Artigos de saúde

Envelhecimento, saúde bucal e qualidade de vida na terceira idade

Marco Tulio Pettinato Pereira
Cirurgião-dentista com especialização em Saúde da família (UCAM), Saúde Coletiva (SL Mandic) e Saúde Pública (UNAERP)
marcotuliopettinatopereira@yahoo.com

O envelhecimento é a soma de todas as modificações que ocorrem no ser humano com o passar dos anos. É um processo biológico e que faz parte da vida: do nascer, do crescer, do viver plenamente, do involuir e morrer. Então, o envelhecimento sendo uma etapa natural da vida, deve como tal ser aceito. E isto pelo fato que envelhecer é uma verdade irrevogável, podendo ocorrer várias alterações, como aquelas na cavidade bucal, no paladar, na visão, no olfato, na audição, na capacidade de locomoção, na comunicação, etc.

Mas para envelhecer com saúde, é fundamental a prevenção. Prevenir significa impedir que algo aconteça, ou diminuir o risco de tal evento acontecer. A prevenção é um cuidado que tem o objetivo de ter um corpo físico isento de enfermidades. Vale sinalizar que a prevenção e a manutenção da saúde bucal é fundamental na saúde geral do indivíduo, não somente na terceira idade, mas em qualquer fase da vida, com o intuito da qualidade de vida. E a qualidade depende de toda transformação ocorrida ao longo dos anos, pois é um reflexo de como foi toda a história de vida.

Segundo várias pesquisas, infelizmente a saúde bucal da maioria dos idosos no Brasil apresenta um nível muito precário, com a falta de dentes (o chamado "edentulismo"), com a presença de doenças de gengiva, cáries, desgastes dentais, e outros problemas que acarretam em dificuldades para falar, mastigar, respirar e até sorrir. E isto tudo reflete em uma péssima qualidade de vida, que irá prejudicar o processo de envelhecimento.

Quando os indivíduos perdem os dentes, este triste fato terá um efeito negativo em diversas funcionalidades do corpo humano, dentre as quais, sobre a digestão, mastigação, pronúncia, gustação, aspecto estético e também poderá causar as doenças geriátricas sistêmicas. E dentre estas, as mais prevalentes nos idosos são: arteriosclerose, anemias, doenças do sistema nervoso central, diabetes, doenças genitourinárias e distúrbios gastrointestinais e respiratórios.

Na população de idosos podem ocorrer também as doenças bucais. Elas geram muita dor, sofrimento, frustações sociais e afetam seriamente a já naturalmente baixa qualidade de vida da grande maioria dos idosos brasileiros. Dentre as doenças bucais, temos a gengivite e a periodontite (doença periodontal). A Gengivite é causada pelo acúmulo de placa bacteriana sobre o tecido gengival. A Placa Bacteriana é uma película transparente que se forma sobre a superfície dos dentes e ao redor da linha das gengivas. Ela é composta por uma colônia de bactérias que decompõem o açúcar e os restos alimentares acumulados, produzindo ácidos que atacam os dentes e a gengiva. São sinais da gengivite: sangramento, inflamação gengival; mau hálito; gengivas avermelhadas, inchadas ou que se afastam dos dentes.

Um fato que pode ocorrer é que a chamada "placa bacteriana", com o tempo, poderá se mineralizar, formando o tártaro ou cálculo gengival. Juntos, a placa e o tártaro deslocam as gengivas através da destruição das fibras gengivais. Além disso, a estrutura óssea que sustenta o dente poderá se comprometer e, em longo prazo, poderá ocorrer a perda do elemento dental. Esse abalo da estrutura óssea é denominado de Periodontite. São sinais da Periodontite: inflamação persistente; reabsorção (perda) óssea; presença de bolsas periodontais; presença de pus; mau hálito; quase sempre é indolor (justamente por este motivo, não se percebe a destruição que está ocorrendo durante a periodontite. Só se percebe quando algum dente envolvido nesta condição começa a apresentar mobilidade, ou seja, quando o dente fica "mole").

Vale ressaltar que a Periodontite pode ser fator de risco, isto é, ser um dos fatores que ajudam a causar doenças, tais como: Osteoporose; Diabetes; Doenças respiratórias e Doença cardíaca (quem tem doença periodontal fica duas vezes mais susceptível a ter doença cardíaca).

Mas segundo a literatura científica, a gengivite e a periodontite são processos independentes, isto é, a gengivite não necessariamente evolui para uma periodontite. Além disso, o desenvolvimento da periodontite ocorre por um processo agudo, que pode ficar estável por um longo período ou apresentar melhoras (dependente de vários fatores). E mais: a periodontite não é a principal causa de perda dentária na população, pois a cárie é determinante neste sentido.

Para finalizar, é importante afirmar que tanto a gengivite quanto a periodontite são doenças que são passíveis de se evitar através de uma correta higienização e por meio de exames preventivos. A visita frequente ao dentista (mínimo de 6 em 6 meses), complementada com o médico, é imprescindível para se evitar a instalação ou progressão dessas e de outras doenças, além de ser importante para verificação da presença de cáries, de restaurações quebradas, verificação de dentes desgastados, a presença de tártaro, etc. O processo de envelhecimento é um fato, mas a saúde geral depende, dentre vários fatores, da história de vida de cada pessoa. Neste contexto, é fundamental que os idosos e também os cuidadores tenham o conhecimento dos métodos preventivos de saúde para que tenham uma excelente saúde bucal/geral e qualidade de vida.

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