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Depressão: Visões Diferentes do Mesmo Fenômeno

Neste Artigo:

- Aspectos Gerais e Dados
- Modelo Médico
- Modelo Psicanalítico
- Alternativas de Tratamento
- Drogas Anti-Depressivas
- Internação
- Psicoterapia
- Psicanálise

A depressão é um tema muito atual e de enorme incidência. Há muito tempo tem-se estudado a temática, havendo uma série de conceitos, compreensões e mesmo forma de tratamento que são sugeridas pelas diversas abordagens terapêuticas.

Aspectos Gerais e Dados

De acordo com dados do Hospital Santa Lúcia de Brasília, DF, depressão é uma doença que atinge, aproximadamente, 24 milhões de pessoas na América Latina e Caribe e tem seu início, geralmente, entre os quinze e vinte e quatro anos de idade. Para cada homem, há duas mulheres que sofrem da doença. Entre 40 e 60% dos casos de suicídio, há relação com a depressão. Outro dado interessante é que homens depressivos morrem quatro vezes mais por suicídio que mulheres. Finalmente, apenas um em cada quatro deprimidos procura ajuda.

A Unicamp (Universidade de Campinas) possui um programa sobre a temática da depressão, coordenado pelo Dr. Roosevelt Cassorla, professor do Departamento de Psiquiatria, que aponta que a doença é o grande problema do final do milênio e que atinge cerca de 6% da população, sendo a segunda maior causa de mortes, constando depois apenas dos acidentes automobilísticos.

Modelo Médico

Segundo informações médicas, a depressão é um problema relacionado à circulação dos neurotransmissores cerebrais. A depressão pode ser reativa a algum problema real, mas com o tempo vai se tornando física.

Regularmente há combinação de causas, destacando-se: predisposição genética; personalidade; reação a situações difíceis e frustrantes; reação a perda de ente querido; problemas financeiros, profissionais e sociais; reações ao parto; psicoses; abuso de medicamentos (Cortisona, Anfetaminas, Quimioterapia), Álcool e outras drogas; doenças físicas (Hipotireoidismo, Câncer, Reumatismo, Insuficiência Cardíaca, Infarto, Cirurgias, Aids); traumatismos cranianos; doenças cerebrais (Acidente Vascular Cerebral, Insuficiência Circulatória Cerebral, Alzheimer, Arteriosclerose, Esclerose Múltipla, Parkinson, tumores, Epilepsia, Aneurismas); Anemias e Hipovitaminoses.

Dentro de um modelo médico tradicional são apontados muitos sintomas da doença, destacando-se: desânimo, insônia, apatia, falta de vontade, pensamentos pessimistas, obsessivos, falta de concentração e memória, ansiedade, palpitações. Logicamente os sintomas podem variar bastante de caso para caso.

Modelo Psicanalítico

Desde que escreveu o seu principal artigo sobre a temática ("Luto e Melancolia", publicado no ano de 1917), Sigmund Freud, o pai da Psicanálise, deixou claro que se devem diferenciar alguns aspectos quando se procura uma compreensão das depressões, do ponto de vista da Psicanálise.

Diz Freud: "O luto, de modo geral, é a reação à perda de um ente querido, à perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como o país, a liberdade ou o ideal de alguém, e assim por diante. Em algumas pessoas, as mesmas influências produzem melancolia em vez de luto; por conseguinte, suspeitamos que essas pessoas possuem uma disposição patológica".

Dessa maneira, o autor esclarece que o luto, por mais intenso que seja, é uma condição normal da vida, assim não é algo patológico. Não deve ser submetido a um tratamento médico. O luto deve ser superado com o tempo, por mais difícil que isso possa ser. Já em relação à melancolia, o psicanalista aponta para traços bastante característicos: desânimo profundo, falta de interesse no mundo, perda da capacidade de amar, diminuição da auto-estima e comportamentos de auto-recriminação. Para diferenciar o luto da melancolia, Freud diz: "A perturbação da auto-estima está ausente no luto. Afora isso, porém, as características são as mesmas".

Considerando-se essa distinção, o psicanalista Fernando Falabella Tavares de Lima, Diretor Clínico do Núcleo de Estudos e Temas em Psicologia – Netpsi, de São Paulo, aponta que o afeto (libido) que havia sido destinado para o objeto amado, que deixou de existir, deve ser retirado dele e retornar para o próprio sujeito. "Para que esse caminho seja possível, cada lembrança que o sujeito possui, do seu objeto amado, deve ser muito investida de afeto, ou seja, as pessoas devem falar e se lembrar muito sobre o ente que se foi para que, dessa maneira, possa ir ocorrendo o desinvestimento", esclarece Fernando.

