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A violência contra as mulheres é generalizada

14 de Maio de 2002 (Bibliomed). Ao redor do mundo, pelo menos uma de cada três mulheres tem sido golpeada, forçada a ter sexo, ou maltratada de alguma maneira durante o transcurso da sua vida, segundo um informe da Faculdade de Saúde Publica da Universidade Johns Hopkins e o Centro para a Equidade em Saúde e Gênero (CHANGE, pelo acrônimo em inglês). Baseado na revisão da toda a informação disponível até a data o informe faz um chamado à comunidade mundial de provedores de saúde para responder ao abuso à integridade física e a violência sexual como “um serio problema de saúde publica, e uma violação aos direitos humanos”.

“O que é mais surpreendente é a semelhança do problema ao redor do mundo”, destaca Lori Heise, co-diretora do CHANGE e autora principal da edição de Population Reports: Como acabar com a violência contra as mulheres (a versão em português foi publicada recentemente). Esta é uma publicação do Programa de Informação sobre População da Universidade Johns Hopkins. “O maior risco de violência contra a mulher vem não de desconhecidos, mas de homens que elas conhecem, com freqüência membros das suas próprias famílias ou de seus próprios maridos”.

Em mais de 50 estudos em populações diferentes encontrou-se uma variação entre 10% a até mais de 50% de mulheres que tem sido agredidas fisicamente por seu companheiro de casa. O maltrato físico nas relações do casal quase sempre vão acompanhados de abuso psicológico e, em um terço a até mais da metade dos casos, também de abuso sexual. A maioria das mulheres que sofrem qualquer tipo de agressão física são abusadas repetidamente.

Em países tão diferentes como Bangladesh, Camboja, México e Zimbabwe, muita gente justifica a agressão à esposa como o direito do marido de “corrigir” uma esposa equivocada. “Com freqüência, as mulheres compartilham esta perspectiva”, destacam Heise e suas co-autoras Mary Ellsberg e Megan Gottemoeller. “Por exemplo, em áreas rurais do Egito, até 81% das mulheres disseram que agredir à esposa era justificado em certas circunstancias”.

Constatações selecionadas de mais de 500 estudos sobre abuso domestico:

· Muitas mulheres escondem sua situação. Nas pesquisas, de 22% até quase 70% das mulheres abusadas disseram que nunca contaram a ninguém sobre o abuso, antes de serem entrevistadas durante o estudo.

· As taxas de abuso podem variar em áreas adjacentes. A diferença entre regiões, povoados ou vilas em um mesmo lugar podem ser maiores que as diferenças entre países.

· Além dos ferimentos imediatos, a violência conduz com freqüência a sérios problemas de saúde de tipo crônico, incluindo dor crônica, abuso de drogas e álcool, depressão e tentativas de suicídio.

· O impacto físico e psicológico a longo prazo como resultado de múltiplos episódios e diferentes tipos de abuso, vem sendo cumulativo e persiste muito depois da violência ter terminado.

· Filhos de mulheres maltratadas têm um maior risco nascer com baixo peso e apresentar malnutrição, problemas do comportamento, e em alguns casos morte súbita infantil.

A violência baseada em gênero e o medo do abuso físico e sexual têm também um impacto enorme na saúde reprodutiva da mulher. Tal violência tem sido relacionada com problemas ginecológicos, abortos provocados, complicações da gravidez, abortos espontâneos e doença inflamatória pélvica. Alem disso, as mulheres que vivem em relações abusivas freqüentemente tem dificuldade em recusar sexo não voluntário, negociar o uso do preservativo ou outro tipo de métodos anticoncepcionais. Desta maneira elas correm o risco de uma gravidez não desejada e de doenças sexualmente transmissíveis incluindo HIV/AIDS.

Os técnicos da área de saúde devem enfrentar a violência contra as mulheres, dizem as autoras. “Na maioria dos países, o sistema de atenção à saúde é a única instituição que interage com quase toda mulher em algum ponto da sua vida”. Com capacitação e apoio institucional, os técnicos podem identificar vitimas do abuso, oferecer apoio e solidariedade, prover cuidados médicos, e referir às pacientes para que recebam ajuda legal e serviços de suporte.

“Embora os técnicos da área de saúde devam fazer parte da solução, no momento constituem parte do problema”, indica Ellsberg. “Eles violam com freqüência a confidencialidade, trivializam o abuso, ou culpam à vitima”. Atrasos burocráticos e indiferença agravam o problema. “Com freqüência, as mulheres se sentem novas vitimas pelo mesmo sistema que se supõe deva ajudá-las”.

Para fazer que o sistema de saúde seja mais receptivo, ativistas deram início a programas piloto no Brasil, Canadá, Irlanda, Malásia, México, Nicarágua e nos Estados Unidos para capacitar aos técnicos da área de saúde e para reformar as políticas institucionais. “Estamos animadas pelos esforços dos ativistas e os técnicos da área de saúde comprometidos a fazer que o sistema de saúde seja mais sensível e preocupado com as necessidades das vitimas do abuso”, diz Heise. “Muitos países em desenvolvimento estão enfrentando este desafio muito mais rápido do que o fizeram os países desenvolvidos”.

Os programas de capacitação para os técnicos da área de saúde, sem importar sua orientação primária, deveriam incluir gênero, sexualidade, relações saudáveis e abuso. O número de Population Reports inclui um fascículo de quatro páginas que ajuda os trabalhadores de saúde na sua capacitação e no seu trabalho diário, trazendo sugestões de como perguntar às mulheres sobre o abuso, como identificar os sintomas de violência, e como ajudar às mulheres a desenvolver um plano de seguridade pessoal.

Embora os técnicos de saúde possam ajudar, acabar com a violência contra as mulheres impõe estratégias de comunicação que atinjam toda a sociedade. “Uma organização voltada para a mudança deve incluir: habilitação de mulheres e de meninas; aumento na punição para condutas abusivas; satisfação das diversas necessidades das vitimas; coordenação das respostas tanto no âmbito institucional como no pessoal; participação da juventude; atingir aos homens violentos; e mudanças nas normas comunitárias”, conclui o repórter.

O informe “Como acabar com a violência contra as mulheres” foi preparado por Lori Heise, Mary Ellsberg, Lic.Med.Sci. e Megan Gottemoeller, M.P.H. do Centro para a Equidade em Saúde e Gênero (CHANGE). Population Reports é uma publicação internacional que cobre assuntos importantes nas áreas de população, planejamento familiar e assuntos afins de saúde. É publicada trimestralmente em quatro línguas pelo Programa de Informação sobre População do Centro para Programas de Comunicação (JHU/CCP). O Centro é patrocinado pela Agencia dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). A USAID administra o programa dos Estados Unidos para ajuda ao estrangeiro, provendo assistência econômica e humanitária para mais de 80 países ao redor do mundo.

Para maior informação sobre JHU/CCP, visite-nos neste endereço: www.jhuccp.org

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