Artigos de saúde
Em vários países em desenvolvimento, o recente declínio na
prevalência do HIV/AIDS entre os jovens, acompanhado de
sinais evidentes de mudanças nos comportamentos individuais,
acenam com a esperança de controle desta epidemia:
l Na Tailândia, a incidência do HIV entre os jovens recrutados
pelo exército diminuiu em 90% entre 1991 e 1995,
depois que o governo adotou uma campanha abrangente
de prevenção da AIDS (151).
- Em Lusaka, Zâmbia, a prevalência do HIV entre as mulheres
de 15 a 19 anos caiu de 28%, em 1993, a 15%, em
1998, sendo que declínios semelhantes ocorreram em certas
áreas rurais (93, 424).
- Em Uganda, vários estudos documentaram quedas na prevalência
do HIV entre homens e mulheres jovens durante
a década de 90 (14, 181, 254).
- Também na Tanzânia foi observada a queda recente da
prevalência do HIV entre os jovens (199).
Apesar de poucos países terem realmente empreendido esforços
para tratar da epidemia do HIV/AIDS, a experiência de 20
anos demonstra que são necessárias abordagens estratégicas
nacionais e não somente mais projetos para conter finalmente
esta epidemia (162). Na Austrália, Brasil, Senegal, Tailândia
e Uganda, os programas de prevenção da AIDS devem seu
sucesso relativo em parte à colaboração entre o governo,
setor privado e organizações não governamentais (ONGs)
(150, 151, 243, 288, 406). Uma estratégia de combate à AIDS
tem maiores chances de ser sustentável quando é incluída nos
orçamentos nacionais e nas metas de desenvolvimento (62).
Dentro de uma estratégia de prevenção da AIDS, é essencial
combinar várias abordagens, entre elas:
- Defesa e promoção da causa. Os esforços de defesa e promoção
da causa informam e motivam os responsáveis
pelas políticas públicas e a sociedade como um todo, em
nível tanto local, regional, nacional e internacional.
- Educação e comunicação. A educação e a comunicação
alertam os jovens sobre os riscos do HIV/AIDS e estimulam
um comportamento mais saudável. Isto pode ser feito, por
exemplo, por meio de programas nas escolas, campanhas
nos meios de comunicação de massa, orientação dada por
colegas ou companheiros e programas de trabalho comunitário.
- Acesso aos preservativos. Os preservativos constituem o
único método anticoncepcional que também previne
contra a transmissão do HIV. Ao tornar os preservativos
mais facilmente disponíveis aos jovens, pode-se ajudar a
controlar a disseminação do HIV/AIDS.
- Aconselhamento e exame voluntário e encaminhamento
médico. O mero fato de saber qual é sua situação em termos
do HIV pode levar a pessoa a um comportamento
mais saudável. Além disso, na medida em que os trata-mentos
tornam-se mais acessíveis, quanto mais cedo a
pessoa se apresentar voluntariamente para receber orientação
e submeter-se a exames, mais cedo ela poderá receber
tratamento médico (156).
- Melhoria da qualidade de vida dos jovens. Os esforços de
prevenção da AIDS que focalizam a proteção da saúde dos
jovens terão maior impacto se a eles se associarem outros
esforços para melhorar também as condições econômicas
e sociais dos jovens (7).
Enquanto continuam os esforços para mudar o comporta-mento
das pessoas, também começam a ganhar importância
outros esforços para influenciar as normas sociais e dar poderes
à comunidade para lidar com a epidemia. Os pesquisadores
e responsáveis por políticas públicas reconhecem agora
que o comportamento individual tem maiores chances de
mudar quando o indivíduo recebe apoio da comunidade
onde vive (7, 155, 156, 184, 223, 264, 329).
Como criar um ambiente mais favorável
O impacto da epidemia de AIDS teria se reduzido consideravelmente
se os líderes políticos tivessem encarado a questão
com maior seriedade e prontidão. Como observou a Sessão
Especial sobre HIV/AIDS da Assembléia Geral das Nações
Unidas em 2001: “É essencial contar com uma liderança
vigorosa em todos os níveis da sociedade
para podermos responder a esta epidemia”
(166).
Nos países que enfrentaram o problema
de forma eficaz, as diretrizes nacionais
criaram um ambiente de apoio e estímulo,
onde os projetos e programas
podem funcionar e ser sustentáveis
(156, 233). Em alguns países, os líderes
reagiram de forma decisiva e contribuíram
para equacionar o problema. Por
exemplo, o sucesso de Uganda na luta
contra o HIV/AIDS é freqüentemente
atribuído em parte à liderança corajosa
do Presidente Yoweri Museveni que
reconheceu antecipadamente a seriedade
da epidemia e deu forte estímulo aos
esforços de prevenção (150). Na Índia, o
primeiro-ministro instou os membros do
parlamento a reconhecerem a epidemia
como um dos mais graves problemas de
saúde a assolar o país (247). l
Na Tailândia, depois que os relatórios
do levantamento de 1989 mostraram
que o país atravessava os estágios iniciais
de uma epidemia de AIDS, o
governo reagiu adotando uma abordagem
abrangente da questão. Esta abordagem incluiu uma ampla campanha de informação pública,
esforços para diminuir as visitas aos bordéis, além de um programa
para promover o uso universal e contínuo dos preservativos
por todos os envolvidos no comércio do sexo
(chamado de Programa de 100% de Uso de Preservativos)
(149, 408, 414).
