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Afinal: ivermectina funciona ou não na COVID-19?

22 de março de 2021 (Bibliomed). Infelizmente, muitos dos tratamentos iniciais adotados com entusiasmo para manuseio de pacientes portadores de COVID-19 desde o ano passado se mostraram ineficazes. Tal foi o caso da Cloroquina/hidroxicloroquina, e depois da azitromicina (associada ou não a uma das duas drogas anteriormente citadas). Foi demonstrado de modo cabal por inúmeros estudos que estes medicamentos não funcionam como prevenção, e nem no tratamento de casos iniciais, e muito menos no tratamento de casos já estabelecidos. 

Além de ter levado a ganhos para os laboratórios que os produziram, aos profissionais que os prescreveram e às farmácias que os venderam, e de ter gerado milhões de tratamentos inúteis, o uso destes remédios (ressalte-se que são medicamentos bons e clássicos, caso sejam usados dentro de indicações corretas), levou à politização do tratamento da COVID-19 em nosso país, e deu falsas esperanças de cura aos pacientes que os usaram. Uma inutilidade total. 

Mas sobrou a ivermectina, que fazia parte (juntamente com o zinco e vitamina D) do tal "tratamento precoce" preconizado por políticos e muitos médicos; médicos que, talvez no afã de buscarem a cura para seus pacientes (e quem sabe também por motivos políticos, já que o "tratamento precoce" tornou-se uma bandeira de um grupo de cidadãos), abraçaram cegamente essa ideia. Afinal, a ivermectina funciona na COVID-19? 

Em relação à ivermectina, e em sua defesa, pode-se dizer que ela é um agente anti-helmíntico (anti-parasitas intestinais; vermífugo) semissintético que se liga seletivamente aos canais de íon cloreto dependentes de glutamato encontrados em células nervosas e musculares de invertebrados. Além disso, uma atividade antiviral em vírus de RNA e DNA também foi relatada. Um problema adicional relativo a ivermectina se refere às doses que seriam eventualmente usadas na COVID-19. A ivermectina provou ser um medicamento seguro em doses repetidas em massa, mesmo em doses mais altas do que o recomendado. No entanto, há relatos raros de efeitos adversos graves, como hepatite grave e vários graus de encefalopatia após ivermectina. 

Pesquisadores conduziram um estudo in vitro (ou seja, em laboratório, e fora de organismos vivos), no qual inocularam o vírus SARS-CoV-2 em culturas de células Vero / hSLAM, e descobriram que a ivermectina na dose de 5 µM reduziu em aproximadamente 5000 vezes o RNA viral em 48 h. Assim, justificou-se uma investigação mais aprofundada para possíveis benefícios em humanos para avaliar a eficácia clínica da ivermectina. Esta descoberta foi publicada na revista Antiviral Research, de Junho de 2020. Afinal, uma esperança de tratamento real havia surgido. 

O estudo mais recente publicado em revista médica (The Lancet) sobre a ivermectina é um ensaio clínico piloto onde não se encontraram diferenças significativas na detecção do RNA da SARS-CoV-2 de esfregaços nasofaríngeos nos dias quatro e sete após o tratamento com uma única dose oral de 400 mcg / Kg de ivermectina (n = 12) ou placebo (n = 12). Todos os pacientes eram adultos jovens com COVID-19 não grave, sem fatores de risco e não mais do que 72 horas desde o início dos sintomas. Apesar deste resultado negativo, parecia haver uma tendência para reduzir a carga viral e uma recuperação precoce da hiposmia / anosmia (alteração do olfato) no grupo tratado. Os eventos adversos não foram estatisticamente significativos, e os autores sugerem avaliar a ivermectina para o tratamento precoce com COVID-19 e como profilaxia pré-exposição em grupos de alto risco. 

Um grupo do Peru, liderado pelo pesquisador Alex Castañeda-Sabogal acaba de enviar para publicação (27 de janeiro de 2021) uma revisão sistemática e metanálise acerca do tema do uso da ivermectina na COVID-19. Chama-se a esse tipo de estudo aquele onde se buscam artigos científicos com indivíduos estudados e que é planejada para responder a uma pergunta criada previamente à sua execução. A metanálise é a análise estatística realizada com os resultados dos estudos identificados como relevantes do processo de sistematização da literatura analisada. 

No levantamento realizado, após a seleção, doze estudos (cinco estudos de coorte retrospectivos, seis ensaios clínicos randomizados e uma série de casos) foram incluídos. No total, 7.412 participantes foram relatados, a idade média foi de 47,5 anos e 4.283 (58%) eram do sexo masculino. Verificou-se que a ivermectina não foi associada com diminuição da mortalidade, ou recuperação mais rápida do paciente. Todos os estudos tiveram um alto risco de viés e mostraram uma certeza muito baixa das evidências. 

A conclusão foi a de que não há certeza e qualidade de evidências/informações suficientes para recomendar o uso de ivermectina para prevenir ou tratar pacientes ambulatoriais ou hospitalizados com COVID-19. 

Fontes: Antiviral Research. Volume 178, June 2020, 104787; EClinicalMedicine. DOI: 10.1016/j.eclinm.2020.100720EClinical Medicine. DOI: 10.1016/j.eclinm.2021.100744; medRxiv preprint DOI: 10.1101/2021.01.26.21250420.

Copyright © 2021 Bibliomed, Inc.

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