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O Uso de Psicotrópicos em Crianças e Adolescentes: Parte I

A criança e o adolescente estão em freqüentes mudanças orgânicas e psíquicas, portanto os transtornos que os acometem precisam ser acompanhados sistematicamente. Segundo o médico-especialista em neurologia, Dr. Ronaldo Gama Pacheco, o uso de terapia medicamentosa deve ser observado as doses, os efeitos colaterais e as interações medicamentosas

Os princípios para este tratamento devem se basear no quadro emocional; na conduta; no desenvolvimento; no relacionamento e na participação do paciente no tratamento. A importância de determinados sintomas, pode caracterizar um diagnóstico de um transtorno, ou apenas ser uma variação normal, sendo verificado o impacto no paciente ou no ambiente, que se referem a problemas sociais na própria família, na escola, no aprendizado, nas amizades, nos esportes e também em um sofrimento para a criança ou como ameaça para os outros.

Os psicotrópicos, segundo o médico, são substâncias que tem em nosso organismo afinidade pelo sistema nervoso central (cérebro). Eles se classificam em psicoanalépticos - estimulante do sistema nervoso central e provocam aumento da atividade motora e psíquica. Por exemplo, as anfetaminas que estimulam a vigília (metanfetamina); os psicolépticos - sedativos para o sistema nervoso que atuam na insônia; ansiedade agitação psicomotora e também na dor, os hipnóticos-barbitúricos (Gardenal). Além disso, os não barbitúricos, os ansiolíticos, como por exemplo, o Diazepan, Lexotan; os narcóticos (ou hipinonarcóticos) que aliviam a dor, produzem hipnose e induzem a dependência. Ex. morfina, codeína(naturais), metadona (sintética), heroína (sensitivos, semi-sintética e outras drogas sedativas, como o álcool, e cola de sapateiro). Existem ainda os psicodislépticos ou os alucinógenos que causam desajustes no sistema nervoso e induzem a conduta psicótica. Os primários que causam alucinações, o LSD e a maconha (haxixe), por exemplo, são derivados de plantas e cogumelos (indólicos / naturais). Os derivados da peiote vem da planta tipo cacto que produz alucinações visuais e também os anticolinérgicos.

Transtornos - Desenvolvimento Fala/Linguagem

São alterações específicas relacionadas a dificuldades de ler, de soletrar, de relacionamento interpessoal, transtornos emocionais e comportamentais. Não são diretamente ligados à normalidade neurológicas, ao mecanismo de fala, a comprometimentos sensoriais, a fatores ambientais a ao atraso metal. Há uma maior freqüência em pessoas do sexo masculino. São estes: dislalia (transtorno fonológico e da articulação); dificuldade em formar corretamente os sons e organização cognitiva da fala (troca de letras, havendo uma incidência de 3 a 5 % nas crianças e 0,5 % nos adolescentes).

O tratamento requer atendimento fonoaudiológico, psicopedagógicos e uso de ansiolíticos e antidepressivos quando existir comorbidade com estados ansiosos ou depressivos. Podem ser utilizados benzodiazepínicos e os antidepressivos.

No caso da gagueira ou tartamudez que é um transtorno na fluência e no padrão temporal da fala, a incidência é de 1% nas crianças e 0,8% na adolescência, explica o médico. Já na fala desordenada ou jaquifemia que é um transtorno com fala rápida, alterações na fluência, apresentando-se dificuldades para o entendimento da fala, em geral, pede-se, para repetir o que foi dito para que possa ser entendido (é mais comum que haja gagueira em pessoas canhotas).

Nos transtornos da linguagem expressiva - um distúrbio do desenvolvimento tipo disfasia onde falta a palavra, e o gesto completo. O vocabulário é restrito e há grande dificuldade em narrar eventos passados. Os transtornos da linguagem receptivo-expressiva, como o transtorno expressivo se evolui com freqüência para dislexia. Em geral á acompanhada por transtornos da coordenação motora e com freqüentes casos de repetência escolar. Em adultos disléxicos, deve ser feito anamneses cuidadosas buscando transtornos de expressão na infância.

Os transtornos receptivos estão relacionados há um quadro de disfasia de Wernicke do desenvolvimento e também a surdez verbal podem reproduzir corretamente notas musicais e a capacidade de tocar instrumento musical. Em geral desenvolvem transtornos de habilidade escolar e/ou transtornos sociais, como exemplo, o isolamento. Os transtornos de habilidade escolar afetam 3 a 10% das crianças. Podem estar associados a transtornos da função motora, da fala, linguagem, emocionais, da atividade, atenção, conduta, ansiedade e funcionamento social. Devemos estar atentos para codificar em separados os diversos transtornos comorbidos, pois as condutas terapêuticas são distintas e específicas, explica o médico.

Neste caso, existe a opção ainda para tratamentos na área de fonoaudiologia, atividades psicopedagógicas e fisioterapêuticas, além da medicação adequada.