Uma das mudanças mais dramáticas no comportamento individual
provocadas pelos esforços do governo tailandês foi
uma queda muito forte no número de jovens que procuravam
as trabalhadoras do sexo para ter sua primeira experiência
sexual (48). Agora, é quase universal o uso de preservativos
pelas trabalhadoras do sexo cuja base de operação é um bordel,
se bem que este uso continue incomum nos contatos
sexuais informais ou fortuitos (155, 408). Mesmo assim, a
vigorosa atuação da Tailândia conseguiu reduzir a prevalência
do HIV/AIDS entre adultos a menos do que 2%, estimando-se que esta seria de 10–15% se não houvesse os esforços
de prevenção (247).
No Camboja, depois que os relatórios do levantamento da
situação em 1998 indicaram 40% de prevalência de HIV
entre trabalhadoras do sexo, o governo copiou da Tailândia a
estratégia “100% de
Uso de Preservativos”.
O resultado foi o
aumento considerável
do uso de preservativos
nos bordéis. Em
1997, cerca de 40%
das trabalhadoras do
sexo baseadas em bordéis
usavam preservativos
com seus
clientes; em 1999, esta
cifra já atingia o
dobro, 80% (162).
Da mesma forma, no
Senegal, quando os
primeiros sinais de
HIV/AIDS ficaran patentes
em 1986, o
governo passou a enfrentar
imediatamente
o problema, conquistando o apoio de grupos comunitários,
trabalhando com líderes religiosos e introduzindo a prevenção
da AIDS nos currículos das escolas primária e secundária. (Veja a
figura).
As campanhas de comunicação também chegaram ao
público por meio do rádio, das mesquitas e dos mercados.
Recomendou-se aos pais e outros adultos que discutissem o
HIV/AIDS com seus filhos. Como resultado, a prevalência do
HIV entre mulheres grávidas manteve-se inferior a 2% e não
aparenta tendência de subida (288). Além disso, o uso de
preservativos elevou-se consideravelmente entre os jovens.
Hoje, somente cerca de 10% dos jovens informam que não
usam preservativos em contatos sexuais informais ou fortuitos.
Já outros governos prejudicaram a prevenção da AIDS ao
fazer declarações e assumir posições que perpetuam a falta
de entendimento e a divisão da sociedade quanto à questão
do HIV/AIDS e suas vítimas. Por exemplo, em 2000, o presidente
da África do Sul, Thabo Mbeki, levantou dúvidas publicamente
sobre o conceito de que o HIV causa a AIDS, isto
num país onde existem mais pessoas infectadas pelo HIV do
que qualquer outro país do mundo (162). Na Argentina, um
projeto para melhorar a condição da saúde reprodutiva dos
jovens—inclusive a prevenção do HIV—foi totalmente inter-rompido
porque se tornou um ponto de discórdia durante a
campanha eleitoral (241).
(Veja a figura).
Se mais líderes não começarem a falar francamente e a derrubar
a barreira de silêncio, vergonha e culpa que cerca a
questão da AIDS, não restará nenhuma esperança de
empreender um esforço amplo e vigoroso contra a epidemia
(162). A liderança do governo é particularmente importante
para defender os jovens, que raramente ocupam posição de
autoridade e não dispõem de espaço para falar em defesa de
si próprios.
Defesa e promoção da causa. A defesa e promoção da causa
podem estimular ações efetivas em nome da saúde reprodutiva
incluindo prevenção do HIV/AIDS (136, 378). As agências
internacionais incluindo as Nações Unidas e suas várias
agências podem fazer mais pela defesa e promoção da causa
no tema da AIDS como um assunto de desenvolvimento global
e incrementar o apoio internacional. Isto é particularmente
necessário para focalizar nos jovens.
Em alguns países, a atuação de grupos de defesa e promoção
da causa tem grande potencial para beneficiar os jovens. Nas
Filipinas, por exemplo, o trabalho de promoção de uma coalizão
de ONG’s conseguiu a aprovação de leis que impedem
a obrigatoriedade de exames de HIV, garantem o direito à privacidade e torna ilegal a discriminação dos portadores
do HIV/AIDS (136). Este trabalho de promoção e defesa
de direitos foi também o responsável pela aprovação da
Lei de AIDS das Filipinas, de 1998, a qual estabelece os
dispositivos legais que permitem o cumprimento da regulamentação
em nível local (247). Existem grupos militantes
que tentam introduzir em Botsuana um programa de
educação sobre o HIV/AIDS nas escolas e, no Camboja,
a educação de AIDS para garçonetes jovens de bares e
clubes (112). No Nepal, existem grupos que defendem os
direitos de adolescentes e das moças vítimas do tráfico de
prostituição (56).
O Projeto Centro-Americano de Prevenção do HIV/AIDS
(PASCA) trabalha com o fim de sedimentar a colaboração
entre parlamentares da região, permitindo o intercâmbio
de informações sobre as questões relacionadas à AIDS. O
projeto motivou líderes de Honduras, Nicarágua, Panamá
e El Salvador a assinar a Declaração de San Salvador,
que se concentra na abordagem das questões enfrentadas
pela juventude (112).
Alguns jovens portadores do HIV/AIDS começaram eles
próprios a participar destes grupos de promoção e defesa
(397). Na África do Sul, Nkosi Johnson, um garoto de 12
anos que foi infectado quando nasceu, tornou-se uma
voz convincente em defesa das crianças que vivem com
o HIV/AIDS. Depois que uma escola recusou sua matrícula
por ser portador do HIV, ele conseguiu atrair a atenção do
então presidente Nelson Mandela. Como resultado, o parlamento
acabou aprovando uma lei que garante o direitos das
crianças infectadas com o HIV, inclusive Nkosi, de freqüentar
a escola (63). Nkosi morreu de AIDS em junho de 2001.
