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Médicos chilenos fazem cesarianas demais

02 de Janeiro de 2001 (Bibliomed). Um novo estudo sobre práticas de parto no Chile indica que um número enorme de obstetras realizam cesarianas desnecessárias por razões econômicas.

Muitos obstetras particulares trabalham com agendas de parto apertadas para maximizar os ganhos e estão realizando muito mais cesarianas que o necessário. Especialistas citaram a própria conveniência e os pagamentos maiores obtidos com as cesarianas como suas principais motivações.

Os resultados são de um levantamento realizado entre 22 obstetras e mais de 550 pacientes, assim como revisões de registros médicos em maternidades de um hospital público, um hospital universitário e uma clínica privada em Santiago.

Os preços para cesariana foram bem mais altos nas três instituições quando realizadas por médicos particulares. Dos 147 partos realizados no hospital público por médico ou parteira da instituição, 41 -- 29 por cento do total -- foram cesarianas, ante 39 dos 47 partos (83 por cento) realizados por clínicos particulares no mesmo local.

Nos partos realizados em hospitais universitários por médicos ou parteiras da instituição, 27% foram por cesarianas, índice que sobe para 57% quando os médicos eram particulares. Entre as mulheres atendidas por médicos particulares em clínicas privadas mais caras, 69% fizeram cesariana, mas apenas 18% delas afirmaram em entrevista que realmente queriam cesariana, de acordo com a coordenadora do estudo, Susan F. Murray, no British Medical Journal.

A Organização Mundial de Saúde estabeleceu 15 por cento como limite máximo para as taxas de cesariana em 12 países da América Latina, segundo o trabalho.

Murray responsabilizou o crescimento da indústria de seguros privados pelo começo da tendência. Nos últimos anos, o Chile tem estimulado a população a recorrer aos seguros de saúde e evitar o serviço público, provocando um rápido aumento no número de clínicas particulares.

"Todos os 22 obstetras entrevistados relataram que a motivação principal para o trabalho particular foi financeira. Um médico do hospital universitário disse que seu salário mensal (cerca de mil dólares) podia aumentar com os ganhos do atendimento a pacientes particulares", escreveu Murray, pesquisadora do Instituto de Saúde da Criança da University College of London.

Os médicos que desejam ter lucro, porém, são obrigados a programar o máximo de partos possíveis por dia. Partos induzidos e cesarianas permitem que obstetras apressados programem e realizem partos em momentos pré-determinados.

"Cesarianas eletivas são mais seguras, duram pouco tempo e, por isso, garantem maior retorno financeiro", informou Murray.

"A lógica predominante dos serviços de saúde estimula esse pragmatismo entre médicos que não fazem objeção moral a cesarianas sem indicação médica", acrescentou Murray.

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