Artigos de saúde
Entrevista: Prof. Ésio dos Reis Filho, psiquiatra e psicanalista, professor do
curso "Formação em Psicanálise" do Instituto Sedes Sapientiae, responsável
pelo seminário de Histerias, Angústia e Conversão, fala ao BoaSaúde sobre as Fobias,
suas causas, sintomas e possibilidades de tratamento.
BoaSaúde: O que é fobia?
Ésio: Em primeiro lugar, a fobia, na verdade, não é uma entidade nosológica,
quer dizer, não é uma doença. É um sintoma que pode aparecer em várias doenças
mentais. Um quadro psicótico, ou depressivo, ou neurótico, podem apresentar, como
sintoma, uma fobia. Resumidamente, a fobia é um medo de alguma coisa deslocado para um
medo de outra coisa. É uma angústia relativa a uma situação difícil da cabeça lidar.
A cabeça desloca a angústia dessa situação para uma outra que, aparentemente, não tem
nada a ver. Por exemplo, tem gente que tem pânico de entrar no elevador. Por quê?
Elevador é perigoso? Pode até ser, mas não tem gente morrendo o tempo todo por cair de
elevador. O medo de elevador, portanto, não é razoável, não é lógico, não é
coerente. Por quê essa pessoa tem esse medo? Não tem nada a ver com o elevador
propriamente dito. Têm a ver com o espaço fechado, trancado, e com algum outro medo da
história psicológica dessa pessoa, do seu desenvolvimento psíquico, relacionado com se
sentir fechado, trancado, isolado, desamparado, sozinho. Este tipo de medo está deslocado
para a situação do elevador. Qualquer fobia é sempre assim: um medo que está inserido
na história psíquica dessa pessoa, no desenvolvimento psíquico dela, das angústias que
ela passou durante o seu desenvolvimento, que a sua cabeça não conseguiu elaborar. Esse
medo está lá, de prontidão. A pessoa precisa eleger um determinado objeto ou situação
para responsabilizar por esse medo.
BoaSaúde: As pessoas costumam relacionar muito as fobias com os traumas. Isso é verdade?
Ésio: Vamos reformular um pouquinho a idéia do trauma. Existe, em termos
leigos, a idéia de que os problemas psicológicos são causados por traumas. Na verdade,
não existe bem um trauma, o importante não é pensar numa coisa que aconteceu, mas nas
dificuldades que esta pessoa foi tendo no desenvolvimento da sua personalidade para se
constituir como sujeito. Essa série de dificuldades é que vai gerar angústias. E são
essas angústias que são passadas para uma determinada situação. Então não dá para
pensar em um trauma, mas numa sucessão de traumas, de questões ou de problemas.
BoaSaúde: Um exemplo: uma pessoa tem um medo que irracional de baratas. Quando
criança, seu irmão mais velho lhe presenteava com baratas empacotadas em caixinhas de
fósforos bem enfeitadas. Ela, toda feliz, ao abrir o presente, encontrava uma barata.
Daí para frente, odeia baratas, tem sudorese quando as vê, não dorme à noite com medo
que elas subam à sua cama. O medo aparentemente tem a ver com o trauma vivido, uma causa
direta, bem fácil. O senhor diria que isso não costuma ser dessa maneira?
Ésio: Não. Por que nem todas as pessoas que ganham baratas em caixinhas de
presente tem fobia de baratas depois. Por alguma coisa da dinâmica psíquica dela, ela
elegeu a barata como objeto fóbico. Ela escolheu esse elemento e não outro. Talvez, se
tivesse tido um vizinho que tivesse um cachorro bravo, tivesse escolhido o cachorro. Eu
tenho uma tia que tem pânico de gatinho, pequenininho. Qualquer filhote, gatinho,
cachorrinho, coelhinho. Se o bicho for grande, não tem problema, mas se for pequenininho,
ela tem pânico, sobe em cima da mesa. Então, gato por que? Porque esse desespero é
originário em alguma outra coisa que desespera mesmo, de verdade. Só que como ela não
tem coragem de lidar com esse desespero, aonde ele é originário, que é muito mais
sério, a cabeça dela arruma um mecanismo de defesa e desloca para o gatinho. E é fácil
dar conta do medo de gatinho, é só não ir onde eles estão, evitar...
BoaSaúde: A pessoa encontra uma forma socialmente aceita, fácil de lidar, para
lidar com esse seu medo irracional?
