Artigos de saúde

Menopausa

© Equipe Editorial Bibliomed

Neste artigo:

- Introdução
- Manifestações clínicas
- Osteoporose
- Alterações cardiovasculares
- Alterações sobre o sistema nervoso central
- Menopausa e câncer de mama
- Cuidados durante a menopausa
- Conclusão
- Referências

Introdução

Apesar do tempo passado durante a menopausa ter aumentado graças à maior expectativa de vida, a idade em que o fenômeno ocorre, aproximadamente 50-51 anos, não mudou muito desde a antiguidade. As mulheres na Grécia antiga experimentavam a menopausa na mesma idade que as mulheres modernas, com o período de transição sintomática em geral começando entre os 45 e 47 anos de idade.

A menopausa é uma parte universal e irreversível do processo de envelhecimento do aparelho reprodutor feminino, sendo definida como a ausência de fluxo de menstrual por mais de 12 meses consecutivos, associada a sintomas vasomotores e urogenitais. O termo Climatério corresponde ao período sintomático que antecede em 5-10 anos a menopausa. Alguns fatores podem reduzir a idade de surgimento da menopausa fisiológica, incluindo tabagismo, histerectomia, distúrbios autoimunes e viver em grandes altitudes.

Manifestações clínicas

Os sintomas típicos do climatério incluem fogachos, insônia, ganho ponderal, alterações de humor, menstruações irregulares, mastodinia e cefaléia.

A função ovariana irregular e a flutuação considerável nos níveis de estrógenos – ao invés de uma deficiência flagrante – causam os sintomas climatéricos durante a menopausa. É por este motivo que emprego de anticoncepcionais orais (ACOs) e a terapia de reposição hormonal (TRH) resultam em alívio destas manifestações: eles interrompem a flutuação hormonal. A medida em que os anos pós-menopausa avançam, os sintomas climatéricos também diminuem.

Os efeitos da depleção de hormônios gonadais podem ser bem visíveis durante o exame de pelve. Com a perda de estrogênio, o epitélio vaginal se torna mais avermelhado, devido ao afinamento da camada epitelial e aumento da visibilidade dos capilares logo abaixo da superfície. Posteriormente, à medida que o epitélio vaginal atrofia, a superfície se torna pálida devido à redução no número de capilares. A redução no pH urinário, levando a alterações na flora bacteriana, pode resultar em prurido e fluxo vaginal com odor fétido. O pregueamento cutâneo também diminui e as paredes vaginais se tornam mais frágeis. Estas modificações quase sempre resultam em dispareunia e, em muitas mulheres, quando não tratadas, terminam levando à abstinência sexual.

Dentro da pelve, o útero e os ovários se tornam menores. Os miomas (quando presentes) se tornam menos sintomáticos, algumas vezes encolhendo a ponto de não poderem mais ser palpados através do exame pélvico. Os sintomas de endometriose e adenomiose também diminuem com a menopausa

Em mulheres mais velhas, a perda de tônus pélvico pode se manifestar com prolapso dos órgãos geniturinários. Sensação de pressão vaginal, na região lombar ou protrusão do intróito vaginal são comuns nas mulheres com prolapso. Ao exame, pode-se detectar a presença de cistocele, retocele e/ou prolapso uterino como causa dos sintomas.

A cistite atrófica, quando presente, pode simular um quadro de infecção do trato urinário. As mulheres afetadas se queixam de polaciúria, disúria e incontinência urinária.

Além das alterações nos órgãos pélvicos, outras mudanças ocorrem no restante do corpo. A pele perde elasticidade, a densidade mineral óssea (DMO) diminui, e o tecido mamário denso é substituído por tecido adiposo, facilitando a avaliação mamográfica.

A maioria das mulheres que procura auxílio médico na menopausa o faz devido aos fogachos. Estas crises súbitas de calor podem ser observadas em 75% das mulheres na peri- ou pós-menopausa, e freqüentemente causam desconforto significativo, embaraço social, distúrbios do sono e labilidade emocional. Os episódios vasomotores costumam durar apenas alguns poucos minutos, com freqüência variável.

O fogacho vasomotor é descrito como uma sensação de calor que se inicia na área umbilical e se move para cima, em direção à cabeça, acompanhado de sudorese na parte superior do corpo. Outros sintomas cardiovasculares e neurológicos (p.ex.: palpitações, vertigens, enxaqueca com fotofobia, etc) também podem ocorrer.

