Artigos de saúde
Dr. Leôncio de Souza Queiroz Neto
Neste artigo:
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O que é ceratocone?
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Qual é a etiologia do ceratocone?
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Quais são as estatísticas sobre o ceratocone?
- Como se faz o diagnóstico de ceratocone?
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Como se classifica o ceratocone?
- Quais são as opções de tratamento disponíveis para o ceratocone?
O que é ceratocone?
Ceratocone é uma ectasia
corneana não inflamatória e auto-limitada, caracterizada por um afinamento
progressivo da porção central da córnea. À medida que a córnea vai se tornando
afinada o paciente percebe uma baixa da acuidade visual, a qual pode ser
moderada ou severa, dependendo da quantidade do tecido corneano afetado.
Muitas pessoas não percebem que tem ceratocone porque este inicia-se
insidiosamente como uma miopização e astigmatismo no olho. Esta patologia ocular
pode evoluir rapidamente ou em outros casos levar anos para se desenvolver. Esta
doença pode afetar severamente nossa forma de perceber o mundo, incluindo
tarefas simples como dirigir, assistir TV ou ler um livro.
O ceratocone inicia-se geralmente na adolescência, em média por volta dos 16
anos de idade, embora tenha sido relatado casos de início aos 6 anos de idade.
Raramente o ceratocone desenvolve-se após os 30 anos de idade. O ceratocone
afeta homens e mulheres em igual proporção e em 90 % dos casos afeta ambos os
olhos. Em geral a doença desenvolve-se assimetricamente: o diagnóstico da doença
no segundo olho ocorre cerca de 5 anos após o diagnóstico no primeiro olho. A
doença progride ativamente por 5 a 10 anos, e então pode estabilizar-se por
muitos anos. Durante o estágio ativo as mudanças podem ser rápidas.
Em um estágio precoce da doença a perda de visão pode ser corrigida pelo uso de
óculos; mais tarde o astigmatismo irregular requer correção óptica com o uso de
lentes de contato rígidas. Lentes de contato rígidas promovem uma superfície de
refração uniforme e além disso melhoram a visão.
O exame oftalmológico deve ser realizado anualmente ou mesmo mais freqüentemente
para monitorar a progressão da doença.
Embora muitos pacientes possam continuar lendo e dirigindo, alguns sentirão que
a qualidade de vida é adversamente afetada. Cerca de 20 % dos pacientes
eventualmente irão necessitar de transplante corneano.
Qual é a etiologia do ceratocone ?
A etiologia proposta para o ceratocone inclui mudanças
físicas, bioquímicas e moleculares no tecido corneano, entretanto nenhuma teoria
explica completamente os achados clínicos e as associações oculares e
não-oculares relacionadas ao ceratocone.
É possível que o ceratocone seja o resultado final de diferentes condições
clínicas. Já é bem conhecida a associação com doenças hereditárias, doenças
atópicas ( alérgicas ), certas doenças sistêmicas, e o uso prolongado de lentes
de contato.
São encontradas diversas anormalidades bioquímicas e moleculares no ceratocone:
•
há um processo anormal dos
radicais livres e superóxidos no ceratocone;
•
há um crescimento desorganizado
dos aldeídos ou peroxinitritos nestas córneas;
•
as células que são
irreversivelmente danificadas sofrem um processo de apoptose;
•
as células que são danificadas
reversivelmente sofrem um processo de cicatrização ou reparo. Neste processo de
reparação, várias enzimas degradativas e fatores reguladores da cicatrização
levam a áreas focais de afinamento corneano e fibrose.
Quais são as estatísticas sobre o ceratocone ?
(Veja figuras 1,
2 e
3)
•
incidência na população geral: varia de 0,05 % a 0,5 % *
•
distribuição conforme a faixa etária: *
-
08 a 16 anos: 2,1 %
-
17 a 27 anos: 25,9
%
-
27 a 36 anos: 35,6 %
-
37 a 46 anos: 20,1 %
-
47 a 56 anos: 11,7 %
-
57 a 66 anos: 3,0 %
-
67 a 76 anos: 1,5 %
•
distribuição conforme o sexo:
*
-
feminino: 38 %
-
masculino: 62 %
•
classificação quanto ao tipo do
cone:
-
oval: 60 %
-
pequeno monte: 40 %
-
globoso: menos de 1 %
*
Fonte: Nova Contact Lenses
â
Como se faz o diagnóstico de ceratocone ?
