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A AIDS difere entre os homens e as mulheres

SAN FRANCISCO - Pode ser, conforme disse um pesquisador, que isso seja "totalmente óbvio" mas as mulheres são diferentes dos homens, e os pesquisadores da AIDS somente agora estão começando a entender isto.

Os pesquisadores descobriram que o corpo das mulheres parece ser mais capaz de controlar naturalmente o vírus da AIDS, mas do ponto de vista prático isto não lhes traz vantagens, pois elas também se tornam doentes e morrem, sendo as taxas iguais às dos homens.

Os achados poderiam significar que as mulheres necessitam ser tratadas mais precocemente do que os homens com qualquer medicamento disponível, e os laboratórios farmacêuticos e outros pesquisadores estão sendo compelidos a realizar novos estudos (e reavaliar os resultados dos estudos antigos) para verificar se existem evidências de que as mulheres respondem diferentemente ao tratamento medicamentoso.

"As mulheres parecem estar tendo um aumento de incidência da AIDS proporcionalmente igual ao dos homens," disse o Dr. Thomas Quinn, um pesquisador da AIDS na Universidade Johns Hopkins em Baltimore. "Mas elas possuem metade da carga viral que ocorre nos homens".

A carga viral é um medida de quantos vírus circulam na corrente sangüínea, e é usada rotineiramente para medir o quão séria é uma infecção pelo HIV em uma determinada pessoa.

"Até o ano passado todos os estudos eram realizados em homens homossexuais. Agora que as mulheres também estão infectadas, acabamos por descobriu que elas são biologicamente diferentes", disse o Dr. Quinn

Quinn, um dos organizadores da Sétima Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas, um congresso de pesquisadores da AIDS, disse que alguns cientistas, preocupados com o fato, realizaram uma mini- reunião particular para discutir as diferenças de sexo e o HIV.

Eles avaliaram vários estudos que mostram que homens e mulheres tem respostas diferentes à infecção pelo HIV, incluindo um publicado na revista Nature Medicine no último mês por Julie Overbaugh e colaboradores do Fred Hutchison Cancer Research Centre em Seattle e em Nairobi, Quênia.

"Foi descoberto que as mulheres do Quênia eram freqüentemente infectadas por múltiplas variedades virais, enquanto que os homens não apresentavam este tipo de infecção múltipla". Verificou-se que os homens e as mulheres tinham a mesma quantidade de relações sexuais e o mesmo número de parceiros sexuais diferentes. Mas o HIV que infectava os homens parecia ser de um tipo, enquanto que as mulheres tinham várias variantes diferentes. Isto poderia ocorrer porque as mulheres estavam sendo infectadas com mais de um tipo de HIV, ou porque o vírus estaria tendo mutações no interior de seus corpos, disse Quinn. " Não se sabe exatamente qual o significado deste achado", disse ele. "As mulheres parecem ter um comportamento diferente frente à infecção, particularmente no primeiro ano".

As mulheres são portadoras naturais de mais células T CD4 -- células supostamente capazes de reconhecer e ajudar a atacar o HIV, mas que, por sua vez, são também alvos do vírus. Uma resposta imune mais forte poderia pressionar o vírus, fazendo com que ele mutasse de um tipo para outro, para confundir as células de defesa do organismo. Ou pode ser que a infecção a inicial nas mulheres seja maior.

"A observação mais importante (e pode parecer extremamente óbvio quando você a ler ) é que provavelmente as mulheres recebem uma carga viral (dose) maior do vírus quando se infectam, quando comparadas com os homens," disse o doutor Robin Weiss, um especialista em AIDS do University College London na seção de abertura da conferência.

As mulheres infectadas sexualmente - e elas são agora o maior grupo afetado pelo HIV - são contaminadas através do sêmen na vagina, o local onde o vírus pode sobreviver por dias. O vírus progride através das membranas mucosas porosas da parede vaginal.

Se as mulheres foram infectadas com mais versões genéticas diferentes do HIV, isto poderia significar que elas iriam reagir diferentemente a medicação ou a uma vacina. A vacina da influenza, por exemplo, deve ser modificada todos os anos porque o vírus da influenza muda a regularmente.

Quaisquer que sejam as diferenças, elas não parecem ajudar as mulheres. A Dra. Janet Blair do Centro de Controle e Prevenção das Doenças (CDC) descobriu que a carga viral era de 52 a 85% menor nas mulheres HIV positivas, mas que elas ficavam doentes com a mesma incidência dos homens.

"O sexo das pessoas não foi associado de modo significativo com a progressão para a doença AIDS e para a morte," disse a Dra. Blair durante o congresso. "Entretanto, este assunto merece mais pesquisas futuras", completou.

Publicado em Bibliomed Saúde em 09/02/2000

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