Artigos de saúde
Neste Artigo:
- Passos de tartaruga
- Desafios
- Descobrindo a Pólvora
- Hoje Eu Não Quero Conversa!
- O Patinho Feio
- Socorro, Acabou o Giz!
- Hei, Você, Vai Um Livro Aí?
- Como Lidar Com o Aluno Desatento
- 50 Dicas Para Administrar
o DA (déficit de atenção)
- Entrevista com Professor Trevor Cairney, Austrália
Em casa que falta livro, criança aprende a gostar de ler? Há uma distância entre ser
alfabetizado e estar predisposto e preparado para manter hábitos de leitura? Como essa
questão é vista aqui e em outros países? As soluções encontradas por uma professora
em Manaus, diante do mau humor infantil em sala de aula, também estão nesta reportagem.
Estas e outras idéias são discutidas aqui, abordando o tema da aprendizagem, da leitura
e da prontidão para a alfabetização. Você também vai encontrar aqui histórias de
crianças que eram tidas como problemas e as soluções que as escolas e os pais
encontraram. Um dos maiores problemas da aprendizagem, o DA (Déficit de Atenção)
também é enfocado, com várias dicas sobre como ajudar a criança. Ao final, a entrevista do Professor Trevor Cairney, um dos maiores
especialistas em pesquisas sobre literacia, aprendizagem e leitura nas escolas de Sydney,
Austrália.
"O futuro de uma nação está vinculado às habilidades de
seu povo. O conhecimento é o produto mais importante do mundo para o desenvolvimento
social e econômico".
Trevor Cairney
Leitura recomendada para pais, professores e comunidade.
Passos de Tartaruga
Mal acabam de nascer dos ovos enterrados na praia, as tartarugas marinhas, seres ainda
infinitamente pequenos, saem caminhando conforme podem suas pernas, sem que ninguém as
ensine, exatamente na direção do mar. Por milhares de anos, esta conduta tem se mantido
inalterada. Há algo impresso no cérebro da tartaruga que, de alguma maneira, contém as
'instruções' de para onde ir se quiserem continuar vivas, e principalmente de como
chegar lá. Algumas são capturadas por aves predadoras, no trajeto entre o ninho de onde
saíram e as águas do mar.
Para essas, devido à intervenção de um elemento externo, a jornada chegou ao fim.
Outras conseguem chegar ao destino, sem que ninguém as esteja guiando, simplesmente
levadas pelo instinto. Todas, porém, sabiam para onde deveriam ir. Enquanto isso, os
bebês humanos, desde o nascimento e até alguns anos à frente, permanecem onde estão. A
vida é garantida aos bebês pela proximidade dos pais, que os nutrem e agasalham. Mas,
para vencer os mesmos desafios das tartaruguinhas, esses bebês, quando atingem os 6 ou 7
anos, precisam também se empenhar numa corrida, a competição, que começa na escola.
Nessa corrida, a ave predadora que pode capturar aquele ser humano em desenvolvimento, num
futuro mais adiante, é o mercado de trabalho.
Preparar-se para o mercado de trabalho é tarefa que a criança, mesmo sem saber, começa
a ter que enfrentar e as primeiras dificuldades podem surgir no momento da
alfabetização. Uma pequena parte da população começa os preparativos para essa
corrida bem mais cedo, logo nos chamados prezinhos. Embora se fale muito em prontidão
para alfabetização, essas crianças, na verdade, têm os primeiros contatos com a
leitura sem passar por nenhum tipo de avaliação.
E de novo como as tartarugas marinhas, algumas vencem os primeiros passos da corrida e
espontaneamente respondem bem aos números e letras que lhes são apresentados. Elas
memorizam, repetem, alfabetizam-se. Desse grupo, um outro grupo menor continua a corrida
mais além, interessando-se pelos livros infantis. São estes, quem sabe, os que no futuro
estarão de alguma forma preparados para chegar ao mar de indivíduos que o mercado de
trabalho absorve, para o que precisarão ainda, por vários anos, contar com o apoio dos
pais.