O que acontece no processo da melancolia é que o sujeito "não tem consciência do que foi perdido". Assim, como explica o psicólogo, "o melancólico perdeu um objeto e junto com ele perdeu parte de seu narcisismo. Ele se sente empobrecido, pois parte do seu ego foi perdida". É exatamente esse fator que determina o rebaixamento da auto-estima, no melancólico.

Segundo outra autora psicanalista, Melanie Klein, a agressividade da pessoa pode gerar culpa. Quando o sujeito sabe que está agredindo um "objeto total", que possui aspectos bons e maus, pode sentir-se culpado e responsabilizado pelo fato. Ao sentir-se culpado, pela sua conduta agressiva, o caminho leva à depressão. Conforme esclarece Hugo Bleichmar (no livro "Depressão, um estudo psicanalítico"), "O esquema kleiniano supõe, então, o seguinte encadeamento, que tem caráter de série casual, de maneira que: agressão determina culpa, e esta, depressão".

Considerando-se todos esses aspectos levantados, não há dúvidas para os especialistas na abordagem psicanalítica de que os quadros de melancolia interferem gravemente na vida da pessoa. Como todo o material envolvido na situação possui ligações inconscientes, isso interfere diretamente na capacidade de pensar logicamente, na memória, enfim, em todo o processo de raciocínio lógico da pessoa.

Alternativas de Tratamento

Segundo especialistas da Universidade de Campinas - Unicamp, a Depressão não é um sinal de fraqueza de caráter. Destacam que a pessoa com depressão geralmente está completamente indecisa com relação a tudo. Logo, alguém deve tomar as decisões por ela, inclusive para iniciar o tratamento.

Drogas Anti-Depressivas: São medicamentos que corrigem o metabolismo dos Neurotransmissores. Quase todos os antidepressivos precisam de três a seis semanas para fazer efeito, assim não se deve interromper o tratamento por não perceber melhora nos primeiros dias. Como forma de acelerar os ganhos dessas medicações, pode-se tratar com antidepressivos colocados no soro. Vale esclarecer que, algumas vezes, a primeira droga tentada não produz o efeito esperado. Porém, isso não significa que seja um caso mais grave. Na maioria das vezes é suficiente a troca da medicação.

Internação: Uma internação de poucos dias algumas vezes é indicada. Dessa maneira, uma pessoa que esteja indecisa quanto à adesão ao tratamento, ou quando o paciente e a família estão esgotados pela dificuldade da situação, ou ainda quando existe risco de suicídio, a alternativa de internação pode servir como uma defesa, como uma atitude protetora.

Psicoterapia: Até mesmo os médicos mais tradicionais acreditam que a psicoterapia possa ser útil, pois a depressão afeta a pessoa como um todo e quase nenhuma doença se restringe apenas ao seu aspecto físico. Aspectos da personalidade e problemas atuais ou passados podem estar relacionados à depressão. Contudo, a medicina afirma que se a depressão apresenta certo grau de intensidade, a medicação tem prioridade absoluta com relação à terapia. A Psicoterapia pode esperar para ser iniciada, mas a medicação não, pois as pesquisas indicam que quanto mais rápido o tratamento medicamentoso é iniciado maior é a chance de não se ter recaídas mais tarde.

Psicanálise: Do ponto de vista psicanalítico, o tratamento deve ser feito para os casos de melancolia. Em relação ao luto, como foi apontado anteriormente, "o próprio tempo é o melhor remédio", afirma Fernando Falabella. A melancolia é uma doença psíquica muito séria, deve ser trabalhada com bastante cuidado. Para a Psicanálise, a melancolia encontra-se próxima do campo das psicoses. Assim, o tratamento vai levar em conta todo o aspecto narcísico nela contido, dando-se escuta para todas as reclamações, os queixumes e as auto-acusações do sujeito e a própria depressão, com suas idéias suicidas. Por outro lado, como defesa frente à melancolia, podem surgir aspectos maníacos, que também fazem parte da sintomatologia. Segundo Fernando, "o melancólico apresenta muita ambivalência em relação ao objeto, assim, ele ama e odeia ao mesmo tempo. Todos esses aspectos devem ser abordados no tratamento psicanalítico desses quadros".

Copyright © 2000 eHealth Latin America           11 de Setembro de 2000