A identificação de um ceratocone moderado ou avançado é
razoavelmente fácil. Entretanto, o diagnóstico de ceratocone em suas fases
iniciais torna-se mais difícil, requerendo uma cuidadosa história clínica,
medidas da acuidade visual e refração, e ainda exames complementares realizados
por instrumentação especializada. Geralmente, pacientes com ceratocone têm
modificações frequentes nas prescrições dos seus óculos em curto período de
tempo e, além disso, os óculos já não fornecem uma correção visual satisfatória.
As refrações são frequentemente variáveis e inconsistentes. Pacientes com
ceratocone freqüentemente relatam diplopia ( visão dupla ) ou poliopia ( visão
de vários objetos ) naquele olho afetado, e queixam-se de visão borrada e
distorcida tanto para visão de longe quanto para perto. Alguns referem halos em
torno das luzes e fotofobia ( sensibilidade anormal à luz ).
Muitos sinais objetivos estão presentes no ceratocone. A
retinoscopia mostra reflexo “em tesoura”. Com o uso do oftalmoscópio direto
percebe-se um sombreamento. O ceratômetro também auxilia no diagnóstico. Os
achados ceratométricos iniciais são ausência de paralelismo e inclinação das
miras. Estes achados podem ser facilmente confundidos nos casos de ceratocone
incipiente.
A redução da acuidade visual em um olho, devido à doença
assimétrica no outro olho, pode ser um indício precoce de ceratocone. Este sinal
é freqüentemente associado com astigmatismo oblíquo.
A topografia corneana computadorizada ou
fotoceratoscopia pode fornecer um exame mais acurado da córnea e mostrar
irregularidades de qualquer área da córnea. O ceratocone pode resultar em um
mapa corneano extremamente complexo e irregular, tipicamente mostrando áreas de
irregularidades inferiormente em forma de cone, o qual pode assumir diferentes
formas e tamanhos. (Veja figura 4)
O diagnóstico de ceratocone também pode ser feito
através do biomicroscópio ou lâmpada de fenda. Através deste instrumento o
médico poderá observar muitos dos sinais clássicos do ceratocone:
•
Anéis de Fleischer: anel de coloração
amarelo-amarronzada a verde-oliva, composto de hemossiderina depositada
profundamente no epitélio circundando a base do cone.
•
Linhas de Vogt: são pequenas estrias semelhantes a
cerdas de pincel, geralmente verticais embora possam ser oblíquas, localizadas
na profundidade do estroma corneano.
•
Afinamento corneano: um dos critérios propostos para
o diagnóstico de ceratocone é o afinamento corneano significante maior que 1/5
da espessura da córnea. À medida que a doença progride o cone é deslocado
inferiormente. O ápice do cone é geralmente a área mais afinada.
•
Cicatrizes corneanas: geralmente não são vistas
precocemente, porém com a progressão da doença ocorre ruptura da membrana de
Bowman, a qual separa o epitélio do estroma corneano. Opacidades profundas da
córnea não são incomuns no ceratocone.
•
Manchas em redemoinho: podem ocorrer naqueles
pacientes que nunca tenham usado lentes de contato.
•
Hidropsia (Veja figura 5): ocorre geralmente nos
casos avançados, quando há ruptura da membrana de Descemet e o humor aquoso flui
para dentro da córnea tornando-a edemaciada. Quando isso ocorre o paciente
relata perda visual aguda e nota-se um ponto esbranquiçado na córnea. Hidropsia
causa edema e opacificação. Caso a membrana de Descemet se regenere o edema e a
opacificação diminuem. Pacientes com síndrome de Down têm maior incidência de
hidropsia. O ato de coçar e friccionar os olhos deve ser evitado nestes
pacientes.
•
Sinal de Munson: este sinal ocorre no ceratocone
avançado quando a córnea protui o suficiente para angular a pálpebra inferior
quando o paciente olha para baixo.