Desafios
De outro lado, há aquelas crianças que não conseguem superar os desafios impostos pela
comunidade. Nas reuniões de pais e mestres da Escola Estadual Gustavo Marcondes, em
Campinas, Estado de São Paulo, quatro casos foram considerados delicados e sem solução
aparente alguns anos atrás, até que foram esclarecidos.
Elisa, uma garota que os professores entendiam como tendo uma acentuada deficiência de
aprendizagem, vivia doente e faltava muito. Ela não conseguia fazer as lições, ia mal
nos ditados e acabava chorando toda vez que era chamada para ler em voz alta na classe.
Repetiu de ano duas vezes seguidas, passou para a série seguinte e, logo depois, repetiu
outra vez.
Jorge, um menino que vivia distraído e não trazia os deveres como eram pedidos. Também
tinha notas baixas, sofria brincadeiras dos colegas porque não entendia as questões
colocadas pela professora e não ia bem na leitura, chegando a um ponto em que nem mesmo
era chamado para ler, para não causar mais problemas ao rendimento da classe.
Gustavo, por sua vez, subia nas carteiras enquanto a professora estava de costas,
escrevendo na lousa, ou desaparecia da classe. Ninguém sabia ao certo o que atormentava o
garoto, mas os resultados eram visíveis em seu caderno, que parecia um destroço de
aeronave, com uma ou outra folha rabiscada com garatujas indecifráveis. Toda vez que era
chamado para ler, pedia para ir ao banheiro.
Mariana era aplicada, mas mesmo assim seu rendimento estava sempre bem abaixo da média.
Gaguejava na hora da leitura e, mesmo de olhos fixos no quadro, muitas vezes não
conseguia copiar a matéria. Era considerada como tendo um leve retardo mental, embora
todos na escola evitassem falar abertamente no assunto.
Descobrindo a Pólvora
Depois de algumas reuniões, onde os pais foram chamados, a escola conseguiu chegar a um
esclarecimento sobre as crianças. Elisa era filha de pais que viveram na roça, juntaram
alguns recursos e vieram para a cidade grande, onde forneciam marmitas para caminhoneiros.
Eram pais extremamente dedicados, porém a escola constatou um fato curioso: na casa de
Elisa, ninguém sabia ler ou escrever.
A menina, desde pequena, fazia com precisão todos os serviços domésticos, chegando a
cozinhar muito bem. Mas na casa não havia um único livro, exceto a Bíblia, que a mãe
de Elisa usava todos os dias. Descobriu-se que Elisa não tinha nenhuma deficiência de
aprendizagem, exceto um obstáculo: a menina não tinha motivação para aprender. No
ambiente doméstico, era incentivada a se tornar uma exímia dona de casa e a evitar
qualquer tipo de leitura que, segundo os pais, era coisa do demo. Dividida entre dois
mundos, Elisa optou por aquele que lhe dava segurança e retorno imediatos, aprendendo
desde cedo que a leitura era um hábito que deveria evitar.
O alheamento de Jorge foi detectado como sendo falta de atenção. Jorge passava o tempo
na escola como se estivesse solto no mundo. Em conversa com os pais, a escola constatou
que ele ficava a maior parte do tempo sozinho, quando retornava à casa, pois os pais
trabalhavam fora. Jorge tinha, então, uma vaga ansiedade, uma sensação de perda
iminente, pois em sua imaginação ele nunca sabia se a porta ia se abrir e se os pais iam
voltar, segundo eles mesmos relataram. Os professores descobriram que Jorge se acomodou em
um mundo à parte, indo à escola apenas para não ficar absolutamente sozinho.
Gustavo era um menino hiperativo. Sua predisposição para ficar sentado, em uma atitude
concentrada de leitura, era zero. Em conversa com o pai, este falou de passagem que
Gustavo só se saía bem no jogo de bola, no campinho perto de sua casa. Foi dado a
Gustavo o papel de auxiliar de monitor nas aulas de ginástica e, poucos meses depois,
suas respostas ante a questão da aprendizagem e da leitura mostraram visíveis sinais de
mudança.
