caso haja um aconselhamento simultâneo do médico. O grupo que mais se beneficia da terapia de reposição é o dos fumantes pesados, que fumam mais de quinze cigarros por dia; fumam até uma hora depois de acordar; e que já apresentaram sintomas de síndrome de abstinência em outras tentativas de deixar o fumo.

A reposição pode ser feita por meio de um adesivo ou goma de mascar. O primeiro método permite a absorção da nicotina pela pele e o segundo, pela boca. Os resultados relatados têm se revelado promissores, embora sejam necessários estudos adicionais, a longo prazo, para estabelecer sua real eficácia e utilidade da substituição do fumo por nicotina.

Parada abrupta

Deixa-se de fumar de uma vez só, abandonando totalmente o uso de cigarros de uma hora para outra.

Parada gradual

São duas as formas de se abandonar o cigarro de maneira gradual:

1) a primeira é a redução do número de cigarros. Por exemplo: um fumante de 30 cigarros por dia, no primeiro dia fuma os 30 cigarros usuais, no segundo dia fuma 25 e vai tirando cinco cigarros por dia, até chegar ao sétimo dia, já sem fumo.

2) a segunda modalidade é o adiamento da hora do primeiro cigarro. Por exemplo: no primeiro dia começa a fumar às 9 horas, no segundo às 11 e assim por diante, até o sétimo dia, quando o primeiro cigarro seria fumado à noite. Desta forma, seria mais fácil abandonar no sétimo dia.

Especialistas sugerem algumas dicas para facilitar o processo. Inicialmente, informam que se deve acreditar no método e também que a "vontade de fumar" é algo superável. Posteriormente, indicam que se beba bastante água, que se use gomas de mascar e balas, que se realize exercícios e caminhadas, que se evite bebidas alcoólicas, que se escove os dentes logo após as refeições, etc.

Medicamentos

Medicamentos à base de cloridrato de bupropiona têm sido usados como coadjuvantes no processo de supressão do tabagismo.

Outros métodos

Outros métodos, como acupuntura (método do ponto cirúrgico), uso de medicamentos (kits de antioxidantes) e controle mental, como o Método M.A.M.C. - Método por autocontrole mental sobre o cigarro, que vende uma apostila através da Internet, também vem sendo amplamente divulgados.

Qualquer que seja o método utilizado, no entanto, é recomendável que seja feito com acompanhamento médico.

Por que algumas pessoas desistem?

Deixar o cigarro pode ser mais difícil em função das motivações psicológicas que mantém o uso do que em função do aspecto biológico. Do ponto de vista orgânico, há diversos métodos de reposição de nicotina, o que diminui a dificuldade dos efeitos da abstinência. A dependência psicológica de uma droga, e deve-se esclarecer que a nicotina é uma droga psicotrópica estimulante do sistema nervoso central, está relacionada com o hábito e com as atitudes de preparo e uso das substâncias. Há um significado psíquico para o uso do cigarro.

Na opinião dos especialistas, para se deixar o fumo, inicialmente deve-se vencer o período de síndrome de abstinência. Para isso, podem ser utilizados diversos métodos, como os adesivos de nicotina, as gomas de mascar, que são considerados válidos, embora deva-se frisar que a grande dificuldade de deixar o fumo não está na questão orgânica. O difícil é deixar o hábito e os seus componentes estruturantes psicológicos do uso. Sendo assim, considera-se bastante válido que seja utilizado um método para diminuir os efeitos orgânicos da falta da nicotina, contudo é imprescindível que haja um apoio psicológico. Este apoio pode ser obtido tanto em uma psicoterapia como em grupos de autoajuda.

Já a psicanálise, especialidade do psicólogo, é um método de compreensão e tratamento das causas psíquicas inconscientes que motivaram e que mantém a necessidade do uso da droga. Pode-se dizer que, de maneira geral, o cigarro é para a pessoa que o usa como um 'remédio', muitas vezes utilizado para diminuir a ansiedade e este fato é paradoxal, na medida que a nicotina é uma droga estimulante, logo, deveria gerar ansiedade.

