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Distrofia epitelial: doença ocular agravada pelos excessos da modernidade

São Paulo, 20 de Junho de 2001 (eHealthLA). Ar condicionado. Horas em frente ao computador. Poluição. Ar seco. Todas estas condições, típicas da nossa era, criam ambientes favoráveis para que doenças oculares, como a distrofia epitelial, se manifestem.

É o caso de um assinante da lista de discussão Widebiz, que relata: “Eu tive um sério problema na vista recentemente, mas a causa ainda não foi comprovada. Meu oftalmologista suspeita que seja efeito do ar condicionado, além de trabalhar na frente do micro a maior parte do dia.

Estou com um problema chamado distrofia epitelial, que me causa ulceras na córnea, a dor mais insuportável que existe. Fiquei sem enxergar nada por vários dias. Vivendo em plena escuridão.”

Diante deste depoimento, a reportagem do BoaSaúde foi procurar a opinião do médico oftalmologista Alexandre Taleb, indicado pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia para falar sobre o assunto.

O Dr. Alexandre, filiado ao Centro Brasileiro de Cirurgia dos Olhos e Chefe do Ambulatório do Serviço de Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiânia, explicou que distrofia epitelial é uma doença que acomete o epitélio, a camada mais externa da córnea, que é a parte transparente do olho.

Algumas pessoas têm uma sensibilidade maior no epitélio e estão mais propícias e desenvolver a doença, que, de fato, não tem causa conhecida. “A distrofia epitelial é caracterizada pelo aparecimento de áreas de descontinuidade do epitélio, tais como lacunas, arranhados ou falhas. É realmente muito dolorosa, como descreveu o internauta”, afirma o médico.

Embora a causa seja desconhecida, sabe-se que existem fatores que pioram o problema, tal como o excesso de ar condicionado, vento, poeira, períodos prolongados de leitura ou uso contínuo do computador.

“Quando você presta atenção em alguma coisa, você pisca menos, o que causa o ressecamento e favorece o surgimento de áreas de desepitelização, ou seja, áreas de lesão nesta camada mais externa da córnea, que é o epitélio”, explica o oftalmologista Alexandre.

Segundo o Dr. Alexandre, a distrofia epitelial é bastante rara. No entanto, o desconforto sentido após longos períodos em frente ao computador mostra que o epitélio sofreu – daí a sensação de areia nos olhos que, em uma pessoa sem a doença, passa em algumas horas. “Nos olhos normais, a recuperação é muito rápida.

A fragilidade do epitélio, presente em algumas poucas pessoas, é rara, mas, quando exposta a estas mesmas condições que, em pessoas normais, causa apenas desconforto, pode desencadear a distrofia epitelial”, elucida o especialista.

O médico não considera que tenha havido aumento da incidência de distrofia epitelial em função do uso, cada vez mais intenso, do computador. “Se, antes de usar o computador, a pessoa era habituada à leitura, por exemplo, ela também estava mais exposta que as outras. O computador não pode ser culpado. Isso seria simplificar demais o processo da doença. Ele é apenas um dos fatores de piora”, afirma.

Por outro lado, o Dr. Alexandre admite que o aumento da poluição, sim, é um fator que aumenta a manifestação da doença, assim como é possível afirmar que, nas épocas de seca, a distrofia epitelial aparece com maior freqüência.

“É claro que, se a pessoa já é sensível e passa o seu dia em frente a um computador, ao lado de pessoas que fumam, com o ar-condicionado ligado, em uma cidade poluída, em tempo de seca, as chances da doença se manifestar aumentam.

A manifestação depende, sim, do ambiente a que a pessoa está exposta. Mas é preciso que a predisposição já exista, pois estes fatores, por si só, não são causadores da doença”, esclarece.

É claro que se alguém identifica que possui uma doença como a distrofia epitelial, deve evitar os ambientes ‘hostis’, que propiciem o seu agravamento.

Principalmente, elas devem tratar a doença o mais prontamente possível, evitando, assim, seqüelas visuais. “O tratamento da distrofia epitelial é baseado em colírios e pomadas e visa a cicatrização, ou seja, a reepitelização da área atingida”, informa o médico.

Um indivíduo que apresente este tipo de doença pode, por exemplo, comprar umidificadores de ar, para tornar o seu ambiente de trabalho menos agressivo aos olhos, durante os períodos de seca.

Uso dos computadores não é causa de doenças oculares

Assim como já havíamos exposto em matéria anterior, o Dr. Alexandre reafirmou que “não existe nexo causal entre o uso do computador e as doenças oculares. O monitor em si não provoca nenhuma doença ocular”. O médico exemplificou brincando: “Vista não gasta. Você já viu alguém economizando vista? O olho foi feito para ser usado!”.

O que ocorre, segundo o médico, é que, dependendo da atividade, necessitamos mais ou menos da nossa acuidade visual. “O fato de a pessoa estar usando muito a visão pode evidenciar as doenças que ela já tinha, como é o caso de quem tem astigmatismo e usa o computador para trabalhar.

O grau de astigmatismo não foi causado pelo uso do computador, mas o paciente percebeu que tinha a doença porque precisa de uma visão perfeita para desenvolver a sua atividade com conforto”, define o médico.

“Existem pessoas que, mesmo tendo algum problema de visão, em função da atividade que desenvolvem – braçal, por exemplo – nunca chegam a perceber sua deficiência”, elucida.

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