E em Mariana, depois de algumas observações e de uma consulta médica, foi constatado um
princípio de miopia. Considerada antes uma criança 'atrasada', ela passou a acompanhar
as aulas sem problemas, chegando a surpreender, depois de se adaptar com o uso dos
óculos.
O que essas crianças da Escola Gustavo Marcondes tinham em comum não era nenhuma
deficiência de aprendizagem, mas sim, problemas individuais paralelos que, a exemplo das
tartaruguinhas mais frágeis, as estavam afastando do mar, ou seja, do objetivo que era
esperado delas. Revelado em tempo cada um dos problemas das crianças, elas puderam
acompanhar o restante da classe.
Essas questões individuais, falta de atenção, falta de motivação, hiperatividade,
deficiências físicas tais como deficiência motora, deficiência de visão ou de fala,
além das deficiências vitamínicas e alimentares das crianças que, em geral, têm na
merenda sua única refeição do dia, são os problemas mais comuns que se refletem na
aprendizagem. Há também as questões emocionais e as questões sociais, e nesse ponto
também professores e pais devem ficar atentos.
Hoje Eu Não Quero Conversa!
A resposta insuficiente a um estímulo de aprendizagem pode estar baseada no humor das
crianças. Hoje, um número considerável de crianças, principalmente pela excessiva
carga de missões impossíveis impostas pelos pais, tais como aulas extras de inglês,
informática, desenho, matemática, todas sobrepostas, levam as crianças ao mesmo stress
e à mesma síndrome de pânico que sofrem os pais. Elas não têm outra alternativa
senão acertar e o fracasso é, muitas vezes, punido de forma que a criança pode ter a
sensação de impotência, antes mesmo da idade adulta.
Há também crianças que desde cedo sofrem de mau humor, que pode ser acentuado pela
alimentação inadequada, que leva a falta de determinadas vitaminas, ou à falta do tempo
exato de sono (maior na criança que no adulto) que elas precisam para recobrar a energia.
Detectar um problema emocional é importante para resolver dificuldades de aprendizagem.
Ana Clair, uma manauense atenta ao desenvolvimento dos filhos, conta como a intervenção
do professor pode ser importante, embora ela mesma admita que a escola não é um espaço
terapêutico. Ela relata: "Penso que, apesar da precariedade de alguns espaços
pedagógicos, o professor ainda é um personagem importante e também acredito que é
importante o professor detectar possíveis problemas que os alunos trazem para a sala de
aula. Achei interessante a experiência da professora de primeira série de um dos meus
filhos, em Manaus, que no mural da sala de aula colocou várias carinhas expressando
estados emocionais, como: alegre, triste, cansado, raivoso, etc. Ao chegarem, as crianças
colocavam seus nomes nas carinhas correspondentes ao que estavam sentindo e podiam falar
(ou não) sobre o que estavam sentindo."
"Na verdade", conta Ana, "a professora proporcionou um espaço para que as
crianças pudessem falar de seus sentimentos (caso quisessem) e seriam escutadas tanto
pela professora, quanto pelos colegas, ou seja, através desse espaço de escuta podiam
dar algum sentido para o que estavam sentindo".
"Considerando que a professora também era estudante de psicologia", continua
Ana Clair, "penso que esse espaço teve também um caráter terapêutico, que
auxiliou no processo ensino-aprendizagem". "Por outro lado", diz,
"acredito que seria complicado a um professor, que não tivesse nenhum respaldo
teórico, possibilitar a emergência de problemas emocionais dos alunos, ainda mais a
partir de um dispositivo externo" pondera. No seu raciocínio, neste caso, os alunos
poderiam ser induzidos por um professor despreparado a se identificarem com emoções que
não fossem suas realmente. "Isto é, como o professor faria para 'trabalhar' os
transtornos emocionais dos alunos?", pergunta. Ela considera ainda que, por mais
tênues que sejam as fronteiras entre o saber da psicologia escolar e o saber da
pedagogia, é necessário que cada um reconheça os limites e o espaço do outro.
