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19 de julho de 2020 (Bibliomed). Até o momento, não existe terapia oral eficaz para a doença precoce do coronavírus 2019 (COVID-19). Muito se tem discutido sobre o papel da cloroquina e hidroxicloroquina na COVID-19. Estudos anteriores com pacientes hospitalizados, entretanto, não mostraram vantagens com o seu uso. Na verdade, nos pacientes graves ocorreu inclusive um aumento da mortalidade, a ponto da Organização Mundial de Saúde suspender estudos com estes medicamentos neste tipo de doentes.
Mas defensores da cloroquina/hidroxicloroquina argumentavam a favor de seu uso em pacientes ambulatoriais, nas fases iniciais da doença. Infelizmente, pois todo o mundo desejava ansiosamente uma cura para a doença causada pelo vírus SARS-CoV-2, dois novos estudos vieram a mostrar a ineficácia da hidroxicloroquina neste tipo de pacientes.
O mais importante destes dois estudos, publicado esta semana na revista Annals of Internal Medicine, teve como objetivo investigar se a hidroxicloroquina poderia reduzir a gravidade do COVID-19 em pacientes adultos ambulatoriais.
Tratou-se de um estudo com formato clássico, ou seja, um ensaio randomizado, duplo-cego, controlado por placebo, realizado de 22 de março a 20 de maio de 2020. (Inscrito no ClinicalTrials.gov: NCT04308668). Participaram adultos sintomáticos, não hospitalizados, com COVID-19 confirmado por laboratório ou provável COVID-19 e exposição de alto risco dentro de quatro dias após o início dos sintomas. Os autores haviam levantado a hipótese de que o início da terapia com hidroxicloroquina nos primeiros dias de sintomas poderia alterar o curso do COVID-19, reduzindo a gravidade e a duração dos sintomas e prevenindo hospitalizações.
Foi usada hidroxicloroquina oral (800mg uma vez, seguida de 600mg em 6 a 8 horas, depois 600mg diariamente por mais quatro dias) ou um medicamento placebo mascarado. Ou seja, os pacientes não sabiam o que estavam tomando. Foram feitas avaliações dos sintomas e gravidade na linha de base e depois nos dias 3, 5, 10 e 14 usando uma escala analógica visual de 10 pontos. O desfecho primário foi a alteração na gravidade geral dos sintomas ao longo de 14 dias.
Nos resultados, dos 491 pacientes aleatoriamente designados para um grupo, 423 contribuíram com dados primários de desfecho. Destes, 341 (81%) tiveram infecção confirmada em laboratório com coronavírus 2 da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV-2) ou exposição epidemiologicamente vinculada a uma pessoa com infecção confirmada em laboratório; 56% (236 de 423) foram inscritos no prazo de 1 dia após o início dos sintomas. A mudança na gravidade dos sintomas ao longo de 14 dias não diferiu entre os grupos hidroxicloroquina e placebo (diferença na gravidade dos sintomas: relativa, 12%; absoluta, -0,27 pontos [IC 95%, -0,61 a 0,07 pontos]; P = 0,117). Aos 14 dias, 24% (49 de 201) dos participantes que receberam hidroxicloroquina apresentaram sintomas em andamento, em comparação com 30% (59 de 194) que receberam placebo (P = 0,21). Os efeitos adversos da medicação ocorreram em 43% (92 de 212) dos participantes que receberam hidroxicloroquina versus 22% (46 de 211) que receberam placebo (P <0,001). Com o placebo, ocorreram 10 hospitalizações (2 não relacionadas ao COVID-19), incluindo 1 óbito hospitalizado. Com a hidroxicloroquina, ocorreram 4 internações mais 1 óbito não hospitalizado (P = 0,29).
Após avaliação estatística dos resultados, os pesquisadores concluíram que a hidroxicloroquina não reduziu substancialmente a gravidade dos sintomas em pacientes ambulatoriais com COVID-19 leve e precoce.
Segundo os próprios autores, a principal limitação do estudo é a falta de infecção confirmada por SARS-CoV-2 em todos os participantes, embora os participantes tenham cumprido as definições de casos internacionais e norte-americanos do COVID-19.
O link para o texto completo do estudo pode ser encontrado AQUI.
Fonte: Annals of Internal Medicine. DOI: doi/10.7326/M20-4207.
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