Recursos. Continuam insuficientes os recursos alocados à
prevenção do HIV/AIDS (403). Apesar de cada vez mais políticos
reconhecerem publicamente o problema do HIV/AIDS,
raramente os governos dedicam recursos suficientes para se
empreender uma ação eficaz contra a epidemia (162). Na
verdade, entre 1988 e 1997, enquanto o HIV se disseminava,
a proporção entre o volume de recursos doados para a assistência
e o número de portadores do HIV reduziu-se em mais
da metade (16).
Pior ainda, os recursos dedicados à luta contra a AIDS não
estão atingindo aqueles que mais os necessitam. Apesar de
95% dos portadores de HIV viverem em países em desenvolvimento,
95% do volume total de recursos dedicados à prevenção
da AIDS é gasto nos países industrializados (265). De
acordo com a UNAIDS, é necessário dispor de 7 a 10 bilhões
de dólares anualmente para a prevenção da AIDS e atendimento
dos pacientes desta doença nos países de renda baixa
e média, sobretudo na África. No entanto, gasta-se atualmente
cinco vezes menos do que esta soma (163, 167). 1
Educação sobre a AIDS
Em junho de 2001, os estados membros participantes da Sessão
Especial sobre a AIDS da Assembléia Geral das Nações
Unidas decidiram “procurar garantir que, até 2005, pelo
menos 90% dos jovens de idade entre 15 e 24 anos de ambos
os sexos tenham acesso à informação e educação necessárias
para desenvolver as habilidades vitais de que carecem para
reduzir sua vulnerabilidade à infecção pelo HIV” (366). Uma
forma de atingir esta meta, pelo menos em teoria, é por meio
do sistema educacional de um país—sobretudo se os programas
atingirem os alunos em idade ainda mais jovem, antes
que muitos deles comecem a abandonar a escola (65). Na
Conferência Internacional sobre a AIDS, realizada em Durban
em 2000, o Simpósio “A Prevenção Funciona” recomendou
que a educação sobre o HIV/AIDS comece o mais cedo possível,
incluindo mesmo crianças de apenas cinco anos de
idade (180).
No entanto, existe muito desacordo quanto à educação sobre
HIV/AIDS—inclusive o que ensinar, a que faixa de idade, em que ambientes, por
quem, e com que finalidade. As pressões
políticas geralmente mantêm a educação sexual—e, conseqüentemente,
a educação sobre o HIV/AIDS—fora das salas
de aula. A continuidade de certas atitudes quanto à sexualidade
e o comportamento dos jovens acaba sendo uma obstrução
à educação sobre a AIDS, mesmo quando já existe um
compromisso assumido nacionalmente de tratar desta (329)
(ver a pág. 11). Apesar destes obstáculos, alguns programas
escolares parecem ter progredido razoavelmente, se bem que
ainda existe pouca evidência como resultado de avaliações
de programas (327).
Certas avaliações bastante abrangentes foram realizadas
para examinar o impacto dos programas de educação sobre
o HIV no mundo inteiro. No Canadá e nos EUA, os pesquisadores
observaram que um terço dos 28 programas examinados
tiveram o efeito de retardar a idade de iniciação sexual
dos estudantes que deles participaram (191). Uma análise
mais recente, que considerou os programas educacionais
implantados em escolas da Namíbia, Nigéria, África do Sul e
Zimbábue, observou que alguns dos programas contribuíram
para retardar a iniciação sexual dos jovens, para diminuir o
número de parceiros sexuais e para aumentar o uso de
anticoncepcionais (430). Por exemplo, na Namíbia, um currículo
que enfatizava a abstinência sexual e práticas sexuais
mais seguras ajudou algumas alunas a retardar o início da
atividade sexual mas não conseguiu aumentar a abstinência
ou o uso dos preservativos de modo geral (437). No Brasil,
os alunos que participaram de um programa de orientação
sobre AIDS nas escolas declararam ter menos parceiros
sexuais do que os alunos de escolas onde não havia o programa
de AIDS (58).
Entre os mais importantes componentes dos programas de
orientação da juventude sobre a AIDS está a abordagem da
pressão exercida por colegas e amigos e das normas que estimulam
o comportamento de risco (53, 190). Para mudar o
comportamento arriscado dos jovens, é preciso não só dar-lhes
informações mas também ensinar-lhes como recusar os
convites sexuais e como negociar com seus parceiros sexuais.
Na Tailândia, um programa abrangente de orientação aos
jovens incluía exercícios de resolução de problemas, representação
de papéis e análise dos “elementos que provocam”
o comportamento sexual arriscado (tais como consumo de
bebidas alcoólicas). Este programa ajudou a alcançar uma
queda de 50% de novos casos de HIV e a incidência das IST’s
entre os jovens participantes do programa foi sete vezes inferior
à incidência constatada em um grupo de controle que
não recebeu orientação sobre a AIDS (49).
