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Reposição hormonal pode contribuir para desenvolvimento da aterosclerose, alerta estudo

06 de Março de 2003 (Bibliomed). A terapia de reposição hormonal, no início do seu tratamento, pode estar associada ao desenvolvimento de aterosclerose. Foi o que demonstrou um estudo feito pela equipe do Laboratório de Imunofisiopatologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB/USP), em conjunto com pesquisadores do Instituto do Coração (Incor).

A descoberta é valiosa considerando-se que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças do coração são responsáveis por mais de 50% das mortes no mundo desenvolvido, e que um dos principais motivos dessas mortes é o entupimento dos vasos sangüíneos em função da aterosclerose, que também pode levar a complicações maiores, como o infarto do miocárdio.

Desde 1995, os pesquisadores do laboratório vêm estudando a participação de uma proteína chamada LDL (sigla em inglês para lipoproteína de baixa densidade) no aparecimento da aterosclerose. Cigarro, má alimentação, ritmo de vida acelerado e efeitos colaterais de remédios são alguns dos fatores que favorecem o desenvolvimento dessa doença, que se caracteriza por um processo inflamatório seguido de um acúmulo de gordura nos vasos sanguíneos.

No caso da reposição hormonal, acontecem alterações que podem agravar o processo. Magnus Ake Gidlund, coordenador do laboratório, explica que a terapia com hormônios provoca um estresse no organismo capaz de induzir modificações na LDL. Como essa proteína é responsável pelo transporte do colesterol na corrente sanguínea, ao ter sua estrutura modificada passa a transportar o que se conhece por mau colesterol.

Além disso, os mesmos fatores que danificam a LDL durante a terapia de reposição hormonal contribuem para a formação de anticorpos ruins, conhecidos por seu envolvimento em doenças auto-imunes, provocadas pelo próprio sistema imunológico do organismo. Os pesquisadores observaram que grande parte desses anticorpos é gerada com o objetivo de eliminar uma proteína chamada HSP (sigla em inglês para proteína do choque térmico).

Em condições ideais, o sistema imunológico produziria anticorpos com o objetivo de eliminar a LDL modificada. Contudo, esse processo também está sujeito ao estresse da terapia hormonal. Segundo os pesquisadores, o conjunto formado por LDL modificada, anticorpos ruins e células espumosas contribui para a formação de uma placa na parede arterial, obstruindo a passagem do sangue e desencadeando doenças coronarianas, que podem culminar em angina ou infarto do miocárdio.

Gidlund lembra que toda a terapia envolve uma relação risco-benefício. O pesquisador ressalta, no entanto, que no caso da reposição hormonal a questão do risco fica mais patente, pois as mulheres tratadas não estão lutando contra uma doença terminal e sim buscando bem-estar físico. Nesse caso, o médico deveria ser capaz de diagnosticar as alterações no organismo com segurança para modificar o tratamento, trocando remédios e diminuindo a carga de hormônios, ou parar a terapia, buscando alternativas.

Os cientistas acompanharam 20 mulheres, com idade média entre 60 e 65 anos. As pacientes foram consideradas normais do ponto de vista físico e homogêneas quanto ao perfil lipídico, que diz respeito à quantidade e à proporção de componentes da gordura no sangue. A avaliação ocorreu durante o primeiro ano de reposição hormonal e todas receberam a mesma dose de hormônios. Os resultados da pesquisa apontaram que as mulheres tiveram aumento na quantidade de LDL modificada e de anticorpos ruins.

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