O Patinho Feio
Com os padrões de beleza sendo mais exigentes e mais veiculados pela mídia, e também
pela própria fase de crescimento, quase a totalidade das crianças desde cedo sofre da
síndrome do patinho feio, do medo da rejeição. A violência também colabora para
tornar as crianças inseguras e, diante do medo, as reações são geralmente agressivas.
Embora esse comportamento seja mais realçado no pátio ou fora da escola, ele se reflete
em muito dentro da sala de aula. A discriminação do aluno pelos colegas - por raça,
condição social, doença, as gozações, a falta de delicadeza e de respeito pelo outro
que caracteriza as gerações que chegam, além do problema das drogas que ronda os
portões escolares - isso tudo contribui para que a aprendizagem seja prejudicada.
As escolas de maiores recursos mantêm um orientador educacional e, quando em geral por
mau comportamento, a criança é levada até ele, com alguma sorte e com muita
sensibilidade o orientador pode descobrir porque aquele menino ou aquela menina não está
se dando bem com o conteúdo que deveria aprender.
Socorro, Acabou o Giz!
Por outro lado, os professores das escolas estaduais se queixam do número excessivo de
alunos em uma sala de aula que, em alguns casos, chega a 45 ou mais. Eles também alegam
que carecem de material didático adequado e de material de apoio. Sem oportunidade de se
reciclarem, muitas vezes ligam para o pai perguntando o que a escola deve fazer com a
criança, sinal evidente que, mesmo a escola encontrando sempre os mesmos problemas, ainda
não adotou nenhum mecanismo de prevenção. Com o advento da Internet, o conteúdo dado
ao aluno é defasado em relação à sua realidade, pois o computador já é um aparelho
facilmente encontrado nas casas, e as crianças, movidas pela rapidez e pelo colorido das
imagens, são as primeiras a serem cativadas por eles.
Em face dos inúmeros desafios da profissão, o professor muitas vezes chega à escola
desmotivado e a simples falta de giz acaba com a boa intenção de dar um ponto novo aos
alunos de uma maneira mais criativa. A falta de um material simples pode ser a gota
d'água para frustrações acumuladas ao longo dos dias, e isso impede o professor de
olhar atentamente para seus alunos e verificar quem tem e quem não tem problemas de
aprendizagem.
Por parte dos pais, as dificuldades em acompanhar o desenvolvimento escolar do filho e o
contexto familiar indiferente ou antagônico à questão de instrução escolar podem
significar muito, também, no leitor adulto que o filho será em breve.
Hei, Você, Vai Um Livro Aí ?
"A cena se passa em uma movimentada rua comercial de São Paulo. Crianças, homens e
mulheres disputam livros a tapas, que são vendidos a preço de banana pelos camelôs. Ao
longo da rua e nas demais ruas do bairro há também pequeninas portas e becos onde
funcionam livrarias por toda a parte. Mais à frente há um mercado de trocas de livros,
ladeado por alguns sebos onde se encontra de tudo. E uma praça com bancos cobertos, onde
as pessoas conseguem, com alguma dificuldade, um lugar para ler sossegadamente.
O livro, de repente, virou mania nacional. A alguns metros dali, nos shopping centers, as
cenas se repetem. Cafés com jornais, livros e revistas de vários países são a única
coisa capaz de atrair um público exigente, que só circula pelos corredores com um livro
nas mãos. As livrarias convencionais e as "mega stores" se revezam nas promoções e a fila
nos caixas é considerável. Nas esquinas, homens de negócios se reúnem para discutir um
texto de Machado de Assis, um Gil Vicente, uma nova tradução do Fausto, de Goethe. Mais
à frente, grupos de adolescentes preenchem cupons concorrendo a livros como prêmios.
