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Pé do diabético: Um cuidado essencial

Neste artigo:

- Como a diabetes gera complicações nos pés?
- Quais as possíveis consequências das complicações nos pés?
- Como prevenir?
- Que medidas podem reduzir o risco das complicações no pé do diabético?
- Como tratar as complicações dos pés?
- Quais os tratamentos no futuro?
- Viva tranqüilo com o seu pé


"A diabetes é uma doença antiga, já muito estudada e conhecida pela medicina, mas que persiste gerando inúmeras mortes, complicações, estados de dependência e gastos com a saúde. Uma complicação grave e relativamente comum é a amputação de partes dos membros inferiores, em conseqüência a infecções em ferimentos dos pés. Aprenda a evitá-los".

Como a diabetes gera complicações nos pés?

A persistência de um alto nível de glicose no sangue durante muito tempo pode causar lesões nos vasos sanguíneos, reduzindo a chegada de sangue aos pés. Esta redução da circulação pode enfraquecer a pele, contribuir para o aparecimento de ferimentos e dificultar a cicatrização dos mesmos. Além disso, o excesso de açúcar no sangue pode lesar os nervos, reduzindo a capacidade de sentir dor e pressão sobre os pés. Sem essas sensações, é fácil desenvolver calos de pressão, lesar a pele, os ossos, as articulações e os músculos acidentalmente. Com o tempo, lesões do osso e articulações podem alterar toda a modelagem do pé. As lesões dos nervos também, uma vez que elas acabam por enfraquecer os músculos locais.

Quais as possíveis conseqüências das complicações nos pés?

A diabetes pode gerar diferentes tipos de complicações nos pés, incluindo pé de atleta (uma infecção por fungos), calos e úlceras que podem ser desde superficiais até muito profundas. Complicações mais sérias incluem infecções profundas de pele e osso.

A complicação mais séria é a gangrena (apodrecimento e morte dos músculos e da pele do pé), que pode culminar com a necessidade de amputação do pé. Cerca de 5% dos indivíduos com diabetes eventualmente são submetidos à amputação de um pé. Mas esta trágica consequência pode ser evitada em 90% dos casos, se houver controle adequado dos níveis de glicose no sangue e um cuidado diário com os pés.

Os fatores que aumentam o risco de ocorrência de complicações são: a existência prévia de úlceras, a existência de lesões nos nervos, circulação deficiente e controle precário da glicemia.

Como prevenir?

Pacientes com diabetes tipo 1 devem passar por uma avaliação anual dos pés após 5 anos de diagnóstico. Já os pacientes com diabetes tipo 2 devem iniciar o acompanhamento dos pés 1 ano após o diagnóstico.

Durante este exame, o médico checa sinais e sintomas que sugiram circulação deficiente, lesão neurológica, alterações de pele e deformidades. Os pacientes devem estar atentos e relatar ao médico quaisquer alterações que tenham percebido com relação aos seus pés.

São sinais de circulação deficiente: pulsos fracos, pés frios, pele azulada e falta de pêlos. São sinais de lesão neurológica: sensações incomuns nos pés e pernas, como dor, queimação, formigamento, frio e cansaço. Será útil se o paciente souber perceber e descrever a ocorrência destas sensações, o local afetado por elas e quais medidas aliviam os sintomas. Algumas vezes a lesão neurológica pode ocorrer gradualmente sem gerar sintomas, até que a pessoa perca a sensibilidade a ponto de ferir os pés em alguma pedra ou mesmo no próprio sapato, sem perceber. O perigo maior, neste caso, é a pessoa só perceber a lesão quando ela já estiver infectada. Por este motivo é que o médico deve avaliar se o paciente já apresenta alguma alteração ou perda das sensações nos pés.

O exame pode revelar alterações nos reflexos e perda da capacidade de perceber pressão, vibração, alfinetadas e alterações na temperatura. O médico dispõe de equipamentos especiais para ajudar a quantificar a extensão de qualquer lesão no nervo.

