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Fumo Entre Alemães "saudáveis" é Visto Como Desafio a Hitler

Por AdamTanner

BERLIM (Reuters) - Na década de 30 a Alemanha liderou o mundo em estudos científicos associando fumo e câncer e nos esforços do governo em frear o cigarro. Hoje, enquanto o restante do chamado mundo desenvolvido trabalha para associar tabaco e riscos de saúde, os alemães, vistos como conscientes sobre saúde e meio ambiente, são os fumantes mais ávidos entre os europeus.

O que aconteceu? Pode ser um outro traço da herança rígida de Hitler, conforme o historiador norte-americano Robert Proctor que culpa os nazistas por uma não intencional sombra sobre os esforços da Alemanha antitabagista.

"De certa forma, por serem virtualmente contra o tabaco, os nazista acabaram encorajando o fumo porque ser antitabagista ficou marcado como uma espécie de mentalidade autoritária", disse Proctor, autor do livro "A Guerra Nazista no Câncer".

Ele afirma que em parte por causa da marca nazista e da idéia de invasão de um espaço da vida pessoal, os esforços recentes para desencorajar fumantes, têm falhado.

Muitos cientistas alemães que associaram o tabaco ao câncer de pulmão foram difamados por causa dos crimes na Segunda Guerra Mundial.

Eles eram encorajados por Hitler, vegetariano não fumante que apoiou pesadas campanhas contra o fumo e promoveu exercícios físicos em massa - "Vigor através da alegria" - como complemento da superioridade racial alemã. O terror nazista obliterou qualquer legado positivo dos esforços antitabagistas.

"Depois da guerra muitas pessoas antitabaco e anticâncer foram culpadas por crimes de guerra, cometeram suicídio ou foram retiradas de serviço porque muitas eram lideranças nazistas", disse Proctor. Quanto mais nazista, mais tendência a ser antitabagista e com o desaparecimento desse fanatismo particular a campanha anticâncer entrou em colapso.

Para Martin Koehler, chefe do departamento de drogas e substâncias viciantes do Ministério da Saúde, não é a sombra histórica do nazismo mas a poderosa influência dos grandes do tabaco que criou uma forte cultura do cigarro na Alemanha.

"A razão é que a amizade com a indústria é muito forte na Alemanha. Não tenho provas de corrupção mas existe uma influência política", disse Koehler.

Na Alemanha, 43 por cento dos homens e 30 por cento das mulheres fumam. Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma porcentagem maior de alemães fumam mais que qualquer outro país da Europa, excluindo os Estados mais pobres dos Balcãs.

Existem discordâncias nos números, as estatísticas da agência alemã no mês passado diferem da OMS e os gráficos do Ministério da Saúde estimam que 35 por cento dos homens e 22 por cento das mulheres fumam, o que coloca a Alemanha na mesma média da União Européia.

Embora menos pessoas fumem nos países desenvolvidos que décadas atrás, a Alemanha tem tido aumento em algumas áreas. Um estudo após a reunificação alemã em 1990, verificou que 40 por cento mais de mulheres fumavam na ex-Alemanha comunista em 1998 que em 1991, conforme Burckhard Junge, pesquisador do instituto de pesquisa médica Robert Koch, de Berlim.

O câncer de pulmão entre homens vem crescendo e 110 mil pessoas morrem por ano por doenças relacionadas ao tabaco. "É difícil explicar. Na Alemanha Oriental não existia propaganda de cigarro mas também não pode ser a única explicação para o aumento. Poderia estar relacionado ao alto nível de desemprego na região", disse Junge. O fumo é um grande negócio para as empresas de tabaco e para o governo alemão que recebeu, no ano passado, 22,8 bilhões de marcos alemães (10,55 bilhões de dólares) em impostos sobre o tabaco, 6 por cento do total dos impostos arrecadados que foi de 367 bilhões de marcos. O tabaco puxou mais da metade dos impostos arrecadados das corporações.

O boom econômico de 1950 disparou a industria alemã do tabaco que hoje é a quarta maior indústria de cigarros do mundo, atrás da China, EUA e Japão.

O tabaco tem colocado a Alemanha em confronto com seus parceiros da União Européia na votação, este ano, sobre o aumento das advertências sobre a saúde nos pacotes de cigarro. A Alemanha, maior economia européia e líder da produção de cigarros na região, foi o único país a votar contra a medida.

Sinopse preparada por Reuters Health

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