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Problemas dentários na criança que chupa os dedos

Neste artigo:

- Introdução
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Conseqüências decorrentes do hábito
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Diagnóstico
- Tratamento
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Conclusão

Introdução

O termo má-oclusão, nada mais é do que um desvio do fechamento normal da boca que acarreta problemas de ordem funcional e/ou estética.

Os dentes são mantidos em harmonia por duas forças musculares antagônicas: força de contenção externa e contenção interna. A externa é constituída pelos músculos das bochechas e dos lábios.

Já a interna, é constituída pela língua, que por ser um órgão preso somente por uma extremidade, possui uma infinidade de movimentos e posições, exercendo assim, pressões sobre as arcadas dentárias, e servindo também de guia para o contorno dos dentes.

Os desequilíbrios musculares decorrentes do hábito de sucção, durante o período de crescimento facial, são capazes de comprometer a morfologia e função dos dentes, da língua, da boca e da face como um todo.

Os hábitos de sucção que surgem nas primeiras semanas de vida, geralmente estão relacionados com problemas alimentares. Entre o 4º e o 10º mês de vida, o bebê não busca somente a satisfação nutricional, mas também experimenta o estímulo prazenteiro da língua, lábios e mucosa bucal, associando-os às sensações agradáveis como carinho e aconchego. Mais tarde, a criança passa a utilizar o hábito de sucção digital por lhe proporcionar um prazer especial, aquecimento e proteção, podendo vir a se tornar um hábito persistente para a liberação de tensões emocionais e/ou pela necessidade de contato. Geralmente o hábito é superado entre o 3º ao 4º ano de vida.

Conseqüências decorrentes do hábito

Chupar os dedos é um defeito que se persistente na criança pode ter graves conseqüências, como crescimento ósseo retardado ou deturpado, más posições dentárias, distúrbios respiratórios, dificuldades na fala, perturbações no equilíbrio da musculatura e problemas psicológicos.

A grande maioria das crianças suga os polegares, mas encontramos também aquelas que usam o indicador, e até mesmo, em minoria, as que utilizam ambos. Quando o dedo é levado à boca e sugado, varias alterações ocorrem ao redor dos dentes o que pode contribuir para uma má-oclusão.

Quando o polegar é sugado, geralmente ele está posicionado na boca, de tal modo, que a área das impressões digitais entram em contato com o céu da boca. Em virtude disso, a língua é deslocada para baixo.

Com essas forças em desequilíbrio, se origina uma má-oclusão dos dentes, caracterizada por: mordida aberta anterior circular; alteração dos dentes incisivos superiores; verticalização dos incisivos inferiores; arcada superior mais estreita; céu da boca profundo e retração da mandíbula para trás (devido ao peso da mão forçar continuamente a mandíbula).

Diagnóstico

O diagnóstico é o mesmo da rotina de um dentista especializado, ou de um medico habituado a ver pacientes pediátricos. Exige um exame clínico acurado pelo dentista, seguido do exame dos modelos de gesso e a interpretação das radiografias.

Com a análise radiográfica é possível analisar o padrão facial da criança. Ao analisar uma mordida anterior aberta é preciso verificar se não existe envolvimento da estrutura óssea ou se a mordida aberta se restringe à área dentária que é ocorre na maioria das crianças que chupam o dedo.

Tratamento

Se a criança parar de chupar o dedo há possibilidade de ocorrer a autocorreção dos desvios da arcada dentaria.

A forma mais simples para a remoção do hábito, na época de nascimento dos dentes permanentes, é uma conversa franca entre a criança e o profissional. Caso a abordagem falhe, pode-se apelar para um sistema de recompensa ("se você parar de chupar o dedo vai ganhar a bicicleta que está querendo"), mostrar modelos e fotografias de bocas de crianças que tiveram o hábito, com seus respectivos tratamentos, utilização de esparadrapos nos dedos e luvas especiais que impeçam a sucção.

Mecanoterapia:

Na maioria dos casos, é inevitável o uso de aparelhos mecânicos para interromper o hábito de sucção digital e possibilitar a correção da mordida aberta anterior. Aparelhos removíveis são contra-indicados, pois a falta de cooperação é parte do problema, por isso são indicados os fixos, por não necessitarem da cooperação do paciente.

Esses aparelhos são simples obstáculos aos dedos, constituídos por grades removíveis ou fixas, funcionam como simples recordadores para a criança. A grade é colocada verticalmente, indo até o céu da boca, abrangendo toda a extensão da boca, e tocando os dentes de baixo. Funciona como um obstáculo mecânico que torna impraticável a sucção do dedo e evita também a interposição lingual.

Mioterapia:

A fonoaudiologia possui uma grande importância na correção das mordidas abertas causadas pelo ato de chupar os dedos. Após a correção do distúrbio o paciente é encaminhado aos exames fonoaudiológicos que determinarão a presença ou não de pressionamento da língua sobre os dentes e a necessidade de terapias reeducadoras.

Psicologia:

O psicólogo deve trabalhar no estado emocional da criança e o grau de dependência que a mesma tem em relação ao hábito. Deve também oferecer esclarecimentos aos pais com relação ao hábito para tentar eliminar ou abrandar o conflito existente entre os pais e a criança. Deve-se fazer saber que o estimulo negativo apenas fortalece o hábito, e que a partir do momento em que se inicia o tratamento, os pais terão apenas uma participação silenciosa.

Com a colocação do aparelho mecânico, o psicólogo deve acompanhar o paciente, pois a remoção de um hábito não deixa de ser uma atitude agressiva contra o paciente.

Conclusão

O hábito de chupar os dedos é o mais prevalente entre as crianças. Se o hábito persistir após a época de irrupção dos dentes permanentes, o resultado será uma má-oclusão.

O tratamento é multidisciplinar, englobando ortodontistas, odontopediatras, fonoaudiólogos e psicólogos, incluindo também a cooperação dos pais do paciente, o que é imprescindível para a criança.

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