Pelas pesquisas, pelo menos dois terços da população não vai para a cama sem antes
devorar páginas e páginas de livros...".
Mas estas não são cenas reais. São trechos da sinopse de um roteiro da escritora Julia
Miranda, devidamente registrado, porém inédito, que talvez não venha a ser alvo do
interesse de nenhum produtor de cinema ou TV. Isto porque um dos personagens principais, o
livro, não está em seu apogeu social, como quer o roteiro. Livrarias estão fechando as
portas, os livros estão cada vez mais caros e isso torna ainda mais impraticável o
hábito de leitura.
Os dados, porém, não são desanimadores apenas para o Brasil. Outros países, como
Portugal, têm a mesma preocupação e começam a perceber que o ambiente propício à
leitura, a intimidade com o livro e o próprio hábito de leitura estão comprometidos.
Segundo José Oliveira, editor de O Militante, em Portugal, a informação e a cultura
devem ser reconhecidas como um direito democrático e como uma necessidade nacional.
Para Maria da Conceição Rolo, coordenadora de práticas e projetos de educação em
Lisboa, Portugal, o papel secundário hoje dado ao livro não é um bom indício. Ela
relata: "Um relacionamento forte e precoce com a leitura é considerado hoje um fator
de importância capital para a interiorização de hábitos de leitura".
Já na Austrália, o panorama sofre variações para melhor. A preocupação, desde a
infância, com a prontidão para alfabetização, com a participação interativa dos pais
nos primeiros contatos da criança com o livro, tudo isso é bastante incentivado pelos
programas educacionais australianos.
José de Oliveira afirma que "o livro tem uma dignidade específica que não é
redutível a um simples veículo de informação. Além de também continuar a ser um
importantíssimo veículo de informação, o livro é o único suporte da literatura,
forma de arte e modo de afirmação da identidade cultural de um povo". O editor
português conclui: "Neste momento em que se anuncia o advento da chamada
"sociedade da informação" é importante reafirmar o livro".
O livro está intimamente ligado aos hábitos de leitura, que por sua vez, segundo José
de Oliveira, são mais acentuados em filhos de pais leitores. E para que as pessoas criem
o hábito de leitura, não basta ser alfabetizado. Por isso, afirma ele, ao conceito de
alfabetização, prefere-se hoje em dia falar no conceito de 'literacia'.
A palavra 'literacia', ainda não tão comum no Brasil, em linhas gerais abrange desde a
prontidão para a alfabetização até a alfabetização em si, um maior nível de
instrução que predisponha o indivíduo a ler espontaneamente, pois, como afirma José de
Oliveira, "a simples decifração não basta, é necessário ser capaz de apreender e
utilizar a informação escrita".
A literacia, definida pelos estudiosos portugueses como "as capacidades de
processamento da informação na vida cotidiana" está presente no Estudo Nacional de
Literacia, conduzido por Ana Benavente e outros. Em 1996, examinou uma população de 15 a
64 anos e definiu vários níveis de literacia, de acordo com a capacidade de resolução
de determinadas tarefas. A aprendizagem e a literacia também são assunto de várias
pesquisas do Professor Trevor Cairney, na Austrália (veja
entrevista neste site).
Como Lidar Com o Aluno Desatento
O déficit de atenção em sala de aula, conhecido por DA (déficit de atenção) é
motivo de estudos de Edward M. Hallowell e John J. Ratey, do CH ADD National Office. Uma
tradução de 50 dicas para administrar o problema foi publicada pela revista
Pró-Educação, em novembro de 1999. Acompanhe abaixo um resumo deste material:
50 dicas para
administrar o DA (déficit de atenção)
01. Antes de tudo, tenha a certeza de que o problema é realmente DA. Elimine primeiro as
hipóteses de problemas de audição e visão, ou outro problema médico, conversando com
os pais e com a criança.
02. Prepare-se para suportar. Ser professor em uma sala de aula com duas ou três
crianças com DA é cansativo. Busque apoio da escola e dos pais e tenha por perto um
psicólogo, pedagogo, pediatra ou outro a quem consultar.
