Artigos de saúde

Obscuros Segredos de Família

Cerca de 80% dos casos de abuso sexual envolvem como vítima e agressor membros de um mesmo grupo familiar. A abordagem terapêutica requer um grupo multidiciplinar que inclua médicos, psicólogos e assistentes sociais.

À diferença dos ataques sexuais e violações que geralmente são cometidos por desconhecidos, em 80% dos casos de abuso sexual o responsável é um familiar (pai, tio ou avô), um amigo ou conhecido da vítima. "No hospital onde trabalho tem sido notório o aumento de casos de abuso sexual intra-familiar", reconhece a enfermeira Martha Esturo, membro do Comitê de Maltrato Infantil e chefe do Serviço Social do Hospital de Crianças de Buenos Aires, Ricardo Gutiérrez.

O abuso sexual caracteriza-se por atos de exibicionismo, carícias inadequadas, penetração de objetos e introdução do pênis tanto dentro da vagina como do ânus, que geralmente acontece quando um adulto obriga uma criança a ter tais contatos sexuais. Muitas vezes, o abuso sexual antecede ao que seria um agressão sexual ou violação dentro do âmbito familiar.

Nas palavras da enfermeira Esturo: "Para chegar-se a uma violação dentro do âmbito familiar é necessário primeiro que transcorra um certo período de tempo de abuso e acomodação, durante o qual o violador controla a situação e a vítima acostuma-se ao abuso". O fato do agressor ser uma pessoa conhecida e querida pela vítima gera confusão, pois é incompreensível por que uma pessoa faria mal a quem tanto gosta.

Famílias de alto risco

"As famílias nas quais acontecem o abuso sexual são muito particulares, pois respondem à uma situação que as mantém na mesma condição de abuso. Estes grupos familiares funcionam em um equilíbrio sustentado pelo abuso e pelo segredo: a situação de abuso adota a forma de um segredo que a vítima não pode exteriorizar -explica a especialista- Além disso, são famílias isoladas, sem muitos amigos e que recebem poucas visitas".

Diferentes estudos concordam em assinalar certas características que podem definir uma família de alto risco: dificuldades sócio-econômicas que obriguem aos integrantes da família à viverem em um mesmo cômodo, adição ao álcool e drogas, e um acesso restrito ao sistema sanitário são as características mais citadas. Ainda que seja muito mais freqüente que os agressores sejam homens, entre 5 a 10% dos casos, quem comete o abuso ou a violacão é a mulher.

Em relação a abordagem terapêutica para os diferentes tipos de violação sexual, a enfermeira Esturo enfatiza especialmente que "o tratamento da violência e do abuso sexual deve ser multidiciplinar; que é uma patologia médico-social que não pode ser abordada somente pela área médica, mas também pela área social e psicológica".

A abordagem multidiciplinar é fundamental, pois ao explicitar o segredo que encobre uma situação de abuso sexual ou violação dentro de uma família, seus integrantes necessitam de muito trabalho e apoio para reestruturar-se.

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