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27 de março de 2020 (Bibliomed). Doenças pré-existentes podem aumentar o risco de contrair COVID-19? Três novos estudos indicam que essa é uma probabilidade que deve ser analisada cuidadosamente.
O primeiro estudo analisou a relação entre comorbidades distintas em 32 pacientes não sobreviventes em um grupo de 52 pacientes de uma unidade de terapia intensiva infectados pelo novo coronovírus (COVID-19). Liderado por Xiaobo Yang, o estudo identificou que as principais comorbidades nesse grupo foram doenças cerebrovasculares (22%) e diabetes (22%). Um segundo estudo envolveu 1.099 pacientes com COVID-19 confirmado, dos quais 173 tinham doença grave com comorbidades de hipertensão arterial (23,7%), diabetes mellitus (16,2%), doenças coronárias (5,8%) e doença cerebrovascular (2,3%). Já em um terceiro estudo, de 140 pacientes que foram admitidos no hospital com COVID-19, 30% tinham hipertensão e 12% tinham diabetes.
Notavelmente, as comorbidades mais frequentes relatadas nesses três estudos de pacientes com COVID-19 são frequentemente tratadas com inibidores da enzima de conversão da angiotensina (ECA); no entanto, o tratamento não foi avaliado em nenhum dos estudos.
Os coronavírus patogênicos humanos (coronavírus da síndrome respiratória aguda grave [SARS-CoV] e SARS-CoV-2) se ligam às células-alvo através da enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2), que é expressa pelas células epiteliais do pulmão, intestino, rim, e vasos sanguíneos. A expressão da ECA2 é substancialmente aumentada em pacientes com diabetes tipo 1 ou tipo 2, que são tratados com inibidores da ECA e bloqueadores dos receptores da angiotensina II tipo I (BRA).
A hipertensão também é tratada com inibidores da ECA e BRA, o que resulta em uma regulação positiva da ECA2. A ECA2 também pode ser aumentada por tiazolidinedionas e ibuprofeno. Esses dados sugerem que a expressão da ECA2 é aumentada no diabetes e o tratamento com inibidores da ECA e BRA aumenta a expressão da ECA2. Consequentemente, o aumento da expressão de ECA2 facilitaria a infecção por COVID-19. Portanto, supõe-se que o tratamento do diabetes e da hipertensão com medicamentos estimulantes da ECA2 possa aumentar o risco de desenvolver COVID-19 grave e fatal.
Se essa hipótese for confirmada, poderia levar a um conflito em relação ao tratamento, pois a ECA2 reduz a inflamação e tem sido sugerida como uma nova terapia potencial para doenças inflamatórias pulmonares, câncer, diabetes e hipertensão. Outro aspecto que deve ser investigado é a predisposição genética para um risco aumentado de infecção por SARS-CoV-2, que pode ser devido a polimorfismos da ECA2 que foram associados à diabetes mellitus, acidente vascular cerebral e hipertensão, especificamente em populações asiáticas. Resumindo essas informações, a sensibilidade de um indivíduo pode resultar de uma combinação de terapia e polimorfismo da ECA2.
Assim, os resultados de tais estudos sugerem que pacientes com doenças cardíacas, hipertensão ou diabetes, que são tratados com medicamentos que aumentam a ECA2, têm maior risco de infecção grave por COVID-19 e, portanto, devem ser monitorados quanto a medicamentos moduladores da ECA2, como inibidores da ECA ou ARBs. Ressalta-se que, com base em uma pesquisa no PubMed em 28 de fevereiro de 2020, não encontrou-se nenhuma evidência que sugira os bloqueadores anti-hipertensivos dos canais de cálcio aumentem a expressão ou atividade da ECA2; portanto, esses podem ser um tratamento alternativo adequado nesses pacientes.
FonteThe Lancet Respiratory Medicine. DOI: 10.1016 / S2213-2600 (20) 30116-8.
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