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Juventude: Uma Época Especial de Ser

Especialista na área aborda o assunto

Adolescência - do latim “Adolesco” significa crescer, desenvolver-se. Uma época de conflitos, expectativas, novas perspectivas, fantasias. Mas, o que ser um jovem, um adolescente? Para a pediatra Dra. Rúbia Carla Souza Teixeira, especialista em hebiatria, a adolescência é uma fase de transição gradual entre a infância e o estado adulto que se caracteriza por profundas transformações corporais, psicológicas e sociais.

A adolescência situa o ser humano entre os limites da dependência infantil e da autonomia do adulto. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a adolescência pode ser definida cronologicamente pela faixa etária dos 10 aos 20 anos de idade - a segunda década de vida.

De acordo com o critério físico ou biológico, a adolescência, segundo Dra. Rúbia, abrange a fase de modificações anatômicas e fisiológicas que transforma a criança em adulto. Do ponto de vista psicológico, a adolescência representa um período de mudanças entre a infância e a idade adulta relacionadas fundamentalmente a uma busca de identidade, a uma aceleração do desenvolvimento intelectual e a uma evolução da sexualidade.

Inicialmente, o adolescente nega suas transformações, vive a ambivalência entre ser criança e continuar o desenvolvimento normal e progredir; em certo momento desvia o seu rumo questionando a família e o mundo. Além disso, ele rompe vínculos e parte em busca de si junto com outros que vivenciam o mesmo processo. Às vezes interioriza-se, isola-se, na tentativa de compreender seu momento evolutivo. Nessas ocasiões avalia os ganhos e sofre profundamente as perdas. No final da adolescência, ocorre o inevitável, a sua aceitação como pessoa destinada a prosseguir na busca de si e de sua maturidade.

Juventude & Vítimas

Dra. Rúbia Souza Teixeira explica que na adolescência, o jovem passa por um “período passageiro de longa duração” e de profundas e intensas transformações corporais, psicológicas e comportamentais.

Época de conflitos que pode levá-lo à comportamentos variados e que, algumas vezes, se faz necessário à atuação de diversos profissionais, seja médicos, psicólogos, educadores, terapeutas corporais para um completo atendimento à saúde do adolescente. Dessa maneira fica assegurado ao adolescente um suporte para que possa conviver em interdependência sadia com a família e a sociedade.

Incentivados bombasticamente pela mídia, os jovens hoje recebem uma grande carga de influências, tanto negativas como positivas. Um fato considerado inegável na sociedade de consumo atual e, que na grande maioria das vezes pode levar este adolescente às diversas trilhas do comportamento, criando fatos e situações que podem influenciar no resto de sua vida.

Por um outro lado, acrescenta a médica, as manchetes na mídia escrita ou televisada têm dado destaque cada vez maior aos adolescentes, por serem protagonistas ou vítimas de atos violentos no cotidiano urbano atual.

O uso de drogas ilícitas, a violência e a gravidez precoce, estão cada vez mais freqüentando o universo destes jovens, ainda em formação. Dentre estes problemas enfrentados pela juventude atual e pela Sociedade na qual o mesmo está inserido, a médica destaca a questão da gravidez na adolescência, pois este problema tem sido bem estudado e com números estatísticos mais confiáveis.

Segundo ela, a cada ano 14 milhões de adolescentes dão a luz no mundo, de acordo com Alan Guttamacher Institute. No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, o parto representa a primeira causa de internação de meninas no Sistema Público de Saúde. Além disso, em nosso país, 14% das mulheres abaixo de 15 anos já tinham ao menos um filho (Fonte: Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde, no 1997), como também, de acordo o programa de Saúde da Mulher, é estimado que ocorram no Brasil de 1 a 1,2 milhões de abortos ao ano, informa.

No conjunto, estes dados nos fazem refletir sobre a condição de jovens que, ainda em idade escolar, são obrigadas a abandonar sua formação para dedicar precocemente a uma nova vida, a maioria das vezes não desejada.

São jovens fora da escola, comprometendo seu futuro e o futuro de seus filhos. São crianças muitas vezes, que cuidam de crianças, frisa a médica.

“A gravidez na adolescência, como os demais problemas que afetam os nossos jovens, deveria ter de toda a nossa sociedade um espaço maior para reflexão, motivando idéias e ações que visem minimizar estes problema(s), trazendo bons frutos para esta mesma sociedade”.

Informação – Uma prioridade

Por um outro lado, mais informados, menos românticos e mais resolvidos, os jovens de hoje precisaram reinventar o prazer porque nasceram sobre o signo da Aids – um mal que já é maior de idade no Brasil. Falar abertamente sobre sexo é hoje uma exigência dos tempos atuais.

Com o novo sinal de alarme, estima-se que 50% das contaminações recentes pelo HIV, em todo o mundo estejam entre os chamados "teenagers" – um número em torno de 8 mil – segundo uma pesquisa demográfica pela Sociedade Civil do Bem-Estar que ainda mostrou a idade média (16 anos para as mulheres e 19 anos para os homens) para o início da prática sexual.

Outro dado importante foi levantado pela Universidade de São Paulo, no Projeto Sexualidade quando mais de 700 alunos de escolas públicas, responderam que os preservativos devem ser usados para proteção. Porém, somente a metade deles, confirmou o seu uso.

Vulneráveis? Sim, por isso é importante o diálogo entre pais, familiares, amigos e o acompanhamento de um profissional habilitado para atender ao jovem. Hebiatria – a medicina do adolescente Dra. Rúbia Teixeira comenta que Aristóteles (384 a 322 AC), na Grécia Antiga, já fazia uma reflexão desta etapa do desenvolvimento humano:

“Os adolescentes estão prontos a transformar qualquer desejo em ação. Dos desejos corporais, estão mais dispostos a ceder ao desejo sexual, não exercendo autocontrole. Gostam de honra, mais ainda de vitória.

São cuidadosos mais do que o contrário; confiam, pois ainda não foram muitas vezes enganados. São veementes e intensos, porque ainda não experimentaram fracassos freqüentes; suas vidas são vividas principalmente de esperança - esperança é o futuro; memória é o passado.” As origens da Medicina do Adolescente não são claras, porém antes do término do século passado já havia alguns médicos interessados no crescimento e desenvolvimento de adolescentes e em suas doenças.

Em 1887 - Bowditch publicou estudo clássico de crescimento desta faixa etária e, em 1888 foi fundada por médicos ingleses a Medical Officers of Schools Association - Associação de Médicos de Escolas. No ano de 1918 acontece a primeira referência sobre uma Clínica Médica para Adolescentes. A partir dos anos 50, o estudioso Tanner fez o aperfeiçoamento do método de estadiamento dos caracteres sexuais.

Em 1955 surge o primeiro Serviço de Adolescência Multiprofissional da América Latina. A partir daí, registramos no ano de 1974 o surgimento no Brasil de grupos multiprofissionais para atendimento de adolescentes. Em 1978, a Sociedade Brasileira de Pediatria cria o Comitê de Adolescência. Assim deu o início a realização de vários congressos sobre o tema, como em 1985, o Iº Congresso Brasileiro de Adolescência.

Já em 1989 é fundada a Asbra - Associação Brasileira de Adolescência. Atualmente começa a surgir cursos de pós-graduação a fim de formar profissionais capacitados no atendimento do adolescente de forma integral. A Hebeatria do grego Hebe (puberdade), é a designação para o profissional que se dedica ao atendimento do adolescente, finaliza a médica.

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