Ésio: Isso, para dar conta do medo irracional se for o gatinho. Mas, se for
restabelecida a conexão originária dele, ele não é mais irracional. Aí ela está
muito certa de ter o medo, pois deve ser alguma coisa muito angustiante em relação ao eu
dela mesmo, a parte psicológica dela. Aí está certo ter medo...
BoaSaúde: E onde a gente determina que essa pessoa precisa de tratamento, por
exemplo? Qual é o limite entre o medo comum e a doença fobia?
Ésio: Se a fobia resolvesse o problema seria ótimo. Eu desloquei meu medo
originário para camelos, por exemplo. Fobia de camelos é uma delícia, eu nunca vou
encontrar um. É só não ir para o zoológico. Ou seja, a minha angústia está
resolvida, eu me livrei dela. Mas isso não funciona assim. O que ocorre é que a pessoa
desloca a gênese da angústia para uma situação que está próxima dela: baratas,
ratos, gatinhos, elevadores...nunca camelos. Quanto mais a situação for angustiante,
mais próxima dela vai ser o elemento para o qual ela desloca o seu medo. Por que se for
uma angústia muito levezinha, ela pode até deslocar para elefantes, com que nunca vai
ter contato, mas também ela não precisa lidar com a angústia, pois ela é muito pouco
significativa. Agora, se for uma angústia muito presente e ela precisar estar lidando com
isso o tempo inteiro, então vai deslocá-la para alguma coisa muito próxima de si, e vai
ter que dar conta disso o tempo todo.
Eu tinha uma amiga, por exemplo, que tinha fobia de pena caindo. Uma pena, branquinha,
levezinha, bonitinha que tivesse flutuando, ela entrava num pânico tão grande que
precisava berrar. Mas era só medo de pena caindo, então tudo bem. Ela vivia muito bem,
tranqüila, satisfeita, e a fobia não foi se estendendo, de tal forma que essa era a
esquisitice dela. Ninguém falava: vai se tratar. Não, ela era assim, tinha medo de pena
caindo. Era uma pessoa que além de ser loira, de ter olhos de uma cor, de ser desta
altura, tinha medo de pena caindo. Era uma característica a mais, da personalidade dela,
o jeito dela ser. E a comunidade aceitava como tal, ela ia tocando a vida dela sem
precisar se tratar.
BoaSaúde: E as fobias crescem?
Ésio: Sim. Temos o caso célebre do Hans, estudado por Freud: a fobia do pequeno
Hans, o menino que tinha fobia de cavalo. Ele começa com fobia de cavalos, depois do
lugar onde ficam os cavalos, depois a fobia se estende para qualquer rua onde talvez possa
ser encontrado um cavalo, depois a fobia se estende às carroças carregadas que estão
sendo puxadas por cavalos, de tal forma que a fobia vai se estendendo tanto que limita a
vida do indivíduo. Chega um ponto em que ele não pode mais sair na rua, não pode mais
fazer nada.
BoaSaúde: As fobias são relacionadas à cultura das pessoas? Elas dependem de uma
questão cultural? Provavelmente um homem do deserto que tenha medo de camelo, é mais
grave, ele está tomando para si. Isso é um pouco cultural ou não? Existe esse estudo de
que há culturas em que as fobias incidam mais?
Ésio: Eu acho que não. Acho que não é uma questão de que há culturas em que
incidam mais. Acho sim que a eleição do objeto fóbico tem a ver com a cultura. Então
vai-se eleger coisas que estão ao redor, habituais. O pequeno Hans, por exemplo, elegeu o
cavalo porque naquela época não tinha carro, usavam-se cavalos. Hoje, poderiam ser
carros... Por causa da cultura, mas não que numa cultura tenha mais fóbicos e em outra
menos. É apenas a eleição do objeto fóbico que depende da cultura.
Freud, por exemplo, tinha uma fobia de trem. Ele tinha pânico de viajar de trem. Naquela
época, se viajava muito assim. Ele tirava férias e ia da Áustria para a Itália,
precisava ir de trem. Ele não viajava de avião, então a fobia era de trem. Hoje em dia,
a gente viaja pouco de trem, assim, não há muito essa fobia. Mas têm muita fobia de
avião.
BoaSaúde: As fobias incidem mais em quê parcela da população?