Os pesquisadores conseguiram identificar quais são os principais
elementos dos programas de orientação sobre o
HIV/AIDS, baseados principalmente nos estudos realizados
nos EUA (190, 191). Os programas com maiores chances de
êxito são os que:
- concentram-se na redução de comportamentos sexuais
arriscados específicos;
- usam abordagens teóricas, que já demonstraram funcionar
na mudança de comportamento, como base para o desenvolvimento
de programas;
- passam uma mensagem clara sobre a atividade sexual e o
uso de preservativos e continuam sempre a reforçar esta
mensagem;
- oferecem informações básicas e precisas sobre os riscos da
atividade sexual dos adolescentes, sobre os métodos para
evitar ter relações sexuais e sobre o uso de preservativos
contra a infecção de HIV;
- não ignoram a pressão de amigos e colegas e outras pressões
sociais que incentivam os jovens a serem sexualmente
ativos;
- discutem modelos e práticas de comunicação, negociação
e técnicas de recusa;
- usam uma variedade de métodos de ensino que envolvem
os participantes e ajudam a personalizar a informação;
- usam métodos e materiais de ensino adequados à idade,
experiência sexual e características culturais dos alunos;
- selecionam professores que acreditam no programa e os
capacitam para serem mais eficazes.
No entanto, ainda são necessárias mais avaliações sobre os
programas de orientação sobre a AIDS praticados em países
em desenvolvimento e dirigidos aos jovens, tanto dentro
como fora das escolas (436).
Os programas de orientação sobre HIV/AIDS devem ser adequados
a cada faixa de idade. Por exemplo, os programas
dirigidos a adolescentes mais jovens devem concentrar-se nas
táticas para evitar ou adiar a prática sexual, enquanto que os
dirigidos a adolescentes mais velhos devem incluir discussões
sobre preservativos e outros métodos anticoncepcionais, além
do estímulo à abstinência (7, 53, 193). Evidentemente, a
orientação não pode ajudar os jovens que não conseguem
evitar ou adiar sua prática sexual, mesmo que desejem fazer
isto, por exemplo, as jovens traficadas para a prostituição ou
estupradas em campos de refugiados.
Educação dada pelos próprios companheiros. Muitas estratégias
voltadas à juventude fazem da orientação dada pelos
companheiros um aspecto essencial de sua abordagem (80).
Talvez a meta mais importante da orientação dada por companheiros
seja a de estabelecer parâmetros de comportamento
aceitável. Quando os próprios jovens têm um papel a
cumprir no desenvolvimento de normas sociais e de grupo
que protegem contra a infecção pelo HIV, eles servem como
modelos de conduta que inspiram a mudança de comportamentos
(272).
A maior parte dos jovens acredita em educadores recrutados
entre seus próprios companheiros, porque estes sabem como
se comunicar com outros jovens e dão exemplos de comportamento
nos quais os outros realmente acreditam. Os companheiros
educadores também ajudam os outros jovens a
aprender técnicas especiais tais como a negociação sexual e
a auto-afirmação (65, 77, 80, 179). (Veja a
figura).
Para que os programas ministrados por companheiros educa-dores
sejam eficazes, é essencial também capacitar estas pessoas,
inclusive com sessões de acompanhamento que
reforçam seu conhecimento, valores e habilidades (129, 194,
347).A capacitação não só deve garantir que os companheiros
educadores saibam como dar orientação sobre o
HIV/AIDS, mas também que eles possam ver as coisas da
perspectiva dos jovens que tentam alcançar (129).
Historias de
HIV/AIDS: Companheiros Educadores
Uma grande variedade de programas de AIDS que utiliza
companheiros educadores em países em desenvolvimento
consegue atingir os jovens, inclusive na Indonésia (139), Peru
(431), Quênia (156), Tailândia (49, 85) e Zâmbia (285, 331).
Apesar da evidência apresentada por avaliações ser ainda
pequena, já foi constatado que os programas de companheiros
educadores reduzem a incidência de IST’s, inclusive o
HIV, modificam os comportamentos de risco e melhoram a
saúde em geral (129, 179), inclusive entre os próprios companheiros
educadores (269). Por exemplo, um programa de
companheiros educadores dos EUA, voltado para os jovens,
provocou um aumento de 45 a 55% no uso de preservativos
entre os participantes pesquisados (272). No Peru, se não
fosse o projeto de companheiros educadores denominado “Es
Salud”, o uso de preservativos por parte da juventude na área
do projeto teria sido 39% inferior (431).
Imagina-se que a orientação dada por colegas, amigos ou
companheiros seja mais econômica porque depende do trabalho
voluntário. No entanto, seus custos podem elevar-se
pois é preciso capacitar, apoiar, equipar e supervisionar os
companheiros educadores (129). A alta rotatividade que ocorre
entre companheiros educadores exige um recrutamento
contínuo e o capacitação de substitutos. Além disso, os programas
de educação por companheiros também necessitam
de profissionais para orientar e dar apoio aos mesmos. Apesar
de haver um consenso cada vez maior de que os companheiros
educadores deveriam ser remunerados de alguma forma,
a experiência adverte contra uma remuneração em excesso,
que poderia distanciar os companheiros educadores de seu
público (82, 129, 347).
Comunicação pelos meios de massa
Os meios de comunicação de massa—especialmente a tele-visão
e o rádio—alcançam grandes números de pessoas
jovens em todo o mundo e exercem uma influência enorme.
Um levantamento de escolares de 12 anos em 23 países, que
dispunham de eletricidade em seus lares, mostrou que mais
de 90% deles via uma média de 3 horas de televisão por dia
(365). Em praticamente todos os países em desenvolvimento,
a maior parte das mulheres de 15 a 19 anos têm acesso regular
à televisão e rádio (45). Apesar dos jovens receberem
muita informação sobre saúde reprodutiva nos programas de
mídia de massa, na verdade muitos destes programas encorajam
atitudes e comportamentos não seguros e passam uma
imagem do sexo que valoriza correr riscos (23, 346).
