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A maioria dos adultos não sabe utilizar antibióticos

22 de Abril de 2002 (Bibliomed). Pesquisa feita nos Estados Unidos mostra que muitos adultos e pais de crianças pequenas estão confusos, ou pelo menos mal informados, a respeito do uso adequado de antibióticos para tratamento de infecções respiratórias. Esta confusão provavelmente gera uso exagerado destas drogas para tratamento de infecções que na verdade são causadas por vírus, para os quais os antibióticos não servem.

Em nosso meio, é provável que a desinformação seja ainda maior, levando os adultos e pais a acreditarem que o uso de antibióticos é necessário em todas ou quase todas as doenças do aparelho respiratório. Isto faz com que os antibióticos sejam utilizados em demasia, tornando-os cada vez menos eficientes para o tratamento de infecções nas quais eles são realmente indicados.

As bactérias são micróbios que estão presentes em todos os ambientes, inclusive no nosso corpo. Existem milhares de espécies de bactérias, algumas especialmente perigosas, como a causadora da meningite, e algumas especialmente benéficas ao nosso corpo, como as bactérias que vivem nos intestinos e na pele. Os antibióticos, quando ingeridos, não distinguem bactérias “boas” de bactérias “ruins”, e as destroem sistematicamente. Isto quer dizer que, quando tomados sem necessidade clara, podem na verdade estar causando mais mal que bem para o paciente.

Além disto, se a dose do medicamento estiver inadequada ou ele for utilizado por período de tempo insuficiente no tratamento de uma infecção realmente causada por bactérias, o que pode acontecer é que a bactéria “aprenda” a se livrar da ação do remédio. Se isto ocorrer, aquele medicamento não mais irá matar aquela família de bactérias, e em uma infecção posterior, ou mesmo na mesma infecção, um medicamento mais forte terá de ser utilizado. Isto faz com que, cada vez mais, surjam bactérias resistentes aos medicamentos disponíveis, e estas bactérias multirresistentes podem causar infecções difíceis ou impossíveis de tratar. Existem hoje tipos de bactérias sensíveis a apenas alguns antibióticos extremamente potentes e liberados apenas para uso hospitalar. Se o uso de antibióticos continuar da forma que ocorre hoje, logo teremos famílias de bactérias impossíveis de tratar.

Por outro lado, os vírus, responsáveis pela grande maioria das infecções respiratórias no mundo todo, são organismos muito menores que as bactérias (dentro de uma bactéria podem caber milhares de vírus), e os antibióticos não representam nenhum perigo para eles. Isto quer dizer que, ser você tomar um antibiótico para tratar um resfriado, o máximo que você vai conseguir é matar as bactérias benéficas de seu corpo. O resfriado irá se curar, no tempo certo – usar ou não usar antibióticos dá na mesma.

Na pesquisa feita nos Estados Unidos, foram feitas duas entrevistas telefônicas diferentes. Uma incluiu 405 adultos com mais de 18 anos e outra envolveu 275 mães ou pais de crianças com menos de 5 anos de idade. Todos os entrevistados responderam a perguntas que verificavam seus conhecimentos gerais e expectativas com relação ao uso dos antibióticos. Pouquíssimos pais (7%) e adultos (17%) sabiam, por exemplo, que quase nunca é preciso utilizar antibióticos para tratamento da bronquite (inflamação e congestão dos brônquios, causada por vírus e raramente envolvendo bactérias).

Muitas pessoas de ambos os grupos também achavam que é necessário tomar antibióticos quando existe formação de catarro nasal. Estes sinais são freqüentes em infecções causadas por vírus, e não indicam a necessidade do uso de antibióticos. Quase metade dos entrevistados disse saber se era ou não necessário utilizar antibióticos para sintomas de tosse, gripe ou resfriados antes de consultar um médico.

A automedicação é uma constante em nosso meio, sendo comum às consultas feitas em balcões de farmácia, e uso de medicamentos sem receita médica. Além do acesso difícil ao tratamento médico, presente na maioria da população, esta já é uma questão cultural. É necessário mudar urgentemente esta concepção, pois do contrário logo iremos nos deparar com um verdadeiro exército de bactérias resistentes a todos os medicamentos, e poderemos voltar à era pré-antibióticos, onde se morria de pneumonia, tuberculose e outras doenças causadas por estes micróbios.

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