Osteoporose

Apesar da osteoporose ser uma das doenças mais incapacitantes em mulheres idosas, o problema ainda não é levado a sério o suficiente pela maioria das pacientes. Com o tratamento adequado, a osteopenia é uma seqüela perfeitamente evitável da menopausa.

A osteoporose é definida como uma DMO igual ou maior que 2,5 abaixo do desvio padrão previsto. A osteopenia consiste em uma DMO entre 1,0 e 2,5. Quando mais jovem a mulher for no momento da menopausa, mais severo tende a ser o processo de osteoporose. Outros fatores de risco que contribuem para a severidade da osteoporose incluem compleição magra, tabagismo, inatividade física e pouca exposição à luz do Sol.

A densitometria óssea é capaz de detectar tanto a osteopenia quanto a osteoporose, e está indicada em todas as mulheres menopausadas.

A TRH ainda é considerada um bom tratamento para osteoporose, mas, como suas indicações mudaram, outros medicamentos vêm se tornando mais populares no tratamento deste distúrbio. Os principais incluem raloxifeno (modulador seletivo dos receptores de estrogênio), calcitonina (hormônio peptídeo que atua inibindo os osteoclastos) e bifosfonados (atuam inibindo a reabsorção óssea).

A suplementação de cálcio (1.000 a 1.500 mg/dia) e vitamina D, associada a exercícios regulares, ainda é considerada uma medida profilática eficaz.

Alterações cardiovasculares

A insuficiência coronariana (ICO) é a principal causa de morbidade e mortalidade em mulheres na pós-menopausa, contudo, ainda não existem dados suficientes para afirmar que a TRH seja capaz de reduzir a incidência de ICO nesta população.

Algumas pesquisas sugerem que a TRH, quando iniciada na perimenopausa (antes do desenvolvimento das alterações ateroscleróticas), possa ser benéfica. Porém, passados cinco anos após a menopausa, as lesões arteriais já estão instaladas e não podem ser revertidas pela TRH. Os riscos de ICO são maiores em mulheres menopausadas com dislipidemia.

Alterações sobre o Sistema Nervoso Central

A associação entre os estrógenos e o funcionamento da memória vem sendo intensamente pesquisada. O envelhecimento normal induz um declínio em certas capacidades cognitivas, e a ausência de estrógenos pode contribuir para este processo. Se isto for comprovado, a TRH na pós-menopausa pode ser capaz de preservar esta função cerebral e retardar (ou mesmo evitar) a perda de certas funções cognitivas.

As pesquisas atuais sugerem que as mulheres apresentam uma maior incidência de Alzheimer que os homens, principalmente pelo fato delas viverem mais que os homens (a doença de Alzheimer está diretamente ligada à idade). Contudo, a TRH não parece melhorar as funções cognitivas em pacientes com doenças de Alzheimer, apesar de alguns estudos sugerirem que ela possa reduzir o risco para a doença ou mesmo retardar seu início.

Ainda não está claro o papel dos estrógenos no desenvolvimento de distúrbios depressivos em mulheres na perimenopausa ou na menopausa.

Menopausa e câncer de mama

Alguns estudos mostram um aumento no risco para câncer na mama em mulheres menopausadas que fazem TRH com estrógenos, outros mostram exatamente o contrário. Existem pesquisas sugerindo que os tumores tendem a ser mais localizados e o índice de sobrevida, maior, em mulheres sob TRH diagnosticadas com neoplasias mamárias.

A verdade é: apesar da TRH ser benéfica para aliviar os sintomas vasomotores na menopausa, ainda há muito para ser pesquisado com relação ao seu papel na gênese do câncer mamário. De um modo geral, as recomendações atuais defendem que a TRH não deve ser empregada em mulheres com história familial positiva para neoplasias na mama.

Cuidados durante a menopausa

A menopausa afeta as mulheres de maneiras diferentes, com maior ou menor impacto. Contudo, é possível adotar algumas atitudes para amenizar os sintomas e garantir a saúde nesta fase. Mulheres na menopausa devem realizar, anualmente, a mamografia. Deve-se ter cuidado especial com a alimentação, optando por alimentos ricos em cálcio, como legumes verdes escuros, leite e derivados pobres em gorduras (desnatado), e reduzir o consumo de gorduras saturadas. A prática de exercícios físicos ajuda a combater a depressão e a melhorar a circulação, mobilidade, densidade óssea a gera uma sensação de bem estar. Um cuidado especial deve ser dado à vida sexual. A diminuição da lubrificação vaginal pode tornar a relação sexual dolorosa, sendo aconselhável o uso de cremes lubrificantes durante o ato sexual. Além disso, não se deve abrir mão  do uso de métodos contraceptivos, uma vez que, apesar da instabilidade no ciclo menstrual, a mulher ainda é fértil.