03. Um professor não é especialista em DA. Conheça seus limites e não hesite em pedir
ajuda quando necessário.
04. Sozinho com a criança, conte a ela o que é DA e pergunte-lhe o que pode ajudar. As
crianças são muito intuitivas e ela mesma poderá ter a resposta que procura. Sua
opinião deve ser levada em conta, pois ela é quem mais sabe como aprende melhor ou não.
05. Faça listas. Elas precisam consultar o que estão fazendo para não se perderem,
precisam ser lembradas, precisam de previsões e de repetições. Elas também necessitam
de diretrizes e de limites.
06. Considere a parte emocional do aprendizado, pois a criança precisa de apoio especial
para encontrar prazer na sala de aula. Domínio, ao invés de falhas e frustrações.
Excitação, ao invés de tédio e medo.
07. Estabeleça regras fáceis e por escrito. A criança se sente segura sabendo o que é
esperado dela.
08. Repita as diretrizes, fale sobre elas, repita outra vez. Pessoas com DA precisam ouvir
as coisas mais vezes.
09. Olhe bem nos seus olhos. Isso a tirará do seu devaneio e também lhe dará
segurança.
10. Coloque a criança sentada o mais próximo possível de você.
11. Estabeleça limites devagar, com calma, não de modo punitivo. Seja firme e fale pouco
e honestamente.
12. Tente prever. Coloque o plano à vista da criança e avise-a de mudanças, se forem
acontecer.
13. Ajude a criança a fazer sua programação para depois da aula, esforçando-se para
evitar seu hábito de adiar as tarefas.
14. Elimine ou reduza a frequência dos testes de tempo, que não possibilitam à criança
com DA mostrar o que sabe.
15. Propicie uma válvula de escape, deixando-a sair da sala por alguns minutos.
16. Busque a qualidade em vez das quantidades nos serviços de casa.
17. Monitore e dê à criança retornos sobre seu desempenho.
18. Dividir grandes tarefas em tarefas menores é uma das principais formas de ajudar a
criança, nos casos de DA.
19. Permita-se brincar, divertir, ser extravagante. Crianças com DA adoram novidades e
reagem com entusiasmo. Se se fizer de bobo, isso ajuda muito porque ela não o achará um
chato.
20. Vá até certo ponto na estimulação, e não mais além. Prevenir é o melhor para se
lidar com o caos na sala de aula.
21. Elogie, pois estas crianças já convivem com o fracasso. Elas adoram ser encorajadas
e isso ajuda muito na auto-estima.
22. Trabalhe com a memória, ensinando coisas como rimas, lembretes, códigos fáceis de
serem decorados e lembrados.
23. Use resumo, ensine resumido, sem profundidade. Isso dá à criança a sensação de
domínio durante o processo de aprendizagem, e não a sensação de que aquilo tudo é
desnecessário.
24. Avise antes sobre o que vai falar, então fale. Depois fale sobre o que falou.
Crianças com DA aprendem melhor visualmente do que com voz, então escreva enquanto fala.
25. Dê instruções simples e opções simples, para prender a atenção.
26. Ensine-a a se auto-observar, fazendo perguntas: Você sabe o que fez? Como acha que
poderia ter dito aquilo de outro jeito? O que acha que a garota sentiu quando você falou
isso?
27. Mostre abertamente suas expectativas.
28. Muitas crianças com DA são pequenos empreendedores e respondem muito bem a
recompensas e incentivos.
29. Elas são vistas como egocêntricas, quando na verdade não sabem como agir. Diga, por
exemplo, "antes de contar a história, ouça a dos outros e olhe para a pessoa com
quem estiver falando".
30. Aplique testes de habilidades.
31. Faça a criança se sentir envolvida nas coisas. Isso vai motivá-la bastante.
32. Separe pares ou trios de crianças que não se dão muito bem juntas.
33. Atente para a integração. Essas crianças precisam se sentir enturmadas, é quando
elas se motivam.
