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Pesquisador explica porque usuários desenvolvem tolerância à maconha

20 de Março de 2003 (Bibliomed). A pessoa que faz uso contínuo da maconha precisa aumentar a dose constantemente para conseguir a mesma sensação de prazer. Estudos comportamentais já haviam comprovado que o usuário crônico desenvolve essa tolerância cada vez maior, mas ainda não se conheciam os efeitos bioquímicos do uso da droga no cérebro.

Foi essa resposta que o pesquisador João Villares, do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), encontrou ao analisar necropsias de cérebros de usuários crônicos da droga catalogados no Banco de Encéfalos da universidade.

Depois de estudar os tecidos cerebrais de 12 usuários crônicos de maconha e de outras 12 pessoas que não consumiam a droga, o pesquisador concluiu que o uso prolongado da Canabis sativa provoca alterações nos receptores que captam o princípio ativo da droga no cérebro.

O pesquisador explica que, quando o usuário fuma maconha, o tetrahidrocannabinol (THC), princípio ativo da droga, passa dos pulmões para a corrente sangüínea e atinge todos os órgãos. No sistema nervoso, o THC se conecta aos receptores cannabinóides, do tipo CB1, presentes nos neurônios, que participam de diferentes aspectos fisiológicos, como o controle da ingestão de alimentos, e estão ligados às sensações de prazer, memória, coordenação motora e alterações cognitivas.

Villares verificou que o THC age no DNA provocando a redução da expressão do RNA mensageiro, que controla a produção dos receptores. Os CB1s passam então a ser fabricados em menor número, e para alcançar o efeito que obtinha anteriormente o usuário tem de consumir maior quantidade da droga.

O pesquisador ressalta que ainda são necessários outros estudos para responder como o THC age sobre o DNA. A boa notícia é que os efeitos não são irreversíveis. “Após alguns meses sem a droga, o dano pode ser revertido”, disse.

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