Artigos de saúde
A laparoscopia iniciou-se de maneira efetiva somente no século XX, porém o
interesse por este procedimento data de muitos anos. Philipp Bozzini, alemão de origem
italiana, é considerado o pai da endoscopia. O primeiro endoscópio foi um cistoscópio,
inventado por Desormeaux.
De acordo com o médico, especialista ginecologia e cirurgia vídeo-laporoscópica, Dr.
Adalberto de Carvalho Valle, a primeira endoscopia abdominal foi feita no principio do
século XX, no ano de 1901, realizada por George Kelling, em caráter experimental, em
cães. O primeiro a descrever a laparoscopia em humanos foi o médico europeu Jacobaeus em
1910, acrescenta.
A vídeo-laparoscopia, segundo o médico, consiste na visualização da cavidade pélvica
e abdominal, através de uma lente ótica acoplada a uma câmera. Para que tal
procedimento seja possível há a necessidade de iluminação do interior da cavidade,
obtida por uma fonte de luz que através de um cabo que pode ser de fibra ótica ou de
cristal líquido transporta um feixe de luz até a ótica, iluminando, assim, a cavidade
abdominal.
O Dr. Adalberto de Carvalho esclarece que além da iluminação, necessitamos também de
insuflarmos esta cavidade, para podermos ter uma visão ampla da mesma, permitindo, assim
não só a realização de um procedimento apenas como diagnóstico, mas cirúrgico e para
isso usa-se um aparelho denominado insuflado.
Este insuflador além de infundir gás no interior do abdômen, mantém o referido gás
durante o tempo necessário para executarmos os procedimentos necessários. Alguns gases
já foram usados na vídeo-laparoscopia como ar comprimido, óxido nitroso, oxigênio,
entre outros. No entanto, cada um deles apresentava um inconveniente que desaconselhavam o
seu uso. Ele exemplifica dizendo que como o ar comprimido por ser de difícil absorção
em líquidos orgânicos, o seu uso trazia muita dor no pós-operatório. Após muitas
pesquisas, chegou-se à conclusão que o melhor gás a ser usado seria o CO2
(dióxido de carbono), por não apresentar riscos como o de explosão e ser bastante
solúvel nos líquidos orgânicos diminuindo, em muito, a dor no pós-operatório. Hoje
este é o único gás utilizado.
Técnica
O médico acrescenta que é necessária ainda a criação de uma passagem na parede
abdominal para a introdução deste material todo na cavidade. Para isso, é feita uma
incisão no umbigo de mais ou menos 0,1cm, por onde passamos a ótica e mais uma ou duas
pequenas incisões mais abaixo na barriga, por onde passaremos os demais instrumentais
necessários ao procedimento. Seja ele cirúrgico ou diagnóstico. Nestes casos, os cortes
podem ser de 0,5 cm, o que faz da vídeo-laparoscopia um procedimento que valoriza a
estética sobremaneira, sem diminuir sua eficiência. Nestas pequenas incisões, passamos
um instrumental chamado trocarte (material cilíndrico composto por duas partes: a parte
externa chamada de camisa e a interna formada pela lâmina para perfurar o abdômen, por
exemplo, por onde serão introduzidos os outros instrumentais, explica.
Segundo o médico, tudo isso foi realizado durante muito tempo sem o auxílio da câmera o
que dificultava por demais o procedimento, pois o laparoscopista só podia trabalhar com
uma mão e a outra segurava o laparoscópico, já que não havia possibilidade de termos
um auxiliar, o mesmo não poderia enxergar nada, a ótica só permitia que um indivíduo
enxergasse. Além disto, havia a impossibilidade da posição que era extremamente
incômoda, deixando muitos profissionais com sérios problemas de coluna. Isso levou a um
grande retardo no desenvolvimento desta técnica cirúrgica tão fabulosa. "Graças a
homens como o alemão Kurt Semm, a vídeo-laparoscopia é hoje acessível como técnica
cirúrgica, pois o mesmo desenvolveu grande parte do instrumental cirúrgico necessário
à realização da vídeocirurgia, como pinças, tesouras, cautérios, porta agulhas,
entre outras".
Evolução/Emprego
Na opinião do médico, a partir daí, o desenvolvimento da laparoscopia não parou mais,
surgindo no final dos anos 70 o laser como fonte de energia para procedimentos na
laparoscopia. Uma grande pergunta que todos fazem hoje é o que pode ser feito por esta
técnica e qual a sua vantagem em relação aos procedimentos cirúrgicos convencionais.
A resposta, segundo o médico, é bastante simples, visto que quase tudo que fazemos pelo
procedimento convencional poderá também ser realizado através da videocirurgia,
bastando para isso que se respeite à curva de aprendizado necessária até estarmos
habilitados a realização de cirurgias mais complexas.
Sob esta ótica, Dr. Adalberto de Carvalho, diz que no entanto, até bem pouco tempo,
somente alguns procedimentos mais simples eram realizados, principalmente em países como
o Brasil, pois o custo da aparelhagem era inacessível à maioria dos médicos
brasileiros. Além disso, os que possuíam o equipamento tinham que sair do país para
poder aprender a técnica. Fato que veio retardar em muito o início da
vídeo-laparoscopia no nosso país. Para completar este quadro, "pelo pouco
conhecimento e pelo medo do novo, vários profissionais denegriram a técnica e também
quem as realizava".
Hoje graças a vídeo-laparoscopia, os pacientes podem fazer inúmeras cirurgias de uma
forma menos invasiva e mais segura. Entre elas estão: a ligadura de trompas, retirada de
cisto de ovário, liberação de aderências, biópsia de ovário, retirada do ovário,
cirurgia da endometriose, recanalização de trompa (reversão da ligadura), cirurgia da
incontinência urinária, até a histerectomia (retirada do útero), cirurgias de câncer
do útero, entre inúmeros tipos de cirurgias. "Isto sem falar nas cirurgias de
apêndice, hérnias, que ficam mais para o cirurgião geral. Estas são algumas das
possibilidades cirúrgicas que podemos realizar pela vídeo-laparoscopia", acrescenta
o especialista.
Vantagens
Segundo o especialista, as vantagens deste procedimento em relação à cirurgia
convencional, entre outros, reside no fato de ser esta técnica mais estética, ter menos
dor no pós-operatório, possibilitar alta hospitalar mais precoce com retorno também
mais precoce às atividades do dia a dia, extremamente importante para a mulher moderna
que está no mercado de trabalho, menor índice de infecção e custo, etc.
A vídeo-laparoscopia é um grande avanço para a medicina também quando falamos em
infertilidade, pois foi devido a esta técnica que podemos aperfeiçoar e melhorar a
qualidade do exame e realizarmos microcirurgias as quais devolveram, e outras tantas
vezes, possibilitaram a muitas mulheres tornarem-se mães novamente ou pela primeira vez.
Finalizando o médico ratifica que mesmo sendo a laparoscopia uma área que desenvolveu
instrumentais sofisticados, seguros, precisos, nada substitui a mão treinada do médico
que sempre vai estar por trás, operando tais instrumentais e equipamentos, quem faz a
cirurgia ainda é o cirurgião e não os aparelhos.
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