Cada vez mais, os grupos de saúde reprodutiva trabalham
com a mídia de massa e a indústria do entretenimento para
estimular apresentações mais corretas e saudáveis da questão
sexual e para aumentar o nível de instrução entre os jovens
com a utilização da mídia (263). Uma análise da Europa em
1999 constatou que os meios de comunicação de massa promoviam
uma discussão franca e aberta sobre a sexualidade
responsável. As mensagens encorajavam a sexualidade saudável
e não davam destaque ao medo e à vergonha (23). Nos
EUA, o “Media Project” rende homenagem às organizações
de mídia que incluem caracterizações precisas e honestas da
sexualidade em seus programas (234). Na África do Sul, um
programa da Soul City ajuda os jovens a entender que os programas
de rádio e televisão nem sempre refletem a realidade
e que os ouvintes e telespectadores devem examinar critica-mente
o que vêem e ouvem na mídia (246).
Como o entretenimento oferecido pelos meios de comunicação
de massa é extremamente popular, ele pode atingir os
jovens com informações positivas sobre a saúde. Em Uganda,
por exemplo, a campanha “Sexo Seguro ou AIDS”, que estimulava
os jovens a tomar decisões responsáveis sobre o
HIV/AIDS, conseguiu alcançar 92% de seu público alvo
(210). Em Zimbábue, uma campanha de comunicação semelhante
atingiu 97% dos jovens pesquisados (182). Em Botsuana,
a campanha de meios de massa “Tsa Banana”, que
buscava melhorar a saúde reprodutiva dos adolescentes, atingiu
cerca de 70% desta faixa de idade (114).
A comunicação de massa pode ser um meio eficiente para
alcançar e influenciar os jovens. Por exemplo, no Quênia, um
programa de rádio que respondia a telefonemas de ouvintes
jovens tinha um custo de apenas 3 centavos de dólar por ouvinte
alcançado. Já o custo para fazer com que uma pessoa tome
providências para melhorar sua saúde reprodutiva—por exemplo,
visitando uma clínica de saúde—era de 12 centavos (188).
Os programas de prevenção da AIDS podem usar uma grande
variedade de meios, inclusive a dança, o teatro, o teatro de
rua e os eventos esportivos, além da televisão, rádio e
imprensa escrita. Os programas tais como “Africa Alive!” utilizam
artistas populares e grandes nomes dos esportes para
alcançar os jovens com mensagens sobre o HIV/AIDS (146,
152, 159, 206). Diferentes canais de comunicação atingem
públicos diferentes e as mensagens são mais eficazes quando
reforçadas por vários canais de comunicação ao mesmo
tempo (182, 210).
A comunicação feita através dos meios de massa pode levar a
um comportamento positivo de saúde. Em Zimbábue, por
exemplo, os jovens atingidos por uma campanha que os estimulava
a “responder não” às propostas sexuais tinham 2,5
vezes mais chances do que os jovens não atingidos pela campanha
de mudar seu comportamento sexual para melhor
(182). Em Zâmbia, os adolescentes expostos a uma campanha
de TV promovendo a abstinência e o uso do preservativo
tinham 87% mais chance de usá-los. Além disso, os telespectadores
tinham 46% mais chance de estar praticando a abstinência sexual ou de ter recomeçado a praticá-la
(439). Em Uganda, o uso de preservativos discutido
entre os próprios rapazes sexualmente ativos passou
de 33% a 70% depois da campanha “Sexo Seguro
ou AIDS”, e de 58% a 70% entre as moças (210). Na
África do Sul, 38% dos jovens que viam o programa
de TV, “Soul City”, informaram usar preservativos,
comparados com 26% dos que não viam o programa
(323).
Os programas dos meios de massa não podem tratar
de todos os aspectos da prevenção do HIV (114,
210). A experiência mostra que os programas de
comunicação mais eficazes combinam tanto os
meios de massa como a comunicação interpessoal,
tal como a educação por companheiros, ministrada
em pequenos grupos (296).
Uso de preservativos
O aumento do uso dos preservativos é essencial
para controlar a disseminação do HIV/AIDS. Os preservativos
são os únicos métodos anticoncepcionais
que oferecem proteção dupla: eles protegem contra
infecções e contra a gravidez (veja o quadro na pág.
20). Apesar da necessidade crescente, o apoio mundial
de doadores à aquisição de preservativos diminuiu
de US$68 milhões, em 1996, a US$38
milhões, em 1999 (291).
A maioria das pessoas solteiras que têm relações
sexuais não usa os preservativos. Por exemplo, em países
pesquisados na região do sub-Saara da África, o percentual de
mulheres sexualmente ativas mas não casadas, de idade entre
15 e 19 anos, que declararam ter usado preservativo em seu
encontro sexual mais recente, variou de 2% a 18% . Na Colômbia, Peru e Cazaquistão, entre um quinto
e um terço usavam preservativos. O uso do preservativo entre
homens jovens solteiros e sexualmente ativos era um pouco
mais elevado.
A melhoria do acesso aos preservativos poderá aumentar seu
uso (66, 71). O marketing social dos preservativos—a promoção
de comportamentos reprodutivos saudáveis e a venda de
preservativos a preços subsidiados—aumenta tanto a demanda
como a oferta dos mesmos (83, 95). O marketing social
pode tornar os preservativos mais conhecidos, mais econômicos
e mais disponíveis em lojas, farmácias e outros estabelecimentos
varejistas. Em pesquisas, os jovens dizem que o
setor privado—particularmente os pontos de vendas no varejo—
são sua fonte preferida para o
abastecimento de preservativos
(224, 237).
