Artigos de saúde

Saúde sexual e reprodutiva da mulher

Neste artigo:

- Introdução
- Metodologia
- Resultados
- Acesso à saúde
- Conclusão
- Referências

Introdução

No Brasil, como é a atenção da mulher em relação à sua saúde sexual e reprodutiva? Estudo realizado pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), em parceria com a Datafolha, releva um dado alarmente: 20% das brasileiras não cuidam adequadamente de sua saúde sexual e reprodutiva.

Metodologia

O estudo baseou-se em 1.809 entrevistas realizadas com mulheres de 129 municípios espalhados pelo Brasil, de forma a representar as diversas regiões geográficas e representando 80.980 milhões de mulheres. O desenho amostral foi elaborado com base em informações do Censo 2010/ Estimativa 2018 (Fonte: IBGE).  

Foram ouvidas mulheres de 16 anos ou mais, pertencentes a todas as classes econômicas. As entrevistas ocorreram entre 05 e 12 de novembro de 2018, sendo que a margem de erro máxima para esta amostra é de três pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro de um nível de confiança de 95%.

Quando se fala em nível de confiança de 95% significa que, se fossem realizados 100 levantamentos simultâneos com a mesma metodologia, em 95 deles os resultados estariam dentro da margem de erro prevista.

Do total de entrevistadas, 42% estavam em regiões metropolitanas e 58% no interior. A divisão por regiões levou em consideração a população total do país, sendo a maior parte das entrevistas realizadas na região Sudeste, seguida por Nordeste, Sul e Norte/Centro Oeste.

Resultados

As entrevistadas tinham idade média de 42 anos, cursaram ensino fundamental ou médio, quase a metade era casada ou tinham companheiro(a) e quase 70% tinham filhos. Mulheres com menor escolaridade e pertencentes a classes econômicas mais baixas foram as que tinham mais filhos. Entre as mulheres sem filhos, há maior incidência de ensino superior, melhor renda e a maior parte residia nas regiões metropolitanas.

Entre as mulheres que já foram ao ginecologista, a maioria, ou seja, aproximadamente 60% são atendidas por meio de serviços públicos gratuitos de saúde/SUS, enquanto 20% recorrem a atendimento particular e outras 20% têm plano ou seguro saúde.

Para 80% das entrevistadas, a especialidade médica mais importante para a saúde feminina é a Ginecologia-Obsterícia, especialmente para aquelas que usam o serviço particular ou convênio. Os resultados mostraram que o grau de importância dada à especialidade aumenta proporcionalmente ao grau de escolaridade e situação econômica.

Pesquisadas as consultas a ginecologistas, 2% das entrevistadas não têm frequência definida de consultas com o ginecologista, 5% nunca foram e 8% não costumam ir. Essas compreendem, em sua maioria, a mulheres residentes em municípios do interior, com menor idade e integrantes de classes sociais mais baixas.

Mulheres das regiões metropolitanas, especialmente na região Sudeste são as que mais frequentam o ginecologista, e a frequência aumenta com a escolaridade e situação econômica. Os atendimentos, particular e o via plano de saúde, são mais comuns conforme aumenta o grau de escolaridade e a classificação econômica, ao passo que o atendimento público está mais presente à medida que diminuem a escolaridade e classificação econômica.

Acesso à saúde

A idade média da primeira consulta ginecológica, entre as entrevistadas que já foram ao ginecologista, foi de 20 anos, e foi motivada pela necessidade de esclarecer um problema ginecológico, gravidez ou suspeita dela, ou ainda para prevenção desta. A prevenção de uma gravidez indesejada mostrou-se como a principal motivadora da primeira consulta ginecológica (54%).

A primeira consulta é, geralmente, incentivada por uma amiga ou parente próxima. A boa notícia é que vem crescendo o número de mulheres que tomam a iniciativa de buscar o ginecologista sozinhas.

Quando analisada a data da última visita ao ginecologista, 76% estiveram no consultório nos últimos 12 meses; 9% entre um e dois anos; 5% de dois a quatro anos; 7% a mais de quatro anos; e 3% não lembraram quando visitaram o ginecologista pela última vez.

Entre as mulheres que não costumam frequentar o ginecologistas, 31% alegam estarem saudáveis, não precisando, assim, de uma consulta médica; e 22% não considera importante ou necessário ir ao ginecologista. Alguns fatores chamam a atenção, como o fato de 12% das entrevistadas afirmarem não terem acesso a esse especialista e 11% afirmarem ter vergonha. Fatores como falta de tempo (8%), medo de detectar algum problema de saúde (7%), preço das consultas (4%) e não gostar (4%), entre outro, também foram citados pelas entrevistadas.

Perguntadas se há médicos ginecologistas de fácil acesso na região onde moram, aproximadamente quatro de cada dez sinalizam que o acesso ao especialista é restrito. As mulheres que residem no interior declaram ter maior facilidade de acesso a médicos ginecologistas, quando comparado às mulheres que residem nas Regiões Metropolitanas. A facilidade no acesso também aumenta de acordo com a melhor posição na classificação econômica e renda familiar.

Questionando-se as mulheres sobre a conduta profissional do ginecologista, essas apontaram como importante o ginecologista: dar acolhimento, realizar exames clínicos, dar atenção, aconselhar, passar confiança e fornecer informações claras e suficientes. A maioria das entrevistadas estava satisfeita com o atendimento recebido em sua última consulta, especialmente aquelas que utilizaram o serviço particular ou o convênio.

Em uma situação hipotética de parto, 90% das entrevistadas afirmam que se sentiriam mais seguras se atendidas por seus ginecologistas-obstetras do que se atendidas por plantonista ou doula (50%) ou por enfermeiro ou parteira (40%).

Questionadas sobre a possibilidade de interrupção da gestação, 75% das mulheres afirmam que essa é uma escolha que deveria caber somente à mulher, enquanto 25% defendem que é uma questão a ser decidida pelas leis da sociedade.

Conclusão

No Brasil, apesar de as mulheres reconhecerem a importância do ginecologista-obstetra, muitas ainda não o frequentam com regularidade. Além disso, é alarmente o número de brasileiras que acreditam não precisarem ir ao médico por se considerarem saudáveis.

Atualmente, 62% das brasileiras têm parceiro(a) sexual, 74% tiveram filhos, 22% estão na menopausa e 2% estão grávidas. Nessas situações o acompanhamento médico está presente principalmente na gravidez atual (100%), e na parceria sexual (81%). Porém, na menopausa apenas 64% declaram ter acompanhamento médico.

Mulheres com melhores grau de escolaridade, renda familiar e classificação econômica foram as que frequentavam o médico com maior frequência, especialmente para fatores não relacionados apenas à gestação. Por outro lado, não ir ao ginecologista durante a menopausa é mais forte entre as mulheres com menor escolaridade e entre as integrantes das classes econômicas mais baixas. Menor renda e escolaridade estão relacionadas, também, a maior número de filhos, especialmente com menor idade.

Os dados mostram a importância de campanhas de conscientização, especialmente dirigidas às pessoas mais vulneráveis socialmente, sobre a importância de se consultar um ginecologista-obstetra; e também aos profissionais, alertando para a importância da atenção, acolhimento e ganho de confiança durante o atendimento, além da melhoria do acesso aos serviços públicos de saúde.

Referências

Bibliomed

FEBRASGO/Datafolha

Copyright © Bibliomed, Inc. 13 de março de 2019.