Artigos de saúde
A violência contra as mulheres é o tipo mais generalizado de abuso dos direitos 
humanos no mundo, apesar de ser também o menos reconhecido. É também um problema 
grave de saúde, já que mina a energia da mulher, comprometendo sua saúde física 
e desgastando sua auto-estima. Apesar destes altos custos, a maioria das 
sociedades do mundo tem instituições sociais que legitimam, obscurecem ou negam 
este tipo de abuso. Os mesmos atos que seriam punidos se perpetrados contra um 
empregador, vizinho ou conhecido, com freqüência permanecem impunes quando 
perpetrados contra as mulheres, especialmente dentro de uma mesma família.
Há mais de duas décadas que os grupos de defesa dos direitos das mulheres vêm 
procurando atrair mais atenção ao abuso físico, psicológico e sexual das 
mulheres, salientando a necessidade de ações concretas. Estes grupos colocam 
abrigos à disposição das mulheres, fazem campanhas para promover reformas legais 
e desafiam as atitudes e crenças disseminadas que apoiam o comportamento 
violento contra as mulheres (209).
Cada vez mais, estes esforços estão tendo resultados. Hoje, existem instituições 
internacionais que protestam contra a violência de gênero (veja a tabela 01). Pesquisas e estudos estão coletando mais informações sobre a prevalência e a 
natureza do abuso. Mais organizações, serviços de saúde e autoridades estão 
reconhecendo que a violência contra as mulheres tem conseqüências graves para 
sua saúde e para a sociedade.
Um número crescente de programas e profissionais de saúde reprodutiva já entende 
o papel essencial que têm de cumprir no combate à violência, não somente 
ajudando as vítimas individualmente mas também prevenindo o abuso. Quanto mais 
se tomar conhecimento do impacto da violência de gênero e das razões 
subjacentes, mais programas encontrarão formas de combatê-la. (Veja a figura 1)
O que é a violência contra as mulheres?
O termo “violência contra as mulheres” engloba muitos tipos de comportamentos 
nocivos cujo alvo são mulheres e meninas, simplesmente por serem do sexo 
feminino. Em 1993, a Assembléia Geral das Nações Unidas introduziu a primeira 
definição oficial deste tipo de violência quando adotou a Declaração para 
Eliminação da Violência Contra as Mulheres. De acordo com o Artigo 1 desta 
declaração, a violência contra as mulheres inclui:
Qualquer ato de violência de gênero que resulte ou possa resultar em dano 
físico, sexual ou psicológico ou sofrimento para a mulher, inclusive ameaças de 
tais atos, coerção ou privação arbitrária da liberdade, quer isto ocorra em 
público ou na vida privada. (444)
Há um consenso crescente, como o refletido na declaração acima, de que os abusos 
perpetrados contra mulheres e meninas, seja onde e como ocorrerem, são melhor 
entendidos dentro de um quadro de referência do “gênero”, pois tais abusos 
surgem em parte da subordinação da mulher e da criança na sociedade.
O artigo 2 da Declaração das Nações Unidas mostra que a definição da violência 
contra as mulheres deve incluir mas não se limitar aos atos de violência física, 
sexual e psicológica na família e na comunidade. Estes atos incluem o 
espancamento conjugal, o abuso sexual de meninas, a violência relacionada a 
questões de dotes, o estupro, inclusive o estupro conjugal, e outras práticas 
tradicionais prejudiciais à mulher, tais como a mutilação genital feminina (MGF). 
Também incluem a violência não conjugal, o assédio e intimidação sexual no 
trabalho e na escola, o tráfico de mulheres, a prostituição forçada e a 
violência perpetrada ou tolerada por certos governos, como é o caso do estupro 
em situações de guerra.
Este número de Population Reports focaliza principalmente dois tipos de 
violência: (1) o abuso das mulheres no casamento e outros relacionamentos 
íntimos, e (2) o sexo sob coação, quer este ocorra na infância, adolescência ou 
idade adulta. Esta abordagem reflete os tipos de abusos mais encontrados nas 
vidas das mulheres e meninas ao redor do mundo. 
Outras formas de abuso-tais como o tráfico de mulheres, o estupro durante as 
guerras, o infanticídio feminino e a MGF-são também importantes. No entanto, não 
foram incluídos neste informe por já terem sido considerados separadamente. Ao 
concentrar-se na violência pelos parceiros íntimos e no sexo coagido, este 
informe pode discutir com maior profundidade estes problemas e as possíveis 
respostas dos programas.
A violência contra as mulheres é diferente da violência interpessoal em general. 
A natureza e os padrões de violência contra os homens, por exemplo, são 
tipicamente diferentes dos sofridos pelas mulheres. Os homens têm maior 
probabilidade de serem vítimas de pessoas estranhas ou pouco conhecidas, 
enquanto que as mulheres têm maior probabilidade de serem vítimas de membros de 
suas próprias famílias ou de seus parceiros íntimos (55, 96, 212, 258, 436). 
Como, freqüentemente, as mulheres estão envolvidas emocionalmente e dependem 
financeiramente daqueles que as agridem, isto tem profundas implicações sobre a 
forma em que as mulheres experimentam a violência e sobre a decisão de como 
melhor intervir no processo. (Veja o quadro 1)
Population Reports is published by the Population Information Program, Center for Communication Programs,
The Johns Hopkins School of Public Health, 111 Market Place, Suite 310, Baltimore,
Maryland 21202-4012, USA
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