Alguns programas de marketing
social focalizaram com muito
sucesso os adolescentes, inclusive
o projeto Marketing Social
para a Saúde Reprodutiva Adolescente
(SMASH) levado a cabo
em África do Sul, Botsuana,
Camarões e Guiné . Este programa
utilizava mensagens de rádio
e televisão, indicando estabelecimentos
simpáticos aos jovens e
onde estes podiam comprar preservativos
e ser aconselhados, e
usando atividades de contato
direto tais como programas de
companheiros educadores ou atividades
em clubes freqüentados
por jovens. Como resultado da
aplicação do projeto SMASH nos
quatro países, aumentou a conscientização sobre os preservativos, enquanto que diminuíram
as barreiras ao seu uso, tais como o receio de comprá-los e a
dificuldade em discuti-los com um parceiro ou parceira (296).
(Veja a figura 03).
Alguns programas de marketing social estão conseguindo
colocar à disposição o preservativo feminino, se bem que
de forma ainda limitada. O preservativo feminino é um
método anticoncepcional que a mulher pode controlar e
que também previne contra o HIV/AIDS (117). A experiência
com o marketing social dos preservativos femininos em
Zâmbia e Zimbábue sugere que as mulheres necessitam
de orientação considerável e de outros meios de apoio para
continuarem a usá-los (5, 84, 258). Mesmo aos preços
subsidiados do marketing social, os preservativos femininos
ainda são muito mais caros que os masculinos e fora
do alcance financeiro de muitos adolescentes (84, 291).
Muitas organizações públicas colocam os preservativos
masculinos à disposição gratuitamente, mas não os femininos
(229).
(Veja a figura ).
Leia o Anexo 04: Proteção dupla para evitar a gravidez e o HIV/AIDS
(Clique aqui)
Busca voluntária de orientação,
exame e encaminhamento
Os exames preventivos de HIV/AIDS apresentam muitas vantagens,
especialmente para os jovens, apesar de serem ainda
raros em muitos países. Sobretudo na medida em que os tratamentos
da infecção de HIV tornam-se mais disponíveis, os
exames preventivos e sessões de orientação podem permitir
um atendimento mais rápido, melhorar o controle médico das
doenças relacionadas ao HIV e oferecer uma oportunidade de
redução da transmissão perinatal do HIV.
Ainda não se chegou a uma conclusão no debate para saber
se o fato de submeter-se ao exame de HIV gera um comportamento
mais seguro (404). Alguns pesquisadores mostraram
que, quando ficam sabendo que são soropositivas, algumas
pessoas infectadas modificam seu comportamento para evitar
transmitir o HIV (385). Além disso, o início da terapia antiretroviral
o mais rápido possível permite reduzir a carga viral
(102) e pode, portanto, reduzir o risco de transmissão do HIV.
Quando o resultado do exame é negativo, a pessoa pode
sentir-se mais motivada a adotar um plano para evitar a infecção
futura.
No entanto, poucos são os jovens que se submetem aos exames,
mesmo em países onde a epidemia de HIV/AIDS é mais
grave. Existem várias razões para isto. Primeiro, muitos países
têm poucos laboratórios de exames. Segundo, não existe tratamento
para os portadores do HIV, então muitos se perguntam:
para que fazer um exame? Terceiro, o estigma da
infecção pelo HIV pode afastar muitos jovens, da mesma
forma que faz com os adultos. Seja qual for a idade, muitas
pessoas decidem não se submeter a um exame até que os sintomas
comecem a aparecer ou até que um cônjuge, companheiro
ou parceiro sexual morra de AIDS (433). Enquanto isto,
estas pessoas podem estar transmitindo o HIV a outras pessoas,
durante anos a fio.
Entre os jovens, existem outras barreiras ao exame voluntário,
as quais incluem a falta de informação, a impressão que muitos
têm de que seu risco é muito baixo, a falta de confidencialidade
dos exames, os custos, os problemas de transportes
e a existência de leis exigindo a autorização dos pais (116,
121, 286). Um estudo realizado nos EUA constatou que o
número de adolescentes que fizeram exame de HIV/AIDS
aumentou em 150% depois de extinta a exigência de autorização
dos pais (235). Alguns países impõem restrições administrativas
que podem desestimular a submissão voluntária ao
exame de HIV (57).
É essencial contar com a confidencialidade médica no caso
dos exames de HIV. O direito à confidencialidade é reconhecido
pela Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança
(202). No entanto, esta confidencialidade é freqüentemente
comprometida. Por exemplo, no Quênia, quase um terço dos
adolescentes pesquisados receberam os resultados de seu
exame por carta ou por intermédio dos próprios pais, e não
em uma consulta privada com um profissional de saúde
(130). Na Rússia, os esforços para acompanhar o número de
casos de portadores do HIV pode deixar rastros que compro-metem
a confidencialidade (136).
Os programas criados para aumentar o número de exames
necessitam montar redes sólidas de encaminhamento que
ajudem os jovens, seja qual for sua condição com relação ao
HIV. Por exemplo, os locais de exames podem ter ligações
com outros programas que ajudam os soronegativos a adotar
planos para evitar os riscos, bem como com programas que
ajudam os soropositivos a obter atendimento médico. Os exames
voluntários também oferecem uma oportunidade de
encaminhar os jovens a outros serviços de saúde reprodutiva,
especialmente os voltados à prevenção da gravidez e trata-mento
de IST’s. Mas os sistemas de encaminhamento são
raros (130). Para poder encaminhar melhor os jovens, talvez
seja necessário contar com sistemas de avaliação, capacitação
de pessoal e acompanhamento clínico em níveis ainda
melhores do que para os adultos (311).
