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Quando o Corpo Tende Para os Dois Lados

29 de Abril de 2000 (Bibliomed). Você é daquelas pessoas que nunca se perdem na rua? Consegue se localizar bem até numa cidade desconhecida? Se o senso de direção nunca lhe faltou, parabéns. Só quem vive às voltas com os transtornos causados pela total desorientação espacial sabe que falta faz essa importante percepção.

Embora a maioria das queixas parta de mulheres, homens também podem sofrer de falta de senso de direção, problema que nada tem a ver com a inteligência. É errado rotular de "burras" pessoas que nunca sabem de onde vieram ou que direção devem tomar, ainda que andem sempre munidas de um mapa. Ter ou não senso de direção é algo que depende da maneira como o corpo está organizado.

Para todo órgão ou membro do corpo que existe em pares, há sempre um que domina o outro, como percebemos facilmente em nossas mãos e pés. Mas os olhos, os ouvidos e até órgãos que não comandamos também entram nesse jogo: um lado é sempre melhor do que o outro. Enquanto em algumas pessoas essa dominância lateral é bem definida, em outras não. Há quem escreva com a mão direita, mas chute com o pé esquerdo ou ouça melhor com esse lado do corpo. Essa desorganização de comandos no cérebro vai se refletir na capacidade de orientação espacial e uma das consequências é a falta de senso de direção.

Arrastar-se pelo chão ajuda na organização cerebral

A dominância lateral cruzada - como é chamado o problema - ocorre por causa de alguma interferência no processo de maturação do sistema nervoso, que acontece durante a primeira infância. Hoje, sabe-se que a maioria das pessoas que não tiveram oportunidade de se arrastar pelo chão quando bebês não tem a dominância lateral bem definida. É nesse período, aos 5 ou 6 meses de idade, que o bebê inicia uma fase muito importante para a sua organização cerebral. Arrastando-se pelo chão, ele começa a perceber e vivenciar os dois lados do seu corpo, experimentando as diferenças entre eles.

Há ainda interferências genéticas e ambientais importantes que podem ajudar ou prejudicar a organização lateral do cérebro. Um exemplo é o colo materno. Ao carregarem seus bebês, as mães normalmente prendem um lado do corpo deles, pois uma de suas mãos precisa estar livre para dar conta de outras tarefas. Em alguns casos, a mãe pode estar retendo justamente o lado em que havia uma tendência natural para a sua dominância. Assim, a organização cerebral do bebê começa a ser confundida.

Vivências infantis como correr e pular também são decisivas para que a dominância lateral se estabeleça de forma adequada. Talvez esteja nesse detalhe a explicação para o fato de mais mulheres do que homens queixarem-se de falta de senso de direção. Enquanto as meninas normalmente preferem brincadeiras mais comportadas, os meninos correm e experimentam melhor as relações entre seu corpo e o espaço.

Problema pode causar medo de dirigir carro

Para algumas pessoas, a falta de senso de direção pode causar impecilhos, até mesmo profissionais. Algumas se sentem desencorajadas a aprender a dirigir automóveis. Mas para sorte delas, o problema já tem solução. Com o o avanço da psicomotrocidade, quem não possui senso de direção pode tentar resgatá-lo, reorganizando a sua dominância lateral e readquirindo confiança de se locomover.

Em primeiro lugar, é preciso definir no tratamento se trata-se de fato de um caso de dominância lateral cruzada. Em caso positivo, há uma série de exercícios para fazer com que o organismo se reorganize, definindo a dominância para apenas um dos lados. Isso é conseguido com o resgate de percepções que não foram assimiladas durante a infância. São revividos movimentos importantes, como o "arrastar no chão", para explorar o corpo. Em boa parte dos casos, em cerca de um ano o cliente consegue reorganizar a dominância lateral.

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