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É Cedo Para Transplantar Corações de Animais em Humanos

Por Maggie Fox

WASHINGTON (Reuters)
- É muito cedo para iniciar experimentos com transplantes de coração ou pulmão de animais para seres humanos porque o procedimento ainda é muito arriscado, informou um grupo internacional de transplante na sexta-feira.

Embora os órgãos de animais, como porcos, signifiquem um suprimento ilimitado para transplantes, eles ainda não funcionam bem em humanos e há grandes possibilidades de que um vírus desconhecido possa passar para a população humana, de acordo com a International Society for Heart and Lung Transplantation (Sociedade Internacional para Transplante de Coração e Pulmão).

Vários estudos mostram que os porcos são portadores do retrovírus endógeno suíno (Perv's, sigla para porcine endogenous retroviruses). Os seres humanos também são portadores de uma versão desse vírus e ainda não se sabe se eles podem ser transmitidos por transplantes de tecidos ou órgãos. Sabe-se, porém, que eles podem ser transmitidos de uma espécie para outra.

"Queremos ressaltar o fato de que esse procedimento não pode ser considerado seguro e de que até o momento não há dados suficientes sobre as consequências de um transplante", disse David Cooper, ex-cirurgião especializado em transplantes e presidente da International Xenotransplant Association. Atualmente, Cooper trabalha no Hospital Geral e na Escola de Medicina de Harvard, em Boston.

Os cientistas não só temem que os pacientes possam ser infectados, mas que o vírus sofra mutações no organismo, se torne mais perigoso e se espalhe pela população em geral. A Bio Transplant Inc., empresa de Massachusetts, informou que criou porcos em miniatura que tinham o vírus, mas que não os transmitiram para células humanas como ocorre com os porcos normais.

"Nenhum pulmão de porco transplantado funcionou sequer por 24 horas", apontou o grupo em artigo publicado na edição de sexta-feira do Journal of Heart and Lung Transplantation.

A razão é que as células dos porcos são cobertas por um açúcar que o corpo humano rejeita. Os cientistas estão tentando modificar geneticamente os porcos para que suas células não apresentam este açúcar.

Para Cooper, há muita discussão e pouca orientação sobre os xenotransplantes, transplantes de órgãos de animais para humanos. "Por isso decidimos fazer nossas recomendações", explicou Cooper.

Entre elas as exigências está a de que 60 por cento dos primatas, como o babuíno, viva por, no mínimo, três meses com um órgão transplantado de outro animal antes de ser considerada a possibilidade de testes em humanos.

Mais de 70 mil norte-americanos e centenas de milhares de pessoas em todo o mundo estão nas listas de espera por órgãos. Estima-se que dez pessoas morram por dia nos EUA enquanto esperam pelo transplante.

Cooper disse temer que as notícias sobre o uso de órgãos de porcos possam tornar as pessoas menos propensas a doar seus órgãos ou os órgãos de seus parentes. "É bom deixar claro para o público que neste momento não estamos prontos para o xenotransplante", disse Cooper.

Entre as empresas que pesquisam o xenotransplante está a Geron, Imutran (subsidiária britânica da Novartis da Suíça) Nextran Inc. (divisão da Baxter Healthcare Corporation), DeForest, Ifigen (com sede em Wisconsin), Alexin Pharmaceutical Inc. (de New Haven), Genzyme Transgenic Corp. (de Connecticut e Boston).

Sinopse preparada por Reuters Health

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