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Síndrome do Cólon Irritável

Equipe Editorial Bibliomed

Neste artigo:

- Introdução
- Etiologia e incidência
- Diagnóstico
- Distúrbios que podem simular SCI
- Tratamento
- Conclusão
- Referências

Introdução

A síndrome do cólon irritável (SCI) é um distúrbio funcional caracterizado pela combinação de dor (causada por espasmos musculares intestinais), constipação ou diarreia (diarreia nervosa), hipersecreção de muco colônico, sintomas dispépticos (flatulência, plenitude gástrica precoce, náuseas, anorexia) e graus variados de depressão ou ansiedade. A síndrome afeta 7% a 21% da população geral. É uma condição crônica que reduz a qualidade de vida e a produtividade no trabalho.

A SCI já foi conhecida como indigestão ou diarreia nervosa, colite espástica, colite mucosa e neurose intestinal. Entretanto, não existem anormalidades estruturais (como inflamação ou úlceras) e a SCI não evolui para qualquer outro tipo de doença orgânica ao longo da vida.

É um distúrbio crônico caracterizado por dor ou desconforto abdominal associado à defecação desordenada na ausência de anormalidades bioquímicas ou estruturais identificáveis.

Etiologia e incidência

A(s) causa(s) da SCI não são conhecidas, mas possivelmente envolvem componentes fisiológicos. Certas psiconeuroses e outras psicopatias como distúrbios da ansiedade, depressão, histeria, paranóia, desvios da personalidade e antecedentes de abuso na infância são fatores de risco importantes para a doença. O estresse não causa a SCI, mas pode desencadear os sintomas. A participação de um componente hormonal é sugerida pela piora significativa dos sintomas em mulheres durante a menstruação.

A SCI representa cerca de 30-50% dos casos encaminhados para avaliação Gastroenterológica especializada nos EUA, afetando pessoas de todas as faixas etárias porém com predomínio em indivíduos ao final da puberdade até o início da terceira década de vida. Determinar a verdadeira frequência da SCI é virtualmente impossível, mas alguns trabalhos calculam que cerca de 20% das pessoas apresentem o distúrbio em algum período de suas vidas, com predomínio de mulheres (2:1 a 3:1, possivelmente porque mulheres tendem a procurar mais prontamente auxílio médico).

Diagnóstico

A SCI em geral é um diagnóstico de exclusão. O paciente característico tem entre 20 e 30 anos de idade e uma história de hipersensibilidade a certos alimentos - especialmente alimentos gordurosos, condimentados e temperos muito fortes. Antecedentes de esquizofrenia na família são comuns.

O exame físico não revela muito. A palpação pode ser dolorosa no quadrante inferior esquerdo. Não existem exames específicos para a doença, mas recomenda-se uma investigação minuciosa para excluir distúrbios que podem simular o quadro de SCI (ver abaixo). Hemograma, exame parasitológico de fezes, coprocultura, retossigmoidoscopia, enema opaco e colonoscopia são ferramentas importantes e devem ser utilizadas criteriosamente.

Distúrbios que podem simular SCI

- Diarréia infecciosa (p.ex.: amebíase e giardíase)
- Doença inflamatória intestinal (Retocolite ulcerativa e Doença de Crohn)
- Intolerância à Lactose
- Abuso de laxativos
- Candidíase intestinal
- Uso de antibióticos ou antiácidos provocando distúrbios na microflora bacteriana
- Doenças disabsortivas (p.ex.: pancreatite e doença celíaca)
- Distúrbios metabólicos (p.ex.: insuficiência adrenal, diabetes e hipertireoidismo)
- Causas mecânicas (p.ex.: fecaloma)
- Doença diverticular
- Câncer

Em crianças, a SCI tende a predominar com sintomas diarreicos ou álgicos. O predomínio da diarréia é mais comum em crianças abaixo dos três anos de idade, em geral indolor e com períodos alternados de constipação, podendo ocorrer perda de peso. A forma predominantemente álgica acomete principalmente crianças com mais de cinco anos de idade, com cólicas hipogástricas moderadas a acentuadas.

Tratamento

Apesar da ampla gama de medicamentos e da alta prevalência da doença, até o momento não há remédios completamente eficazes disponíveis.

O tratamento pode ser dividido em medidas gerais e tratamento medicamentoso.