A incidência de transtornos tipo dislexia que são distúrbios fonológicos mais comum em sexo masculino atinge de 5-10% nas crianças e em adultos até 18%. Caracteriza-se por erros na habilidade da leitura oral, tipo omissões, substituições, adições ou distorções de palavras ou parte de palavras; inversão de letras dentro da palavra: falas partidas, hesitações longas ou perda do lugar, perda da linha ou da palavra, dentro do texto. Além disso, acontece a baixa velocidade de leitura, dificuldade na compreensão da leitura, na análise e síntese do conteúdo, como também, a incapacidade de tirar conclusões ou inferências baseados na matéria lida, ou prestar informações de conhecimento geral de fundo, parecendo querer enganar o professor sobre a matéria lida.

Os transtornos que estão associados a dislexia seriam ansiedade de separação, ansiedade social e reações fóbicos. É comum a baixa estima com dificuldades no relacionamento com colegas.

As terapias educacionais devem iniciar-se precocemente nos primeiros anos escolares, antes da educação formal da escolaridade. A disgrafia - dificuldades em caligrafia, em escrever a linguagem cursiva e a disortografia - dificuldade em escrever as regras gramaticais elementares à nossa língua, além da discalculia - transtorno da habilidade aritmética básica.

Desenvolvimento da coordenação

A dispraxia ou "criança desajeitada", acontece através da falta de destreza em habilidades do desenvolvimento motor como: engatinhar, sentar, andar, dificuldade em ficar em um pé só, dar laços em sapatos, fechar zíper, e também a caligrafia fica comprometida. A incidência é estimada em 6% das crianças cuja faixa etária é de 6 a 11 anos e predominante em crianças do sexo masculino.

No tratamento de transtorno do desenvolvimento da coordenação, faz-se necessário um trabalho de psicodinâmica centrada na história de vida da pessoa, trabalho de fisioterapia e terapia psicomotora, orientações familiares e orientação sexual. Devido à dinâmica neurobiológica as experiências motoras da infância precoce criam padrões de atividade neuronal, que se tornam o modelo dos sistemas. O cérebro organiza seu desenvolvimento de um modo seqüencial, começando pelas regiões mais baixas e mais reguladoras (tronco encefálico), continuando para as regiões mais altas e mais complexas do córtex cerebral.

Portanto, um maior estímulo para o desenvolvimento de capacidades motoras como: embalar - rastejar - engatinhar - equilibrar - andar - correr - pular e dançar, levam ao pleno desenvolvimento e organização das redes neuronais, ratifica o médico.

As crianças com distúrbios ligados ao sistema límbico para o apego e a intimidade e distúrbios de linguagem e aprendizado, são conseqüências da desorganização motora. O sucesso terapêutico está ligado à precocidade da aplicação da terapia psicomotora e a melhor organização neurológica e intervenção na família.

Transtorno Invasivos do Desenvolvimento - Autismo

É um transtorno profundo e crônico relativos à linguagem, comportamentos perseverantes e repetitivos com distúrbios na interação social acometendo em torno de 3 para cada 10 mil crianças, sendo mais comum no sexo masculino. Segundo estudos, não há uma relação com a situação sócio-econômica da criança. A classificação para critério diagnóstico baseia-se no prejuízo social e na comunicação, atividades e interesses restritos e repetitivos, comportamento de antiflagelação, isolacionismo autista e início precoce, sendo importante ao diagnóstico diferencial.

O diagnóstico diferencial deve ser feito com surdez e distúrbios na linguagem e outras síndromes menos comuns. Ex: síndrome de Asperger, síndrome de Rett, síndrome de Heller (psicose desintegrativa), psicose simbiótica de Mahler, hiperatividade com retardo mental e estereotipias, privações precoces (carência alimentar afetiva e social no 1º e 2º ano de vida), síndrome do x frágil etc. A etipatogenia é discutida em hereditariedade, traumas obstétricos, extrema carência e privações no início da vida. Existem concomitantes alterações psicológicas relacionadas à dificuldade de envolvimento emocional em sintetizar vários tipos de informação, como também uma incapacidade para prever, antecipar e explicar ações previsíveis.

Tratamento do Autismo

O tratamento está ligado a um ambiente de escolaridade especializado e apoio psicológico aos familiares. São usados medicamentos para sintomas específicos, como: a carbamazepina que atua em respostas comportamentais e com propriedades anticonvulsivas, sendo metabolizado no fígado. Geralmente são administradas doses de 200 a 1.000 mg/dia. Os neurolépticos: o Haloperidol (0,5 - 4,0 mg/dia) pode reduzir o comportamento não cooperativo, a habilidade emocional e a irritabilidade e de autoflagelação. Pode ser utilizado a fenfluramina (Minifage) apenas para reduzir a hiperatividade e também o metilfenidato (Ritalina). A risperidona para crianças em idade escolar pode ser usado para diminuir a agitação psicomotora. A clonidina (Atesina) é utilizada em adolescentes autistas com hiperatividade e agressividade.

Em adolescentes com depressão são utilizados a clormipromina (Anafranil) que é um antidepressivo heterocíclico. A fluoxetina é um antidepressivo inibidor seletivo de recoptação da serotomina, de nome comercial "Prozac". A paroxetina é o Aropax que é também um inibidor seletivo de recaptação da serotonina. O prognóstico do autismo é reservado, podendo ocorrer pioras com a idade, comenta o médico.

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