Ésio: O que daria para dizer é que na primeira infância é comum o aparecimento
de algumas fobias. É muito raro você encontrar uma criança que não passou por uma
fobia ou por um período de fobia na infância. Algum tipo de fobia, como por exemplo
fobia de escuro, muito comum. Quase todas as crianças têm fobia de escuro. Fobia de
raio, trovão, tempestade. É quase normal que uma criança na primeira infância tenha
quadros fóbicos, que se resolvem espontaneamente. Na verdade, estas fobias são um jeito
que a cabeça da gente arruma para lidar com as angústias, e que a criança está tendo
que dar conta. Então, ela tem medo do bicho papão, ou não dorme no escuro de jeito
nenhum. São quadros fóbicos quase normais na primeira infância. É que à medida que a
criança cresce, deixam de ser significativos, desaparecem e pronto.
BoaSaúde: O stress pode influenciar no aparecimento das fobias?
Ésio: Não. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.
BoaSaúde: Existe como prevenir uma fobia?
Ésio: Não. O que existe é criar uma estrutura psicológica mais firme, mais
consistente... Uma criança criada com mais segurança, com mais amor, mais afeto, amparo,
mais protegida adequadamente, não exageradamente. Ou seja, uma criança com o seu
desenvolvimento psicológico mais adequado, está menos sujeita às fobias do que uma
outra criança com uma série de furos, de problemas, de encrencas, de pais separados e
outras questões... Quer dizer, uma insegurança na constituição psicológica é que vai
determinar o aparecimento de fobias.
BoaSaúde: E uma fobia pode surgir assim na idade adulta, de repente?
Ésio: Pode sim, pode aparecer a qualquer momento, um sintoma que não tinha
antes e, de repente, pode aparecer. O mais comum, desse tipo de aparecimento, é a famosa
síndrome do pânico, que também é um quadro que apresenta uma série de fobias. E que
aparece a qualquer momento da vida. De repente a pessoa começa a ter pânicos e medos.
BoaSaúde: Como é que isso acontece? De repente, uma pessoa tinha uma fobia de
gatinhos e isso se desenvolve e se torna uma síndrome do pânico?
Ésio: Não é assim. São duas coisas diferentes: uma fobia de gatinhos é uma
coisa, a síndrome do pânico é outra. Uma fobia de gatinho, essas fobias as quais nós
temos falado até agora, são fobias que têm a ver com a história psicológica, com o
desenvolvimento psicológico, estão inseridas na história de uma pessoa. Você encontra
uma significação para o porquê a fobia é de gatinho e não de não sei o quê. Você
encontra essa resposta na história de vida dessa pessoa. A síndrome do pânico é um
quadro fóbico que não têm a ver com a história de vida, com a história psicológica.
Não tem drama nenhum numa história da síndrome do pânico. Geralmente, as fobias da
crise do pânico são sempre iguais, monótonas, estereotipadas. A pessoa tem medo de
morrer, medo de ter medo, medo de ter um ataque cardíaco, medo de estar sozinha, medo de
ter uma doença qualquer. São medos mais estereotipados que não tem a ver com a estória
de vida da pessoa, como a pessoa que tinha medo das baratas. Tem uma estorinha lá de
trás que justifica a fobia dela. No caso da síndrome do pânico, não. Não tem estória
nenhuma.
BoaSaúde: Essa pessoa com medo de baratas e a sua tia com medo de gatinhos, não
são, necessariamente, mais propensas a terem síndrome do pânico, por terem uma fobia
comum como essas?
Ésio: Não, não. A síndrome do pânico é outro quadro. Um outro quadro, com
outra gênese, outra psicodinâmica. O pânico está ligado a uma vivência de uma pouca
possibilidade de elaboração mental, de dar um encaminhamento com a cabeça para
angústias que são próprias de todo mundo, por exemplo, saber que nós vamos morrer.
Todo mundo sabe, mas não é por causa disso que começa a gritar desespero, porque vai
morrer. Por quê você não grita de desespero ao pensar na morte? Sua cabeça dá conta.
Você fala: provavelmente eu vou morrer, mas acho que não vai ser agora, eu estou tomando
cuidado, não estou fazendo bobagem nenhuma. Pode ser que eu fique doente? Pode, mas é
pouco provável, vou tentar fazer o máximo possível para evitar. Quer dizer, a sua
cabeça pode dar conta das angústias básicas. A pessoa que tem síndrome do pânico é
porque não está conseguindo dar conta de angústias básicas do ser humano. As pessoas
normais fazem estorinhas, dizem: "Deus me livre, não vou morrer". Dão uma
batidinha aqui e já acham que estão meio garantidos, ou então, usam um raminho de
arruda na orelha. Ou fazem uma promessa, ou comungam. Você dá uma série de jeitos. A
cabeça faz uma estorinha e consegue ir dando conta das angústias naturais do ser humano.