I - Medidas Gerais

1) Dieta: pacientes com constipação apresentam uma resposta melhor ao aumento de fibras na dieta que aqueles com diarréia. Refeições exageradas podem causar cólicas e diarréia em indivíduos portadores de SCI - por isso, recomenda-se reduzir o volume e aumentar a freqüência. Gorduras devem ser evitadas a todo custo.

2) Eliminar alimentos alérgenos ou de conhecida intolerância: o papel dos alérgenos alimentares no desenvolvimento da SCI tem sido motivo de pesquisa há cerca de dez anos. Estudos recentes documentaram ainda mais a associação entre estes alérgenos e a SCI: 2/3 dos pacientes com SCI apresentaram pelo menos uma alergia alimentar. As alergias mais comuns foram à laticínios (40-44%) e grãos (40-60%). Nos surtos, recomenda-se eliminar leite e derivados por cerca de dez dias e observar a ocorrência de melhora sintomática. No geral, deve-se orientar o paciente a evitar álcool, cafeína, refeições exageradas, chicletes, sobremesas muito doces, sucos de frutas cítricas e alimentos gordurosos condimentados.

3) Controlar componentes psicológicos: várias teorias associam fatores psicológicos aos sintomas da SCI. Como relatado anteriormente, portadores da síndrome apresentam níveis de ansiedade e depressão superiores à média da população geral. Contudo, muitos pesquisadores afirmam que os sintomas podem ser secundários ao distúrbio intestinal (particularmente mal-absorção de determinados nutrientes) ou resultado de um fator etiológico em comum (p.ex.: estresse, alergias alimentares ou candidíase). De qualquer maneira, várias pesquisas não conseguiram encontrar melhoras dos sintomas com uso combinado de tranquilizantes (ou antidepressivos) e antiespasmódicos, mas ainda assim os efeitos de uma orientação adequada e de um bom apoio psicológico não devem ser menosprezados.

II - Tratamento Medicamentoso

Não existe medicamento específico. O uso de medicamentos como laxantes e tranquilizantes deve ser evitado, uma vez que os pacientes tendem a desenvolver dependência com facilidade. Por tratar-se de uma doença de evolução crônica, é dever do médico salientar a importância de mudanças nos hábitos alimentares - a abordagem dietoterápica é a pedra fundamental na assistência ao paciente com SCI.

Em fevereiro de 1999, foi aprovado nos EUA um bloqueador de receptores de serotonina para tratamento da diarreia em mulheres com SCI chamado Alosetron. O uso em homens estava sendo estudado quando surgiram relatos associando a droga a casos de colite isquêmica. Atualmente, o Alosetron permanece no mercado americano sob acompanhamento restrito pelo FDA. Segundo relatório do próprio FDA, uma vez que a SCI é um distúrbio de diagnóstico desafiador, é possível que cerca de 70-80% dos pacientes em uso de Alosetron estejam expostos ao risco de colite isquêmica desnecessariamente. O medicamento continua no mercado sob prescrição restrita, e com uso recomendado apenas em mulheres.

O Linaclotídeo, um agonista da guanilato ciclase C (GCCA) é um novo fármaco promissor com um novo mecanismo duplo de ação que, ao contrário de agentes mais bem estabelecidos, pode aliviar a dor abdominal, a distensão abdominal e a constipação associados com a SCI e tem baixa propensão para efeitos colaterais sistêmicos. O efeito colateral mais frequente, a diarreia, resulta da ação terapêutica do linaclotídeo. O linaclotídeo atua localmente no trato gastrointestinal com exposição sistêmica mínima, resultando em baixa biodisponibilidade oral e, portanto, um baixo risco de efeitos adversos sistêmicos de importância.

Conclusão

O diagnóstico da SCI depende da identificação de sintomas característicos e da exclusão de outras doenças orgânicas. A abordagem de pacientes com SCI é otimizada por uma abordagem holística e individualizada que abrange intervenções alimentares, de estilo de vida, médicas e comportamentais.

Apesar da morbidade significativa em alguns casos, a SCI não evolui para qualquer outra doença mais grave, como Retocolite Ulcerativa, Crohn ou Câncer. A compreensão incompleta dos mecanismos fisiopatológicos que determinam esta doença faz com que as medidas terapêuticas sejam pouco específicas, voltadas para o alívio dos sintomas. Apoio psicológico e orientações dietoterápicas não devem ser menosprezadas.

Referências

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