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18 de julho de 2012 (Bibliomed). O consumo excessivo de medicamentos é um fenômeno comum entre adultos e que agora está atingindo crianças e adolescentes. De acordo a conselheira do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Marilene Proença, medicalização é todo o tratamento de processos ou comportamentos sociais e culturais em crianças, adolescentes ou adultos com quadro de patologia psiquiátrica.
A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, em Brasília, discutiu o uso excessivo de remédios por crianças e adolescentes com dificuldades de aprendizado ou de comportamento na escola, uma prática que tem transformado o modo de ser de algumas crianças em doença.
Proença explica que alguns sentimentos e comportamentos legítimos são considerados pela sociedade como sintomas patológicos e tratados com os chamados medicamentos de tarja preta, que podem deixar sequelas graves.
Segundo a conselheira, existe um alarde grande em relação às drogas ilícitas, mas pouca atenção voltada às drogas lícitas. Em 2000, eram consumidas 70 mil caixas de medicamentos para o tratamento de distúrbios relacionados à aprendizagem por ano. Esse número saltou para dois milhões em uma década, transformando o Brasil no segundo maior consumidor desse tipo de medicamento, atrás apenas dos Estados Unidos.
Marilene diz que, no lugar de melhorar a qualidade da escola, a sociedade está criando instâncias de diagnóstico para crianças que têm dificuldade de aprendizado. Segundo a especialista, não se pode passar para as crianças responsabilidades políticas, sociais e culturais da sociedade em geral.
A professora Maria Aparecida Moisés, da Universidade de Campinas (Unicamp), explica que algumas substâncias vêm sendo utilizadas como amplificadores cognitivos, a exemplo do metilfenidato e do clonazepam, que não são drogas seguras, especialmente para as crianças.
A professora explica que essas drogas são psicotrópicos e tranquilizantes que podem aumentar em até sete vezes o risco de morte súbita e inexplicada em crianças que as tomam quando comparadas com aquelas que não fazem uso desses medicamentos. Para Maria, em vez de se discutir a vida e os valores da sociedade, há uma inversão que faz com que todos acreditem que têm transtornos a serem tratados.
Segundo Maria Aparecida, é preciso adotar uma política educacional que assuma o princípio fundamental de que todos podem e têm o direito de aprender, independente de suas limitações. Para tal, a especialista sugere o envolvimento de outros profissionais no processo educativo, como neuropsicólogos, fonoaudiólogos, psicólogos e psiquiatras.
As discussões sobre o tema fazem parte da campanha “Não à Medicalização da Vida”, lançada pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) e pelo Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade.
Fonte: Diário da Saúde, 16 de julho de 2012
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