Questões psicológicas e éticas. Um exame de HIV/AIDS
deixa qualquer indivíduo nervoso e preocupado, particular-mente
os jovens (185, 311). Se o resultado de seu exame for
positivo, o jovem gostaria de continuar a crer na sua invencibilidade,
porém tem que se confrontar com sua própria mortalidade.
Poderá levar meses até que aceite sua condição e
busque tratamento (337). No entanto, é animador constatar
que os jovens com risco elevado de infecção de HIV são mais
inclinados do que outros jovens a submeter-se aos exames e
a voltar para saber dos resultados, talvez porque saibam que
seu comportamento os coloca em risco (309, 383).
Muitos jovens soropositivos necessitam de cuidados especiais
e de orientação. No entanto, em muitos países, se é que a
orientação sobre HIV/AIDS é oferecida, ela é oferecida em
muitos dos locais onde se faz o exame somente em sessões
únicas e curtas, sem oportunidade para discutir os problemas
a fundo (286, 311). Muitos serviços de saúde reconhecem que
a qualidade da orientação ou aconselhamento necessita ser
melhorada (91).
Os serviços e os profissionais de saúde podem lidar com as
preocupações dos jovens quanto aos resultados dos exames,
ao discutir com eles o processo e até ao representar possíveis
situações, mostrando a eles como revelar os resultados a um
parceiro ou aos pais, ou ainda como enfrentar os possíveis
resultados do exame (337). Os serviços e profissionais de
saúde podem também ajudar os adolescentes a preparar uma
estratégia de manutenção da saúde, inclusive a adoção de
práticas sexuais mais seguras.
Muitos serviços ou profissionais de saúde não sabem muito
bem ou não se sentem à vontade para tratar das questões de
HIV/AIDS com os jovens. Alguns até se perguntam se podem
legalmente examinar os jovens e oferecer serviços preventivos.
Em Gana, uma das principais preocupações dos serviços
de saúde era quanto à legalidade de oferecer anticoncepcionais
aos jovens. Muitos temiam ofender certas normas adotadas
pela comunidade (230). Existem também os serviços ou
profissionais de saúde que não aprovam a atividade sexual de
adolescentes e chegam a repreender os jovens ou a negar-lhes
informações (133, 183, 237). Pior ainda, muitas clientes do
sexo feminino já foram assediadas sexualmente por profissionais
de saúde do sexo masculino (59).
Pesquisadores dos EUA propuseram um conjunto de critérios
para tornar os locais de exames ambientes mais acolhedores
aos jovens (121). Apesar destes critérios se basearem em contextos
econômicos e culturais específicos, eles também
podem ajudar em outras partes. Para atrair mais jovens, um
serviço de saúde especializado no exame de HIV deve:
- demonstrar respeito pelos jovens,
- oferecer exames gratuitos,
- oferecer uma ampla gama de serviços dirigidos aos jovens,
- garantir a confidencialidade,
- não exigir o consentimento dos pais,
- oferecer opções de exames orais ou com retirada de sangue,
- ter localização conveniente, de fácil acesso por transporte
público,
- fazer somente as perguntas absolutamente necessárias,
- ter pouca burocracia.
Tratamento e atendimento relacionado ao HIV
Para milhões de pessoas jovens que vivem com o HIV/AIDS,
existe pouco tratamento e atendimento disponível. Na verdade,
para a maioria dos jovens dos países afetados mais drasticamente
pela epidemia de HIV/AIDS, não existe
absolutamente nenhum tratamento. Apesar de haver maior
disponibilidade de tratamento para outras doenças tais como
as IST’s e as infecções oportunistas, muitos jovens não têm
condições de pagar por este tratamento. Além disso, não
podem pedir ajuda financeira aos pais ou outras pessoas para
não revelar que estão infectados (82).
Leia o Anexo 05: Crianças órfãs devido à AIDS: um novo desafio
(Clique aqui)
Por outro lado, os governos da maioria dos países em desenvolvimento
afetados gravemente pela AIDS não dispõem do
grande volume de recursos necessários para tratar os pacientes
de AIDS. O Brasil reduziu à metade as mortes causadas
pela AIDS ao oferecer medicamentos genéricos contra a
AIDS, ao custo de 4.500 dólares por paciente por ano,
enquanto que, nos Estados Unidos, medicamentos semelhantes
custam de 12 a 15.000 dólares. Mas mesmo este custo
reduzido conseguido pelo Brasil é muito superior ao que a
maioria dos países africanos poderia pagar.
Mesmo que os preços dos medicamentos de AIDS baixem
consideravelmente, como prometido recentemente pelas
grandes multinacionais farmacêuticas, os mais necessitados
ainda assim serão incapazes de pagar por tais medicamentos
(16). No entanto, houve esforços recentes para permitir a
importação de medicamentos genéricos mais baratos, sem
medo de que os fabricantes de produtos farmacêuticos
movam processos de perdas e danos, o que acena com esperanças
para o futuro. Em 2001, os maiores fabricantes de
medicamentos de AIDS concordaram em desistir do processo
que haviam movido contra o governo da África do Sul, o qual
decidiu importar medicamentos mais baratos contra a AIDS
(61). Vários outros países estão procurando fabricar seus próprios
medicamentos contra a AIDS ou comprar versões genéricas
dos mesmos.