•
Reflexo luminoso de Ruzutti: um reflexo luminoso
projetado do lado temporal será deslocado além do sulco limbar nasal quando um
alto astigmatismo e córnea cônica estão presentes.
•
Pressão Intra-ocular reduzida: uma baixa pressão
intra-ocular geralmente é encontrada como resultado do afinamento corneano e/ou
redução da rigidez escleral.
Como se classifica o ceratocone ?
O ceratocone pode ser classificado conforme sua
curvatura ou de acordo com a forma do cone:
•
Baseado na severidade da curvatura:
-
Discreto: < 45 dioptrias em ambos os meridianos.
-
Moderado: entre 45 a 52 dioptrias em ambos os meridianos.
-
Avançado: > 52 dioptrias em ambos os meridianos.
-
Severo: > 62 dioptrias em ambos os meridianos.
•
Baseado na forma do cone:
-
Pequeno monte: forma arredondada, com diâmetro pequeno em
torno de 5 mm.
-
Oval: geralmente deslocado inferiormente, com diâmetro > 5
mm. É o tipo mais comumente encontrado no exame de topografia corneana.
-
Globoso: quando 75 % da córnea está afetada, possui
diâmetro maior que 6 mm. É também chamado ceratoglobo, e é o tipo mais difícil
para se adaptar lentes de contato.
Quais são as opções de tratamento disponíveis para o
ceratocone ?
O tratamento do ceratocone depende da severidade da
condição.
1.
Correção óptica:
Inicialmente, os óculos corrigem satisfatoriamente a
miopia e astigmatismo. Entretanto, à medida que a doença progride a visão não é
mais adequadamente corrigida e requer o uso de lentes de contato rígidas para
promover o aplanamento corneano e fornecer uma visão satisfatória. Tardiamente,
quando as lentes de contato não fornecem boa visão ou há intolerância ao uso das
lentes de contato, está indicado o transplante de córnea.
2.
Tratamentos cirúrgicos:
Vários tipos de tratamentos cirúrgicos têm sido
propostos para casos de ceratocone:
•
Ceratoplastia penetrante: o transplante de córnea é
o tratamento mais comumente realizado. Neste procedimento a córnea com
ceratocone é removida e então a córnea do doador é recolocada e suturada no
receptor. Lentes de contato são geralmente necessárias para fornecer uma melhor
acuidade visual.
•
Ceratoplastia lamelar: a córnea é removida na
profundidade do estroma posterior, e um botão de córnea doada é suturado no
local. Tal técnica é mais difícil de ser executada e a acuidade visual é
inferior àquela obtida com a ceratoplastia penetrante. As desvantagens da
técnica incluem vascularização e embaçamento do enxerto.
•
Excimer laser: recentemente este laser tem sido
usado em situações específicas com algum sucesso na remoção de placas de córnea
central. Contudo o LASIK é ainda um procedimento experimental e não está claro
se é apropriado para o tratamento do ceratocone.
• Intacs *: este novo procedimento,
recentemente aprovado pelo FDA ( Food and Drugs Administration ), envolve um
implante de um disco plástico entre as camadas da córnea com a finalidade de
aplaná-la e trazê-la à sua forma natural. Todavia os Intacs têm sido utilizados
somente nos casos de discreta baixa acuidade visual para perto. Diferentemente
dos transplantes, os Intacs corrigem imediatamente a baixa visual do paciente
com ceratocone. Outros benefícios incluem o rápido retorno às atividades
cotidianas em poucos dias e uma visão mais natural em relação àquela fornecida
pelo transplante de córnea. Os Intacs são desenhados para permanecerem no olho,
embora possam ser retirados, caso seja necessário. O candidato ideal ao
procedimento com Intac é aquele incapaz de usar óculos ou lentes de contato, e
com poucas alterações corneanas.Kera Vision Intacs
â.
No Brasil temos o Anel de
Ferrara que age com os mesmos conceitos do Intacts.
Fonte: www.drqueirozneto.com.br
Copyright © 2003 Bibliomed,
Inc.
20 de Junho de 2003.