Já a pessoa com síndrome do pânico não tem condições de ir fazendo essas estorinhas.
Então, ela entra em crise e se você for ver o motivo, ela diz: eu posso morrer. É, pode
mesmo. Ela está berrando desesperada, arrancando os cabelos porque ela pode morrer,
entendeu? Isso é a síndrome do pânico.
BoaSaúde: Em termos de tratamento, existe como definir um tempo mínimo?
Ésio: O tratamento seria exatamente tentar restabelecer as conexões perdidas, e
pelo menos do meu ponto de vista, da minha formação que é de psicanalista. Dentro de
como eu trabalho e entendo, é um tratamento psicoterápico, de duração indeterminada.
Você começa a lidar com a questão e poderá lidar alguns meses ou muitos anos, não tem
uma regra. Depende tanto da pessoa, como do terapeuta, acharem que tem sentido continuar
lidando ou não.
BoaSaúde: Uma alta é estabelecida no momento em que a pessoa supera a fobia?
Ésio: Não. No momento em que paciente e analista, dentro de um modelo
psicanalítico, acham que já não tem mais nada a ser feito, não tem mais sentido
continuar trabalhando. Já tiveram todo o ganho que poderiam ter tido.
BoaSaúde: Há utilidade no tratamento medicamentoso?
Ésio: Eventualmente sim. Por exemplo, na síndrome de pânico é importante haver
o tratamento medicamentoso para controlar as crises. Agora, só o tratamento medicamentoso
não adianta, porque você tem que ajudar a pessoa a desenvolver a capacidade de fazer as
tais estorinhas. É preciso enriquecer a cabeça da pessoa para ajudá-la a fazer
estorinhas, fantasmatizar mais, para dar conta da angústia. Se você, apenas, tira o
sintoma da crise e não ajudar a cabeça a funcionar melhor, a capacidade de pensar, com a
medicação, muito provavelmente, ela vai desenvolver outro tipo de sintoma.
BoaSaúde: Ela vai deslocar o problema original para um outro objeto qualquer?
Ésio: Ou outra desordem... Alguma coisa vai acontecer.
BoaSaúde: Quais as intervenções possíveis? Pela sua formação, o senhor acha
que é a Psicanálise, mas dentro dela, como se lida com uma fobia? O leigo tem a
tendência de achar que a Psicanálise é muito longa, que é um tratamento de anos, e que
quem precisa resolver o problema agora, opta por tratamentos como o psicodrama, uma
dessensibilização, ou a hipnoterapia, porque há o sentido de urgência. O que o senhor
pensa dessas formas de tratamento e de que maneira se pode defender a Psicanálise para o
tratamento da fobia?
Ésio: Acho que tem uma série de situações em que um tratamento de urgência
pode ter bons resultados, até o padre, o pároco da cidade, vai conseguir ótimos
resultados. Não precisa ser nenhuma coisa muito mágica, até o pai de santo consegue.
Porque nessas situações entra muito em questão a sugestão. A pessoa se sugestiona e
realmente resolve o problema, através da sugestão. Hipnotismo basicamente é sugestão,
é baseado na sugestão. A sugestão é um mecanismo psicológico normal, que existe e é
utilizado por uma série de tratamentos. Agora, a questão é que a sugestão funciona num
determinado momento, resolvendo o problema objetivo concreto. Só que como não foi
resolvida a causa dele, ele vai aparecer em outras situações, mais à frente.
BoaSaúde: O senhor defenderia, por exemplo, uma opção mista? Vamos supor, vamos
resolver o seu problema de elevador agora, pois você trabalha no 15º andar, com
hipnoterapia. E ao mesmo tempo, vamos ficar tratando dos problemas que originaram essa
fobia.
Ésio: Do meu ponto de vista é uma coisa só. Vamos começar uma psicoterapia e
em se fazendo uma psicoterapia, nós vamos estar lidando com essas duas questões ao mesmo
tempo. Enquanto nós estamos tentando entender o que se passa e o motivo, automaticamente
deve desaparecer o medo de elevador. Sem que eu tenha me preocupado em acabar
especificamente com o medo de elevador. Eu vou me preocupar em ajudar a pessoa a entender
como a cabeça dela esta funcionando. Assim que começar a haver uma maior possibilidade
dessa pessoa se dar conta das questões psicológicas dela, deixa de ser necessário o
medo de elevador. Porque o medo estava cumprindo uma função. Ela deixa de ser
necessária, desaparece por si, sem que eu tenha que me preocupar em fazer desaparecer.