As alterações de pele também devem ser avaliadas, devendo-se estar atento para ressecamento excessivo, rachaduras ou descamações, que evidenciam um comprometimento do efeito protetor da circulação. Também deve-se estar atento para calos, ferimentos e rachaduras entre os dedos.

A aparência e forma dos pés podem ser reflexo das lesões dos nervos.

Que medidas podem reduzir o risco das complicações no pé do diabético?

Um controle adequado do sangue pode reduzir as lesões em vasos e nervos que vão predispor às complicações. Nos casos em que já há lesões, o controle adequado da glicemia reduz o risco da lesão progredir para uma amputação. Algumas ações simples como as seguintes podem reduzir o risco de complicações no pé:

- Não fumar: o cigarro agrava problemas vasculares e cardíacos e reduz a qualidade da circulação nos seus pés.

- Evitar atividades que podem lesar seus pés: evitar andar descalço, manter os pés secos e limpos, aplicar loção hidratante para evitar pele seca e rachaduras, tomar cuidado ao cortar as unhas, não retirar cutículas, não estourar bolhas, avaliar os pés diariamente (principalmente entre os dedos) em busca de lesões.

- Escolha meias e sapatos com cuidado, preferindo meias de algodão e sapatos confortáveis.

- Troque de sapato todos os dias. Não use o mesmo sapato mais de um dia seguido, e use novos sapatos aos poucos, para evitar bolhas.

- Peça ao médico para examinar seus pés ao menos uma vez por ano, e mais frequentemente se você estiver notando alguma alteração.

Como tratar as complicações dos pés?

Este tratamento depende da presença e da gravidade de úlceras nos pés. Para úlceras superficiais envolvendo apenas a superfície da pele, o tratamento inclui cuidado profissional para limpar a úlcera, retirando as partes que já estiverem mortas. Se houver infecção, devem ser prescritos antibióticos. O paciente (ou alguém em sua residência) deverá limpar a úlcera e aplicar um curativo limpo duas vezes ao dia, devendo também manter repouso e manter o pé machucado elevado. A úlcera deve ser avaliada semanalmente por um profissional, que irá verificar se o tratamento está sendo eficaz. No caso de úlceras mais profundas, envolvendo músculos e ossos, usualmente é necessária a hospitalização, o uso de antibióticos endovenosos e a realização de alguns exames de sangue e radiografias. Algumas vezes chega a ser necessária a remoção de ossos infectados.

Quando partes dos pés ou dedos dos pés se tornam gravemente lesados, com tecido morto sem chance de ser recuperado, torna-se necessária a amputação (das áreas com tecido morto), que só é realizada em último caso.

Quais os tratamentos no futuro?

Várias pesquisas vêm sendo realizadas com o tratamento das complicações do pé diabético. As novas opções incluem alguns tratamentos de eficácia já comprovada e disponíveis no mercado, mas ainda caros, como a “medicina hiperbárica”, que consiste da exposição da úlcera a elevados níveis de oxigênio, estimulando o crescimento celular através de uma oferta aumentada de oxigênio (que é um agente importante da cicatrização). Outras opções em andamento são os tecidos sintéticos, o crescimento artificial da pele, as substâncias que estimulam a cicatrização e a estimulação elétrica.

Viva tranqüilo com o seu pé

Para os pacientes com diabetes, as complicações do pé são um perigo constante. Entretanto, se você e seu médico trabalharem juntos, podem elaborar um plano de tratamento para deixar seus pés tão saudáveis quanto possível. Ao mesmo tempo em que os exames médicos de rotina são com certeza importantes, seu cuidado diário com os pés tem um importante papel para evitar complicações antes que elas ocorram. Você pode aprender muito sobre esse assunto com o seu médico.

Fonte: Bennett, Plum et alli. Cecil Tratado de Medicina Interna. 20 ed. Ed.Guanabara Koogan S.A., Rio de Janeiro, 1997.

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