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Retrato da Insuficiência Renal no Brasil

Neste artigo:

- Entenda a Insuficiência Renal: Um Quadro da Doença
- Perguntas e Respostas Sobre Insuficiência Renal
- Faltam Tratamento e Prevenção para a Doença Renal
- Alterações Endocrinológicas em Insuficiência Renal
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"A insuficiência renal crônica é a perda irreversível das funções dos rins. Suas causas principais, no Brasil, são diabetes, hipertensão arterial, inflamações e infecções dos rins. Os tratamentos disponíveis para a doença (diálise e transplante) são considerados paliativos".

Entenda a Insuficiência Renal: Um Quadro da Doença

A insuficiência renal ocorre quando o rim começa a perder sua capacidade de filtrar os líquidos do sangue. Ou seja, o órgão não consegue mais filtrar a água e as substâncias químicas do sangue que devem ser eliminadas, ficando retido na circulação um excesso de líquido e substâncias tóxicas para as células. Devido à retenção de líquido, a pessoa começa a apresentar edema (inchaço), principalmente nos membros inferiores.

"Além do tratamento específico para cada paciente, complementa-se com uma dieta balanceada e o uso de diuréticos para tratar a deficiência da filtragem renal, além de antibiótico para tratar infecções do sistema urinário", explica Maria Almerinda Ribeiro Alves, professora de nefrologia da Unicamp. A prevenção se dá através de uma dieta líquida que garanta a quantidade mínima de água para realizar as funções de filtragem, além de dieta de alimentos balanceada para evitar excessos de proteínas e outras substâncias que possam sobrecarregar o rim. Tratar adequadamente algumas doenças que podem afetar o rim, principalmente a diabetes e a hipertensão arterial, são outras formas de evitar a doença.

Perguntas e Respostas Sobre Insuficiência Renal

O que é insuficiência renal?

- Perda das funções dos rins

Quais são as funções dos rins?

- Filtrar o sangue, eliminando as toxinas e o excesso de líquidos

- Produzir hormônios que controlam:

- O número de glóbulos vermelhos
- A pressão arterial
- A calcificação dos ossos

Quais são as causas da insuficiência renal (Proporção de casos, em %)?

-
Diabetes: 33% dos casos

- Hipertensão arterial: 27% dos casos

- Nefrites imunológicas*: 20% dos casos

- Infecção renal crônica: 7% dos casos

- Lúpus eritematoso sistêmico**, doenças hereditárias, rins policísticos*** e outras: 13% dos casos

*Inflamações dos rins provocadas pelo sistema imunológico.
**Doença em que o tecido conjuntivo, que contém o colágeno, é atacado pelo sistema imunológico.
***Múltiplos cistos nos rins.

Quais são os sintomas da insuficiência renal?

Só aparecem quando a capacidade dos rins está reduzida a 25% do normal.

- Sistema cardiovascular: Aumento da pressão do sangue, cansaço e falta de ar.

- Pele: Inchaços, palidez ou cor de palha, coceira e manchas roxas.

- Sistema digestivo: Náuseas, vômitos, azia e mau hálito.

- Sistema urinário: Diminuição da quantidade de urina.

- Ossos: Dor e fraturas freqüentes.

- Sangue: Anemia e fraqueza.

- Músculos: Cãibras.

- Sistema nervoso: Insônia alternada com sonolência, dores nos pés ou mãos, (devido à inflamação dos nervos) e formigamentos.

Como fazer a prevenção da Insuficiência Renal?

O objetivo é diagnosticar as doenças que causam insuficiência renal e tratá-las:

- Medida periódica da pressão do sangue.

- Controle da hipertensão arterial (remédios, dieta e exercícios físicos).

- Exame periódico de glicose no sangue.

- Tratamento da diabetes (dieta e medicação).

- Tratamento correto das infecções urinárias.

Quais são os tipos de tratamentos para a Insuficiência Renal?

O tipo de tratamento depende das condições clínicas de cada doente.

Diálise peritoneal

- O paciente fica com um cateter permanentemente instalado no interior do abdômen.

- Um líquido especial é introduzido pelo cateter e depois retirado.

- O peritônio, a membrana que envolve os órgãos do abdômen, é banhado pelo líquido, que absorve as toxinas.

- Pode ser feita em casa: CAPD (sigla em inglês para diálise peritoneal ambulatorial contínua). Nesse caso, o próprio paciente infunde e retira o líquido do abdômen quatro ou cinco vezes por dia. No hospital, são duas sessões semanais, de 16 a 24 horas cada.

Hemodiálise

- É também conhecida como "rim artificial".

- O sangue do paciente é desviado para um aparelho, que faz a filtragem, e depois devolvido à circulação.

- São três sessões semanais, de três a cinco horas cada.

- Para fazer a hemodiálise, é preciso criar uma fístula, uma comunicação direta entre a artéria e a veia do braço, que deixa a veia mais grossa para facilitar a retirada do sangue.

Transplante

- O doador de rim pode ser um parente vivo, que doa um de seus órgãos, ou alguém com morte encefálica, que tenha órgãos compatíveis.