BoaSaúde: Quais são as chances de cura de uma fobia, com um tratamento
psicanalítico, levado a sério, em seu termo? Existem pré-requisitos para uma pessoa
escolher a Psicanálise como tratamento? Existem pessoas para quem não é indicado esse
tratamento?
Ésio: Normalmente, quando vem uma pessoa para a Psicanálise, para a
psicoterapia, a gente conversa com a pessoa, faz umas entrevistas iniciais, para ter uma
idéia se vai dar para lidar com essa pessoa em termos psicológicos, se esta pessoa é
capaz de fazer uma certa abstração para compreender o que a gente está falando. Porque
tem pessoas que não conseguem isso. Então, para esse tipo de pessoa não adianta querer
fazer esse tipo de tratamento psicoterápico, pois ela não vai entrar no tratamento. Ela
vai ficar sempre esperando que eu, magicamente, vá fazer uma coisa tal que vá curá-la.
É o modelo médico, em que o paciente chega e faz a queixa dele. Aí o médico processa
de acordo com seus conhecimentos e de sua cabeça salta uma receita. O paciente não tem
que fazer nada. O paciente queixa-se e o médico salta com uma receita de um antibiótico,
de um remédio. O problema é que muitos pacientes vêm para a psicoterapia dentro desse
modelo, acham que vão chegar, fazer suas queixas, a cabeça do psicólogo vai processar e
vai devolver um procedimento: faça isso ou aquilo que vai resolver. É exatamente o
contrário, no caso psicológico, não adianta isso. Eu tenho que conseguir que a pessoa
processe, não adianta eu processar o problema. Há determinadas pessoas que se recusam a
sair do modelo médico. Não adianta quererem tentar fazer Psicanálise que não vão ter
sucesso.
BoaSaúde: Se eu tenho alguém ao meu redor que aparentemente sofre de uma fobia,
como devo proceder? Eu devo tentar confrontar essa pessoa com o seu medo, com o objeto
fóbico? Devo obrigá-la a entrar no elevador, a conviver com uma barata, ou qualquer coisa
desse tipo, isso vai resolver o problema? Ou eu devo encaminhá-la para um tratamento? Qual
é o momento que um familiar deve decidir que o outro tem que se tratar?
Ésio: Eu acho que não adianta a pessoa querer tratar a outra. Não é ela que
vai tratar, ou confrontar, ou deixar de confrontar. Baseada em quê? Que elementos têm
uma pessoa para saber se é o caso de confrontar ou não confrontar? A pessoa deve se ater
ao que é possível. Ele não tem conhecimento técnico para ter uma decisão desse tipo.
Se achar que a fobia está interferindo na vida do paciente, que atrapalha, ele deve
encaminhá-lo para um técnico, para uma consulta, para alguém orientar.
BoaSaúde: Sendo assim, se eu percebo que alguém dentro de meu círculo pessoal,
tem alguém que tem um medo que está lhe restringindo a vida, eu devo procurar
orientação especializada.
Ésio: Deve procurar ajuda especializada. Claro que eu estou falando de um caso
mais sério, não um caso mais comum, como uma criança com medo de escuro. Se as coisas
não forem muito intensas, as pessoas podem ficar do lado. Do meu ponto de vista, da minha
formação, não adianta confrontar, os pais quererem que a criança fique no escuro e
trancam a porta. Isso é absolutamente contraproducente. A criança deve ser apoiada,
amparada, deve ficar alguém junto dela, tentar compreender, não ridicularizar, uma coisa
mais razoável, eu diria. Um procedimento de bom senso humano, não técnico.
BoaSaúde: No seu grau máximo, o que as fobias podem causar?
Ésio: É esse impedimento da vida, pessoas que ficam cerceadas, que se trancam
no quarto, não saem mais de casa. Esse é o grau máximo, o impedimento de vida. É a
pessoa que só sai à rua com uma entidade que chama-se acompanhante fóbico. São pessoas
que só saem na rua acompanhadas, caso contrário, não conseguem sair para lugar nenhum.
Esse é um cerceamento relativo, mas tem uns muito sérios. Pessoas que não conseguem
mais sair para trabalhar, ficam nos quartos.
BoaSaúde: E então isso não é síndrome do pânico necessariamente?
Ésio: Não. São duas coisas separadas. A do pânico já começa nesse desespero
total. Já tem tudo, sudorese, desespero, grita na rua, se joga no chão, acha que vai
morrer... A primeira crise já pode ser assim.
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