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A medicina tradicional oferece esperança de novos medicamentos

WASHINGTON – A medicina tradicional, derivada de fontes naturais como plantas, oferece um potencial inesgotável para o desenvolvimento de novos medicamentos, de acordo com uma série de apresentações na semana passada no encontro anual da American Association for the Advancement of Science.

Dois dos conferencistas, Dr. Mahabir Gupta da Universidade do Panamá, e Dr. Kurt Hostettmann da Universidade de Lausanne, Suíça, também descreveram drogas atuais promissoras derivadas da medicina tradicional na América Latina e África.

"A natureza tem sido usado ao longo dos milênios para o tratamento de doenças, e muitas de nossas drogas bem conhecidas são derivadas de fontes naturais", disse o Dr. Gordon M. Cragg do Instituto Nacional do Câncer em Bethesda, Maryland, Estados Unidos.

Muitas das drogas que são usadas na medicina tradicional ao redor do mundo vêm de plantas, ele observa, e aproximadamente 80% da população mundial depende da medicina tradicional em seus cuidados básicos de saúde. A medicina derivada da natureza inclui o analgésico morfina, derivada da flor do ópio, e a droga anti-asma efedrina, derivada de uma planta muito usada na medicina chinesa tradicional.

Mas mesmo com as companhias farmacêuticas recorrendo cada vez mais à tecnologia para gerar novas drogas em potencial, os apresentadores concordaram que as fontes naturais como plantas, micróbios, e fungos oferecem a melhor esperança, particularmente para patógenos resistentes a drogas.


"A natureza é o melhor arquiteto molecular, porque a natureza tem trabalhado por milhões de anos para produzir drogas de estrutura e complexidade maravilhosas," disse Cragg. "O desenvolvimento e descoberta de drogas está sendo uma combinação de recursos naturais com estas novas tecnologias como a engenharia química para o lançamento de drogas inovadoras".

Gupta falou à audiência sobre um programa que ele coordena e consiste em laboratórios de universidades e indústrias farmacêuticas de 19 países latino americanos, e da Espanha e Portugal. O programa estuda extratos de plantas e caracteriza os compostos bioativos que eles contém. Cerca de 60% de todas estas plantas crescem na América Latina, ele observou, e estas regiões apresentam uma história rica de uso da medicina tradicional.

Um exemplo promissor: um extrato de uma árvore na Argentina está mostrando "atividade acentuada anti-HIV," ele disse, e eles estão atualmente isolando as moléculas ativas. É necessária coordenação com as indústrias, disse ele, porque elas têm capacidade de estudar milhares de extratos com seus métodos de alta tecnologia, e podem também fornecer equipamentos e cientistas treinados dentro do país.

Usando uma abordagem similar, Hostettmann disse que seu grupo recentemente encontrou um composto derivado das raízes de uma árvore africana com atividade forte contra 200 fungos diferentes, particularmente Candida albicans. "Nós esperamos desenvolver esta droga sob forma oral para tratamento de infecções por fungos relacionadas à AIDS," ele disse. O grupo obteve a patente nos EUA sobre o composto e estão desenvolvendo a droga junto com uma companhia farmacêutica dos EUA, com a esperança que o composto esteja no mercado em poucos anos.

Muitas questões existem sobre o desaparecimento da biodiversidade e a necessidade dos países em desenvolvimento de se beneficiar de drogas desenvolvidas através do conhecimento de seus curandeiros tradicionais. Ressentimentos a respeito da perda real o u percebida dos benefícios pode levar estes países a fechar suas fronteiras para o desenvolvimento de drogas, disse Hostettmann.

Ele também adverte que os cientistas que desenvolvem medicamentos devem coletar rapidamente as informações dos curandeiros, porque "o conhecimento tradicional dos curandeiros está desaparecendo."

Publicado em Bibliomed Saúde em 01/03/2000

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