Para lidar com o HIV/AIDS entre os jovens, é necessário dispor
de uma variedade de redes de assistência e encaminha-mento
que possam lidar com seus problemas (132). Como no
caso de outras doenças crônicas, é difícil seguir o regime rígido
de tratamentos complexos e medicamentos contra o HIV,
sobretudo quando se é jovem. Para manter os jovens no sis-tema
de saúde, é essencial adotar uma abordagem equilibrada,
ou seja, ajudar os jovens a resolver seus problemas
pessoais e, ao mesmo tempo, adotar um plano realista de prevenção
e atendimento (405). Os serviços e os profissionais de
saúde têm que estar atentos à falta de maturidade dos jovens
e à sua dificuldade em seguir planos de tratamento (311). Mas
note-se que muitos provedores de serviços de saúde nunca
receberam capacitação sobre o tratamento do HIV ou sobre
como se preparar especialmente para atender clientes jovens
(132, 324).
Com o advento da terapia antiretroviral iniciou-se também
um importante debate sobre os méritos relativos da prevenção
em comparação com o tratamento e atendimento médico.
Muitos países industrializados e vários países em
desenvolvimento, entre eles o Brasil e a Coréia do Sul, têm
recursos suficientes para dedicar ao tratamento e à prevenção.
Mas outros países têm que decidir—o que é muito difícil—
entre enfatizar a prevenção ou o tratamento, porque os
recursos disponíveis para ambas as opções vêm da mesma
fonte. Outros estão tentando uma solução intermediária (62).
A prevenção ainda é o lema dos programas de HIV/AIDS dirigidos
aos jovens, pois sua meta é tentar garantir que nenhum
outro jovem seja infectado. Ao mesmo tempo, deve-se disponibilizar,
sempre que possível, o tratamento do HIV/AIDS e
das infecções oportunistas e a terapia antiretroviral.
A questão do sustento dos jovens
Para ajudar os jovens a evitar o HIV/AIDS, é preciso também
ajudá-los a melhorar as condições sociais que os colocam em
risco. Certas iniciativas recentes buscam evitar as condições
que estimulam a disseminação do HIV, aproveitando modelos
implantados anteriormente de redução da pobreza (290,
307). Estas iniciativas incluem:
- Ajudar os jovens a encontrar emprego e aproveitar outras
oportunidades;
- Oferecer crédito e outros tipos de assistência financeira
para que possam receber capacitação profissional e aprender
técnicas de desenvolvimento de negócios;
- Criar instituições, alianças e redes que se dediquem a melhorar
as habilidades econômicas da juventude; e
- Promover mudanças políticas e sociais que ajudem a melhorar
as condições de vida das pessoas.
Apesar de existir uma ampla gama de programas que tratam
do sustento dos jovens, a maioria deles é de pequeno porte
(307). Só mais recentemente eles começaram a interligar a
prevenção do HIV/AIDS com outras atividades. Muitos deles
concentram-se na assistência a crianças que o HIV/AIDS deixou
órfãs (veja o quadro na página ao lado). Outros oferecem
orientação e treinamento profissional, como na Tailândia,
onde são concedidas bolsas de estudo a jovens para evitar
que sejam vendidas à prostituição e permitir que voltem para
a escola (176).
Alguns projetos de garantia da subsistência dos jovens oferecem-lhes oportunidades para iniciar seus próprios negócios,
pagar taxas escolares ou comprar alimentos (67, 290). Em
Bangladesh, a ONG “Action AIDS” ajuda jovens do sexo
feminino a se tornarem mini-empresárias. Em 1998, cerca de
547 mulheres receberam empréstimos para iniciar micro-empresas
(76). Na Índia, a organização filantrópica “Deepak
Charitable Trust” assume a operação de clínicas onde jovens
de ambos os sexos podem receber informações sobre a saúde
reprodutiva, inclusive sobre o HIV/AIDS (429).
Mas alguns programas podem se deparar com problemas
se não forem muito bem concebidos. Por exemplo, no
Quênia, um grupo de mulheres soropositivas recebeu
empréstimo para levar adiante um projeto agrícola, mas
depois da colheita ninguém queria comprar seus produtos
(67). Além disso, empréstimos feitos a jovens podem gerar
questionamentos éticos e legais, tais como: deve-se permitir
a um jovem que assuma uma dívida? O que os jovens podem
dar como garantia do
empréstimo? E como
proteger o crédito oferecido
aos jovens contra
certos adultos
inescrupulosos? (25)
O impacto das abordagens
centradas na
questão do sustento
e subsistência dos
jovens pode variar
consideravelmente
Ele depende dos fatores
que motivamos
adolescentes a correr
riscos sexuais e da probabilidade
de exposição
ao HIV/AIDS.
Mesmo assim, estas
abordagens podem
ser complementos importantes
a outros esforços
tais como os
de educação sexual,
comunicação pelos
meios de massa e
orientação e aconselhamento.
E na medida
em que o relacionamento
sexual dos
jovens ligar-se às suas
necessidades econômicas,
as abordagens
de sustento e subsistência
podem ter um
papel crucial. (Veja a figura ).
Population Reports is published by the Population Information Program, Center for Communication Programs,
The Johns Hopkins School of Public Health, 111 Market Place, Suite 310, Baltimore,
Maryland 21202-4012, USA
Veja também