34. Sempre que possível, devolva as responsabilidades à criança.
35. Experimente um caderno 'escola - casa - escola' para comunicação com os pais, que
garante um retorno.
36. Tente utilizar relatórios diários de avaliação.
37. Incentive a auto-avaliação, inclusive nos intervalos e no fim da aula.
38. Prepare-se para imprevistos, o que pode evitar inquietações.
39. Elogie, seja firme, aprove, encoraje e seja amoroso.
40. Faça a criança escrever notas para si mesma, para lembrar depois.
41. Escrever à mão é muitas vezes difícil para essas crianças. Ensine-as, por
exemplo, a usar teclados, faça ditados, aplique testes orais.
42. Seja como um maestro, tendo a atenção da orquestra antes de começar.
43. Sempre que possível, prepare para cada aluno um 'companheiro de estudo' para cada
tema, se possível com o número do telefone.
44. Explique e dê o tratamento normal, evitando o estigma.
45. Reuna-se com os pais mais vezes e não apenas para resolver crises ou problemas.
46. Incentive a leitura em voz alta, em casa e na sala de aula. Faça a criança recontar
histórias. Ajude-a falar por tópicos.
47. Repetir, repetir, repetir.
48. Exercícios físicos, ginásticas, um dos melhores tratamentos para DA, adultos ou
crianças. Ajudam a liberar excesso de energia, ajudam na concentração da atenção.
Assegure-se de que sejam divertidos.
49. É melhor que a criança já saiba o que vai ser discutido naquele dia.
50. Esteja atento às dicas do momento. Essas crianças são mais talentosas e artísticas
do que parecem. São cheias de criatividade, alegria, espontaneidade e bom humor. Tendem a
ser resistentes, sempre agarradas ao passado. São generosas de espírito, felizes em
poder ajudar alguém e sempre têm algo de especial que engrandece as coisas com que
estão envolvidas. Lembre-se de que no meio do barulho existe uma sinfonia, uma sinfonia
que precisa ser escrita.
Fonte: Revista Pró-Educação, ano II, Edição 10, out/nov 1999, São
Paulo- SP
Entrevista com Professor Trevor Cairney, Australia
O Pro Vice Chanceler, Pesquisa - Professor Trevor Cairney da University of Wester Sydney
Nepean concedeu entrevista exclusiva ao site Boa Saúde, transcrita abaixo. O Professor
Cairney é autor de Beyond Tokenism (token - uma lembrança, um símbolo), que conta sobre
as pesquisas e as descobertas feitas em escolas australianas, entre outros livros. Ele
possui mais de dez livros escritos, além de ensaios e outras publicações (veja em anexo
um resumo da suas obras publicadas).
Entrevista
Boa Saúde: Ao longo de sua vida, o que o motivou a pesquisar sobre
crianças com problemas de aprendizado e literacia?
T.Cairney: Uma preocupação com justiça e igualdade. Sempre fui
impulsionado por um desejo de ver crianças tendo oportunidades iguais para a educação e
para a vida.
Boa Saúde: Quais são os três maiores problemas que uma criança
enfrenta na escola, que com que ela não aprenda como o esperado?
T.Cairney: 1) Recursos insuficientes dentro do lar e em sua comunidade
para prover sua educação; 2) Inabilidade das escolas em responder à diversidade
cultural e de linguagem dos estudantes; 3) A qualidade das oportunidades educacionais
oferecidas.
Boa Saúde: O senhor poderia dizer quais os melhores países na
condução da aprendizagem e quais os piores? Por que?
T.Cairney: Eu não poderia afirmar. Acredito que há muitos bons
professores em todos os países, os quais aprendem a trabalhar com os recursos que ali
existem.
Boa Saúde: Podemos dizer que os conteúdos dados às crianças na escola
estão realmente ligados às suas vidas e às suas profissões no futuro?
