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26 de agosto de 2022 (Bibliomed). O tecido que reveste internamente o útero, o endométrio, serve como local de implantação do embrião em uma gestação, e da origem das artérias que levam à placenta para sustentar o feto durante a gravidez. Mas em humanos, quando não há óvulo fertilizado, o endométrio é eliminado através da menstruação. O endométrio é, portanto, incomum, pois é regularmente perdido e depois prolifera novamente, durante toda a idade reprodutiva da mulher. Em cerca de 10% das mulheres, no entanto, tecidos semelhantes ao endométrio também crescem fora do útero, levando à endometriose.
A endometriose é caracterizada por dor e pode causar infertilidade, mas seus mecanismos moleculares e fatores permanecem desconhecidos. O diagnóstico definitivo e a resposta clínica ainda apresentam desafios significativos, sendo a terapia hormonal com cirurgia um tratamento comum. Infelizmente, a cirurgia deve ser repetida se as lesões se recidivarem, e muitas vezes isto ocorre. Assim, é essencial uma melhor compreensão de como e por que as lesões crescem, sua composição celular, seus microambientes e outros aspectos de sua biologia.
Pesquisadores recentemente concluíram um importante estudo para desenvolver um atlas celular abrangente da doença com base em lesões obtidas de 14 indivíduos que foram tratadas para endometriose.
Os pesquisadores trabalharam com tecidos de indivíduos que foram submetidas à remoção de lesões para alívio dos sintomas. Todas também estavam recebendo terapia hormonal. Não surpreendentemente, dado que as lesões são descritas como tecidos semelhantes ao endométrio crescendo em um local “errado”, a composição celular das lesões no peritônio era bastante semelhante à do endométrio normal. Por outro lado, as lesões ovarianas apresentaram extensas diferenças tanto na composição quanto na expressão gênica das lesões peritoneais. Assim, embora tanto o ovário quanto o peritônio sejam receptivos à formação de lesões, eles representam ambientes diferentes e levam a importantes diferenças celulares e moleculares entre os dois locais. A descoberta indica que um desenho de terapêutica específica do local pode ser necessário para desenvolver tratamentos mais eficazes.
Outro aspecto da endometriose é que, como o câncer, as lesões representam um crescimento anormal que normalmente seria eliminado pela vigilância imunológica. Os pesquisadores, portanto, investigaram as células imunes no microambiente da lesão peritoneal para ver por que elas não eliminam as células anormais da lesão. Eles descobriram que dois importantes tipos de células imunes, macrófagos e células dendríticas, contribuem para condições que promovem a inibição imune e a promoção da fuga de vigilância imunológica. Suas características específicas são semelhantes àquelas associadas à tolerância fetal durante a gravidez, sugerindo que a endometriose sequestra um processo imunológico natural necessário para permitir a formação e persistência da lesão.
O estudo detalha outros aspectos do endométrio normal e das lesões ectópicas, incluindo propriedades de vascularização e os fatores de regeneração no endométrio e, talvez, a formação de lesões na endometriose. De particular interesse foram as principais diferenças na vascularização (formação de vasos sanguíneos) de lesões peritoneais versus ovarianas, enfatizando ainda mais a natureza específica do local da endometriose. Destaca-se também a identificação de uma população de células epiteliais previamente não caracterizadas que poderiam ser células progenitoras tanto para a formação de lesões, mas são necessários mais estudos para definir seu papel preciso.
Fonte: Nature Cell Biology (2022). DOI: 10.1038/s41556-022-00961-5.
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