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Francês Divulga no Brasil Estudo para Vacina Anti-Aids

SÃO PAULO (Reuters) - O cientista francês Jean Claude Chermann, co-descobridor do HIV e idealizador de uma vacina contra Aids que pretende combater o vírus em todos os pacientes contaminados, está no Brasil para avaliar o interesse de centros nacionais de referência em Aids em participar do projeto de sua vacina.

A linha de pesquisa de Chermann para a vacina utiliza como antígeno uma parte específica do vírus, chamada de R7V, para ativar as defesas imunológicas do organismo, afetadas pelo vírus causador da Aids.

Na quinta-feira à noite, Chermann tinha agendada uma reunião com cerca de 100 especialistas brasileiros em Aids para relatar os resultados de seus estudos até agora e sondar o interesse de centros nacionais em fazer parte da próxima etapa do projeto de desenvolvimento da vacina.

"Em breve, serão iniciados os estudos pré-clínicos e clínicos da vacina", disse Chermann, diretor científico do Instituto Nacional de Pesquisa de Saúde e Médica (Inserm) da França, durante entrevista coletiva na quinta-feira, em São Paulo.

Nessa etapa, Chermann, em associação a outros centros mundiais, pretende descrever o mecanismo da vacina à comunidade científica e começar a testá-la em pacientes.

"Nossos estudos identificaram um anticorpo comum a portadores do HIV assintomáticos que era específico para este antígeno, o R7V", explicou o pesquisador francês.

"O R7V é um pedaço da proteína beta-2 microglobulina, que se incorpora na superfície do HIV quando ele deixa a célula humana", explicou o médico brasileiro, Ricardo de Oliveira, diretor da empresa Hemagen. Oliveira vem colaborando nos estudos de Chermann, sendo responsável pela identificação do R7V e pelo desenvolvimento de exames para identificar a presença do anticorpo.

"Num primeiro momento, serão realizados, em um centro médico, exames para identificar a presença do anticorpo em cerca de 100 pacientes HIV positivo contaminados há pelo menos dez anos", explicou Oliveira.

Segundo Chermann, depois, com a aprovação de agências reguladoras, será realizada uma imunização passiva em humanos, com transfusões de anticorpos para pacientes sintomáticos que não respondem mais ao tratamento com drogas.

Além disso, serão fornecidas a vacina terapêutica, contendo o antígeno, para estimular a produção de anticorpos em pessoas sintomáticas, e a vacina de prevenção, também contendo o antígeno, em pessoas que nunca tiveram contato com o HIV. VACINA ESTÁ EM FASE INICIAL DE TESTES

O médico Ésper Kallas, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), destacou que os estudos com a vacina de Chermann correspondem a fases iniciais do desenvolvimento da vacina.

"É preciso alertar as pessoas de que a vacina não está em vias de ser concluída para não criar falsas esperanças", disse Kallas.

"Estes parecem ser estudos iniciais de fase 1, em que é analisada a toxicidade da vacina", afirmou Kallas, acrescentando que existem mais de 60 estudos com vacinas contra a Aids em todo o mundo em fase 1.

Kallas destacou que, apesar de conhecer pouco a vacina de Chermann, tem algumas dúvidas em relação a sua eficácia em humanos, já que seu antígeno, o R7V, também está presente em células humanas. "A vacina também não poderia afetar células normais?", questionou Kallas.

Sinopse preparada por Reuters Health

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