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Abuso sexual na infância altera desenvolvimento cerebral

02 de Janeiro de 2001 (Bibliomed). O abuso e abandono infantil podem fazem mais do que afetar somente a forma como uma pessoa encara a vida, sugere uma nova pesquisa. O abuso pode resultar em mudanças físicas permanentes no cérebro em desenvolvimento, alterações que podem causar problemas psicológicos na vida adulta.

"A ciência mostra que os maus-tratos na infância podem produzir mudanças na função e estrutura cerebral", disse Martin H. Teicher, do Hospital McLean, em Belmont, Massachusetts. "Essas mudanças são permanentes. Isso não é algo que as pessoas podem superar.", acrescentou Teicher.

Teicher e sua equipe identificaram quatro anormalidades no cérebro que foram muito mais predominantes em adultos que sofreram abuso ou foram abandonados quando crianças do que naqueles que não foram vítimas de abuso.

Os cientistas descobriram que os adultos vítimas de abuso quando crianças estavam mais propensos a apresentar convulsões epilépticas causadas por alterações no sistema límbico, uma parte do cérebro que controla a emoção.

"As emoções que acompanham essas convulsões incluem tristeza, embaraço, raiva, riso explosivo (normalmente sem sentimento de felicidade), serenidade e, com muito frequência, medo", explicou Teicher.

Os pesquisadores também descobriram que as crianças abusadas estavam duas vezes mais propensas a apresentar eletroencefalograma (EEG) anormal -- uma leitura que mede a atividade elétrica do cérebro -- do que crianças que não sofreram abuso. Além disso, os EEGs anormais estavam associados a um comportamento auto-destrutivo e agressão.

Outra mudança observada foi o desenvolvimento deficiente do lado esquerdo do cérebro em adultos abusados quando crianças, o que, segundo Teicher e sua equipe, pode levar à depressão e a problemas de memória.

O estudo indica que as crianças abusadas não integravam a função dos lados esquerdo e direito tão bem quanto aquelas que não sofreram abuso. Os cientistas sugerem que isso pode ser causado por uma diminuição no tamanho da ponte entre os dois hemisférios do cérebro.

Teicher e sua equipe descobriram uma diferença entre meninos e meninas na resposta ao tipo de abuso. O abandono foi o fator mais propenso a reduzir o tamanho da ponte em meninos. Mas o abuso sexual não teve efeito. Nas meninas, o abuso sexual estava associado a uma diminuição no tamanho, mas o abandono não teve efeito.

"O trauma do abuso induz uma cascata de efeitos, incluindo mudanças nos hormônios e neurotransmissores (substâncias químicas liberadas por neurônios) que mediam o desenvolvimento de regiões cerebrais vulneráveis", afirmou Teicher na edição de outono (primavera no Hemisfério Sul) de 2000 de Cerebrum.

"Sabemos que um animal exposto ao estresse e abandono precocemente desenvolve um cérebro que é programado para sentir medo, ansiedade e estresse", disse Teicher. "Achamos que o mesmo vale para pessoas", acrescentou o pesquisador.

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