Muitos familiares de fumantes fazem verdadeiras 'campanhas' em casa para que estes parem com o hábito que pode levá-los à morte. A angústia da família, no entanto, tem pouco resultado sobre o fumante se este não estiver de fato convicto da necessidade de parar. Inicialmente, quando pensamos em ajudar alguém, devemos ter clara a necessidade de respeito à individualidade do outro. Não se pode fazer um tratamento de uso de cigarro de uma maneira forçada, sem que o fumante o deseje.

Quando se fala do uso de outras drogas, como o crack, a cocaína, a heroína, pode-se até pensar na necessidade de retirar a pessoa de um círculo vicioso e destrutivo. Já o cigarro não torna a pessoa violenta ou confusa psicologicamente, suas consequências são físicas. De acordo com especialistas em drogas, em geral, os fumantes possuem as informações necessárias para julgar a gravidade das consequências de seu vício. Embora seja um primeiro passo importante, a informação, pura e simples, todos sabem, é insuficiente tanto para prevenir quanto para determinar o término de uma dependência.

Tabagismo no Brasil

No Brasil, desde 1997 o Instituto Nacional do Câncer (INCA) é Centro Colaborador da OMS para o Controle do Tabaco e realiza estudos populacionais cujos resultados contribuem para monitorar as tendências do consumo de produtos de tabaco no país, além de monitorar o conhecimento, crenças e atitudes da população frente às medidas da Política Nacional de Controle do Tabaco.

Apesar de os números de fumantes no Brasil serem alarmantes (aproximadamente 7,1 milhões e mulheres e 11,1 milhões de homens), percebe-se uma diminuição de pessoas que consomem tabaco nos últimos 25 anos, período no qual a porcentagem de fumantes diminuiu de 29% para 12% entre os homens e de 19% para 8% entre as mulheres. Consequentemente, o número de fumantes passivos (aqueles que são expostas à fumaça de cigarros e derivados, especialmente em locais fechados e pelas pessoas com as quais convive) diminuiu 35%.
O Brasil, juntamente com a Turquia, são as duas únicas nações dentre as 171 que aderiram às medidas globais da OMS para controle do tabagismo, que implementaram ações governamentais de sucesso para a redução do consumo de tabaco. Dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) apontam que, em 2018, 9,3% dos brasileiros afirmaram ter o hábito de fumar, contra 15,7%, em 2006, ano em que a pesquisa começou a ser feita. A tendência, segundo o Ministério da Saúde, é de redução constante desse hábito no país.

Dados dos últimos 13 anos da Vigitel apontam que, entre a população entrevistada, 40% reduziu o consumo de tabaco, e que o consumo caiu em todas as faixas etárias: de 18 a 24 anos de idade (12% em 2006 e 6,7%, em 2018), 35 e 44 anos (18,5% em 2006 e 9,1% em 2018); e entre 45 a 54 anos (22,6% em 2006 e 11,1% em 2018). Entre as mulheres, a redução do hábito de fumar alcançou 44%.

Desde a década de 1990, o Sistema Único da Saúde (SUS) capacita profissionais de saúde para tratar pacientes tabagistas. O SUS oferece tratamento gratuito para quem deseja parar de fumar, incluindo o medicamentos, adesivos e gomas de mascar (terapia de reposição de nicotina). O tratamento inclui avaliação clínica, abordagem mínima ou intensiva, individual ou em grupo e, se necessário, terapia medicamentosa juntamente com a abordagem intensiva. Além disso, são promovidas anualmente ações educativas para conscientização dos malefícios do consumo de tabaco.

Quem desejar parar de fumar, pode entrar em contato com a coordenação de tabagismo de seu estado (CLIQUE AQUI) parar mais informações.

Copyright ©  Bibliomed, Inc.      26 de agosto de 2020.