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Técnica inédita no Brasil traz mais esperança para diabéticos

25 de Março de 2003 (Bibliomed). Depois de nove anos de trabalho, a Unidade de Ilhotas Pancreáticas Humanas do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) tornou-se o primeiro centro da América Latina habilitado para purificação de células pancreáticas e obtenção de ilhotas. O domínio da técnica já permitiu o primeiro transplante de ilhotas no Brasil, trazendo novas esperanças para os diabéticos.

Também conhecidas como ilhotas de Langerhans, as ilhotas pancreáticas são estruturas do pâncreas, que contêm as células beta responsáveis pela produção de insulina. Em pacientes com diabetes tipo 1, por motivos ainda não totalmente compreendidos, o sistema imunológico ataca e destrói as células pancreáticas, interrompendo completamente a produção do hormônio insulina. Sem as doses diárias de insulina artificial, os diabéticos apresentam complicações que podem levar à morte. As ilhotas transplantadas passam a produzir e liberar insulina no sangue, controlando a taxa de glicose.

O primeiro transplante de ilhotas pancreáticas foi feito em 1º de dezembro de 2002, no Hospital Israelita Albert Einstein, e demorou 37 minutos. A equipe de médicos e pesquisadores injetou aproximadamente 252 mil ilhotas na veia porta (no fígado) da baiana Telma Mércia Rosário de Almeida, que tem 45 anos e sofre de diabetes tipo 1 desde os 19 anos de idade.

O implante foi realizado por meio de uma incisão de 2 milímetros, no abdômen da paciente, onde se introduziu uma agulha com um cateter para transportar as ilhotas. A equipe optou pelo fígado em lugar do pâncreas por várias razões: o fígado tem grande poder regenerativo, tolera mais facilmente a incorporação de corpos estranhos e consume mais de 50% da insulina produzida pelo organismo. Já o pâncreas é muito sensível e pode se autodestruir depois de um procedimento mais invasivo.

Antes do transplante, Telma tinha de medir o nível de açúcar em seu sangue várias vezes por dia, inclusive durante a noite, para evitar crises de hipoglicemia. Também precisava tomar pesadas doses de insulina para manter normal a taxa de glicose do organismo. Com o implante das ilhotas, o número de injeções de hormônio diminuiu pela metade.

A paciente foi submetida a um segundo transplante no dia 4 de fevereiro e as doses de insulina foram reduzidas para um terço do que eram antes. Telma passará por uma terceira infusão ainda neste mês para conseguir normalizar a taxa de glicose no sangue e dispensar de vez o uso de insulina. Como todo transplantado, a paciente precisará tomar drogas imunossupressoras, durante toda a vida, para controlar o seu sistema imunológico e evitar que as células de defesa do organismo ataquem as ilhotas implantadas. Além de ter um custo bem alto, por ser importados, esses remédios podem ter efeitos colaterais, como a diminuição da resistência imunológica e o maior risco de infecções.

O programa prevê a realização de 18 transplantes durante os próximos três anos. A fila de espera para conseguir órgãos é uma das dificuldades dos pesquisadores. Por estar em fase experimental, o programa só tem acesso ao pâncreas após sua rejeição em todos os centros do País. Outro agravante é a falta de verbas para dar continuidade aos trabalhos e aumentar o acesso aos transplantes.

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