Artigos de saúde
Em estudo publicado na última semana na revista Lancet, o Dr. Alyx Taylor e
colaboradores, do Queen Charlotte's and Chelsea Hospital, em Londres,mostraram que
a experiência precoce de dor sentida pelo bebê durante o parto pode influenciar a
resposta posterior à estímulos dolorosos, tornando a criança mais vulnerável a eles.
Já foi demonstrado anteriormente que a circuncisão de bebês afetava sua resposta à dor
da vacinação, 4 a 6 meses depois, com o bebê circuncisado demonstrando reação à dor
mais intensa do que a reação vista em bebês não circuncisados. Em animais, estudos
sugerem que o estresse fetal ou neonatal agudo pode afetar o eixo
hipotálamo-hipófise-adrenal por toda a vida.
No estudo atual, os pesquisadores tentaram demonstrar se estes resultados acima se
repetiam com relação aos tipos diferentes de parto e ao estresse causado por eles.
Eles dividiram os bebês em três grupos: aqueles que nasceram de parto vaginal normal
(46), aqueles que nasceram por parto normal assistido (fórceps ou ventosa, 20), e aqueles
nascidos de parto cesáreo eletivo (10). Durante vacinação de rotina, tendo os bebês 8
semanas de vida, sua reação ao estresse foi medida pela dosagem da concentração de
cortisol na saliva antes e 20 minutos após a vacinação e pela medida do tempo em que
permaneceram chorando após a vacina.
Os valores basais de cortisol (antes da vacina) foram semelhantes em todos os três
grupos. Contudo, as diferenças nos níveis de cortisol foram significativas entre os
grupos após a injeção. O aumento nos níveis de cortisol foi maior no grupo do parto
normal assistido (que foi o grupo de bebês exposto a estresse mais acentuado ao parto) e
menor no grupo da cesárea eletiva (que é o grupo de bebês exposto a menos trauma
durante o parto). A duração do choro mostrou um padrão semelhante, correlacionando-se
significativamente com os níveis de cortisol.
Estes resultados mostram uma ligação entre o estresse e a dor ao parto, e a resposta do
bebê a estresse futuro. Contudo, outros mecanismos podem estar envolvidos, como grau de
estresse fetal intra-útero, e efeito da resposta da mãe à um parto mais difícil sobre
o bebê, entre outros.
Existem fortes evidências que mostram que o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal é
importante em doenças futuras como a depressão. E é possível que alterações deste
eixo possam acontecer devido à dificuldades durante o parto, expondo estes bebês a uma
possibilidade maior de apresentar doenças como depressão, distúrbios de ansiedade, etc.
Fonte: The Lancet, volume 355, Number 9198 (8 January 2000)
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