Conclusão

A menopausa é um período de intensas mudanças. A condução adequada das pacientes durante esta etapa turbulenta de suas vidas requer um amplo conhecimento dos possíveis distúrbios associados e dos riscos e benefícios envolvidos na abordagem terapêutica.

Referências

- Royer M, Castelo-Branco C, Blumel JE, Chedraui PA, Danckers L, Bencosme A, Navarro D, Vallejo S, Espinoza MT, Gomez G, Izaguirre H, Ayala F, Martino M, Ojeda E, Onatra W, Saavedra J, Tserotas K, Pozzo E, Manriquez V, Prada M, Grandia E, Zuniga C, Lange D, Sayegh F; Collaborative Group for Research of the Climacteric in Latin America. The US National Cholesterol Education Programme Adult Treatment Panel III (NCEP ATP III): prevalence of the metabolic syndrome in postmenopausal Latin American women. Climacteric. 2007 Apr;10(2):164-70.

- Board of the International Menopause Society, Pines A, Sturdee DW, Birkhauser MH, Schneider HP, Gambacciani M, Panay N. IMS updated recommendations on postmenopausal hormone therapy. Climacteric. 2007 Jun;10(3):181-94.

- Harlow SD, Crawford S, Dennerstein L, Burger HG, Mitchell ES, Sowers MF; ReSTAGE Collaboration. Recommendations from a multi-study evaluation of proposed criteria for staging reproductive aging. - Climacteric. 2007 Apr;10(2):112-9.

- Huang WF, Tsai YW, Hsiao FY, Liu WC. Changes of the prescription of hormone therapy in menopausal women: an observational study in Taiwan. BMC Public Health. 2007 Apr 17;7:56.

- Palmer MH, Newman DK. Urinary incontinence and estrogen. Am J Nurs. 2007 Mar;107(3):35-6, 37.

- Untch M, Jackisch C. Optimal treatment strategies in hormone-responsive early breast cancer: the role of aromatase inhibitors. Onkologie. 2007 Feb;30(1-2):55-64.

- Pfeilschifter J; German Specialist Organisation for Osteology. 2006 DVO-guideline for prevention, diagnosis, and therapy of osteoporosis for women after menopause, for men after age 60 executive summary guidelines. Exp Clin Endocrinol Diabetes. 2006 Nov;114(10):611-22.

- Dormire S, Becker H. Menopause health decision support for women with physical disabilities. J Obstet Gynecol Neonatal Nurs. 2007 Jan-Feb;36(1):97-104.

- Lentle B, Worsley D. Osteoporosis redux. J Nucl Med. 2006 Dec;47(12):1945-59.

- Grady D. Clinical practice. Management of menopausal symptoms. N Engl J Med. 2006 Nov 30;355(22):2338-47.

- Schmidt JW, Wollner D, Curcio J, Riedlinger J, Kim LS. Hormone replacement therapy in menopausal women: Past problems and future possibilities. Gynecol Endocrinol. 2006 Oct;22(10):564-77.

- Doyle H. Effective topical treatments for atrophic vaginitis. JAAPA. 2006 Oct;19(10):33-8.

- Practice Committee of the American Society for Reproductive Medicine. The menopausal transition. Fertil Steril. 2006 Nov;86(5 Suppl):S253-6.

- Pace DT. Menopause: studying the research. Nurse Pract. 2006 Aug;31(8):17-23; quiz 23-5.

- Ettinger B, Barrett-Connor E, Hoq LA, Vader JP, Dubois RW. When is it appropriate to prescribe postmenopausal hormone therapy? Menopause. 2006 May-Jun;13(3):404-10.

- Brunin K. Hormonal therapy in menopausal women. Kans Nurse. 2006 Apr;81(4):1-2.

- Belisle S, Blake J, Basson R, Desindes S, Graves G, Grigoriadis S, Johnston S, Lalonde A, Mills C, Nash L, Reid R, Rowe T, Senikas V, Senikas V, Turek M. Canadian consensus conference on menopause, 2006 update. J Obstet Gynaecol Can. 2006 Feb;28(2 Suppl 1):S7-S94.

Copyright © Bibliomed, Inc.    18 de março de 2020