- Os rins do doente não são retirados. O novo órgão é colocado numa região chamada de fossa ilíaca.

- É preciso usar medicações imunossupressoras (que inibem o sistema imunológico e predispõem a infecções) para evitar a rejeição do novo rim.

* Dados fornecidos pela Sociedade Brasileira de Nefrologia.

Faltam Tratamento e Prevenção para a Doença Renal

Apenas 33% dos pacientes com insuficiência renal crônica recebem tratamento adequado para a doença no Brasil. Os 67% restantes - cerca de 100 mil doentes - morrem antes mesmo de iniciar a diálise. A estimativa é da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) e faz parte de um dossiê sobre a realidade da doença renal crônica no país, e que foi divulgado no 20o Congresso Brasileiro de Nefrologia, no dia 22 de setembro. João Egídio Romão Júnior, supervisor da Unidade de Diálise do Hospital das Clínicas de São Paulo explica que os tratamentos usados para combater a doença são paliativos. "Eles não curam os doentes. Somente a prevenção é eficiente, porque evita ou retarda o surgimento da insuficiência", afirma.

Segundo especialistas, a prevenção consiste em melhorar o atendimento aos doentes com diabetes, tratando adequadamente a doença, o que retarda o aparecimento da insuficiência renal. Também é preciso diagnosticar os casos de hipertensão arterial desconhecidos e usar as medicações próprias para a doença, que evitam o surgimento do problema nos rins. Essas iniciativas são mais baratas do que o tratamento da insuficiência renal.

No entanto, o destino principal das verbas de saúde tem sido o tratamento. "Os 45 mil pacientes em diálise no país consomem R$ 1 bilhão (5% do orçamento de saúde) e faltam recursos para a fase preventiva do atendimento", afirma João Cézar Mendes Moreira, presidente da SBN.

Existem 550 centros de diálise para pacientes da rede pública de saúde e a qualidade do atendimento é de primeiro mundo na maior parte deles. Porém, com exceção dos centros universitários, as demais unidades de diálise recebem apenas os doentes que estão em estágio avançado da doença. "É preciso transformar os centros de diálise em serviços completos de nefrologia, atendendo pacientes desde a fase inicial da doença. Como a quantidade de nefrologistas é pequena no país, a atuação dos centros de diálise em prevenção é fundamental", diz o presidente da SBN.

Alterações Endocrinológicas em Insuficiência Renal

A produção de hormônios está intimamente relacionada com a função renal. "Quando temos alteração na função renal temos conseqüências na reabsorção e excreção de hormônios assim como pode haver estímulo a produção aumentada ou diminuição na secreção de alguns hormônios", explica Dr. João Cézar Mendes Moreira.

De acordo com o especialista, as alterações hormonais de maior relevância que encontramos na insuficiência renal são:

1. Em relação à anemia: a anemia se dá na maioria dos casos em pacientes com insuficiência renal e está relacionada diretamente com a diminuição da produção de um hormônio chamado eritropoetina que é o estimulador da produção de glóbulos vermelhos (eritrócitos). Como o principal local de produção deste hormônio é o rim, seu número fica diminuído na insuficiência renal.

2. Vitamina D - existem hormônios que participam no ciclo da formação da vitamina D que também estão diminuídos na insuficiência renal levando uma deficiência desta vitamina, consequentemente levando o paciente a desenvolver doenças ósseas.

3. Paratormônio - este hormônio também fica alterado, com sua produção aumentada na insuficiência renal, devido ao estímulo da paratireóide. Esta alteração está relacionada com a diminuição da vitamina D e de mudanças na absorção e excreção de cálcio e fósforo levando ao agravamento da doença óssea.

4. Hormônios da tireóide - existem alterações nos hormônios da tireóide, mas na maioria das vezes não faz com que o paciente desenvolva doenças de hiper ou hipotireoidismo.

5. Hormônios sexuais - no homem ficam alterados podendo levar a uma diminuição do libido e da fertilidade. Na mulher também ocorrem alterações, levando também a infertilidade e alterações importantes do ciclo menstrual, podendo haver um aumento da freqüência do ciclo ou até casos de amenorréia, isto é ausência da menstruação. Dependendo do grau de perda da função renal a mulher não consegue engravidar. Quando a insuficiência renal acomete crianças nos temos alterações importantes no hormônio de crescimento tendo crianças de baixa estatura e com alterações na maturação sexual.

6. Insulina - na insuficiência renal o tempo de permanência do nível de insulina no sangue se prolonga devido a alterações do metabolismo da insulina no rim diminuindo a necessidade desta. Isso é observado com freqüência nos pacientes diabéticos que começam a apresentar insuficiência renal (já que o diabetes é uma das principais causas da doença) começam a diminuir as necessidades do aporte de insulina como medicação.

7. "As alterações endocrinológicas na insuficiência renal são extensas, contudo, se o paciente se submete a um transplante, boa parte das taxas de hormônio voltam ao normal", conclui Dr. João Cézar.

Copyright © 2000 eHealth Latin America             05 de Outubro de 2000


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