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Gosto de framboesa, gosto de morte: dietilenoglicol

14 de janeiro de 2020 (Bibliomed). Uma aparente contaminação pela substância dietilenoglicol em uma cerveja de venda ampla tem sido manchete nos últimos dias, com pacientes extremamente graves sendo tratados em terapia intensiva, insuficiência renal, distúrbios neurológicos e morte relacionada. Mas afinal, o que é o dietilenoglicol? O dietilenoglicol (DEG) é um solvente industrial comum, sendo um líquido higroscópico claro, incolor, praticamente inodoro, viscoso e com sabor adocicado. Uma rápida pesquisa em publicações antigas revela que esta substância altamente tóxica já foi responsabilizada por mais de uma centena de mortes nos Estados Unidos, no ano de 1937.

Setenta e um adultos e 34 crianças morreram no outono daquele ano depois de tomar um medicamento chamado Elixir Sulfanilamida para tratar uma variedade de doenças, da gonorreia à dor de garganta. Naquela época, o Food and Drug Administration - FDA, que havia sido lançado em 1906 como o Bureau of Chemistry, servia simplesmente para as alegações policiais feitas sobre ingredientes alimentares e medicamentos. Nenhuma aprovação formal do governo era necessária para comercializar novos medicamentos.

A S.E. Massengill Company de Bristol, Tennessee, decidiu que uma forma líquida de sulfanilamida também poderia ser um grande sucesso de vendas. O químico chefe de Massengill preparou uma solução de 10% de sulfanilamida, 72% de dietileno glicol e 16% de água. O laboratório de controle interno da empresa aprovou a aparência, o sabor e a fragrância da solução - era aromatizada com extrato de framboesa, sacarina e caramelo, entre outros ingredientes - e em setembro de 1937, a Massengill havia distribuído 240 galões do líquido, chamado Elixir Sulfanilamida, por todo o país.

Mas o sucesso comercial logo desapareceu, pois as primeiras mortes foram relatadas em outubro: seis pacientes em Tulsa, Oklahoma, morreram de insuficiência renal após o tratamento com a droga. O comissário do FDA ordenou imediatamente que a grande maioria dos 239 inspetores e químicos da agência investigasse, e os pesquisadores rapidamente apontaram o solvente do medicamento, o dietilenoglicol, como a causa das mortes. Uma gigantesca operação buscou e recolheu todos os frascos de medicamentos distribuídos e não usados, inclusive nas casas dos comradores. Mas, de acordo com os regulamentos da época, a empresa Massengill realmente não fez nada de errado: as análises da mistura tomada pelos pacientes de Tulsa revelaram que os ingredientes eram exatamente o que a empresa havia dito que eram.

O desastre provocou protestos públicos que levaram à aprovação da Lei de Alimentos, Drogas e Cosméticos de 1938, que deu ao FDA, a partir daquele momento, o poder de monitorar a segurança dos novos medicamentos.

Fonte: FDA Consumer magazine. June 1981 Issue.

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