T.Cairney: Este é um dos maiores desafios para as escolas. Nossas
pesquisas mostram que, às vezes, não há um bom casamento entre as práticas de
linguagem e de literacia do lar, da escola e da comunidade. Portanto, há espaço para que
as escolas respondam mais adequadamente às necessidades de preparar os estudantes para um
aprendizado de longa duração.
Boa Saúde: Se um professor chegasse até o senhor e sinceramente
pedisse: "Diga-me qual é o segredo de ensinar às crianças", o que o senhor
lhe diria?
T.Cairney: Entenda suas necessidades, tenha um interesse genuíno por
elas, mostre a elas que você as respeita e quer vê-las aprendendo; então, crie um
ambiente em classe que reconheça o que elas trazem consigo de casa e da comunidade, e
tente apoiá-las enquanto aprendizes ativos e equipe-as e fortaleça-as para poderem
aprender.
Boa Saúde: Qual a relação da instrução de um povo com sua
capacidade de desenvolver-se em um ambiente cada vez mais globalizado?
T.Cairney: O futuro de uma nação está vinculado às habilidades de seu
povo. O conhecimento é o produto mais importante do mundo para o desenvolvimento social e
econômico.
Boa Saúde: Na Austrália, qual é a escola que mais o tocou durante suas
pesquisas e por quê?
T.Cairney: Muitas escolas nos subúrbios mais carentes de Sydney, que
estão tentando atingir suas comunidades e responder às diversas necessidades que elas
têm.
Boa Saúde: O que o senhor diria a um pai cujo filho simplesmente não se
interessa em freqüentar a escola?
T.Cairney: Ame-o, passe o tempo com ele, engaje-se com ele em seus
trabalhos da escola, saiba o que ele vivencia na escola e converse sobre isso diariamente.
Seja envolvido na vida de seu filho!
Boa Saúde: Existe alguma conexão entre 'conhecimento' e 'felicidade'?
T.Cairney: Difícil pergunta. Às vezes sim, pois o conhecimento conduz
ao poder e a oportunidades de assumir um maior controle sobre sua vida.
Boa Saúde: Professor Cairney, apenas para concluir e situar nossos
leitores: poderia dizer onde exatamente fica Nepean? É um bairro de Sydney?
T.Cairney: Nepean é o nome de um distrito dentro da cidade de Sydney. É
assim chamado por causa de um grande rio (o Nepean), que atravessa o distrito.
Livros publicados por T. Cairney
Ingle, R. & Cairney, T.H. (1983) Write-on-Books, Sydney: Holt-Saunders, (author)
Cairney, T.H. (1983) Balancing the basics: A handbook for teaching of reading, Sydney:
Ashton Scholastic (author). Sales in UK, USA, Canada, New Zealand and Australia. Cairney,
T.H. (1990) Balancing the basics (2nd Edition) Sydney: Ashton Scholastic (author)
Cairney, T.H. (1990) Other Worlds: The endless possibilities of literature, Melbourne:
Nelson (author)
Cairney, T.H. (1990) Teaching reading comprehension: Meaning makers at work, Milton Keynes
(UK): Open University Press (author)
Cairney, T.H. (1991) Teaching reading comprehension: Meaning makers at work (Spanish
Edition), (author) (Sales of approximately 3,000 in Spain, Central and South America).
Still in print and on sale.
Cairney, T.H. (1991) Other Worlds: The endless possibilities of literature, Portsmouth
(NH): Heinemann (Modified US edition) (author)
Cairney, T.H. & Munsie, L. (1992) Beyond Tokenism: Parents as Partners in Literacy,
Melbourne: ARA (author)
Cairney, T.H. (1995) Pathways to Literacy. London: Cassell. ISBN 0-304-32723-9.
(author).
Cairney, T.H. & Munsie, L. (1995) Beyond Tokenism: Parents as Partners in Literacy,
Portsmouth (NH): Heinemann (author) (US edition).
Prof. Trevor Cairney publicou também vários relatórios de pesquisas, ensaios e outras
matérias.
Copyright © 2000 eHealth Latin America 28 de Agosto de 2000
Veja também