Artigos de saúde
Neste Artigo:
- Introdução
- Aids no Brasil
- Espalhada pelo Mundo
- Vários Tipos de HIV
- Vírus em Mutação
- Pesquisa Aponta Índice Elevado
- Prevenção Futura
- Veja Outros Artigos Relacionados ao Tema
"As pesquisas brasileiras sobre o vírus HIV resistente ainda são escassas e
demonstram conclusões bastante divergentes. Os técnicos explicam que a resistência do
vírus HIV a alguns medicamentos é um fenômeno esperado, devido ao alto poder de
mutação do microorganismo. O governo federal não considera o índice de resistência do
vírus preocupante. Os médicos, por sua vez, recomendam aos soropositivos seguir à risca
o tratamento com coquetéis de anti-retrovirais".
Introdução
O Ministério da Saúde definiu sua estratégia de ação a partir dos resultados da
pesquisa coordenada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e realizada em todo o
território nacional, que aponta o índice de resistência do vírus HIV próximo de 1%.
Até o momento, o governo federal não considera necessário adotar um plano especial para
conter as cepas resistentes a algumas drogas anti-retrovirais. Atualmente, há 16 opções
de medicamentos distribuídos gratuitamente na rede pública.
Aids no Brasil
O último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, divulgado no dia Mundial de
Luta contra a Aids, em 1º de dezembro, demonstra que 0,5% da população brasileira está
infectada pelo vírus HIV. Desde o início da epidemia, há 20 anos, foram contaminados
cerca de 590 mil brasileiros. Desse total, aproximadamente 150 mil morreram.
Os técnicos do Ministério da Saúde chamam a atenção para o crescimento da doença
entre as mulheres, especialmente as donas de casa, nos últimos meses. A distribuição de
anti-retrovirais pela rede pública de saúde, desde 1996, foi considerada pela
Organização das Nações Unidas (ONU) como modelo a ser adotado em outros países em
desenvolvimento. O grande obstáculo, porém, são os elevados custos. Os medicamentos
ainda são vendidos pelas multinacionais farmacêuticas aos governos a um preço muito
elevado.
No Brasil, mais um medicamento foi recomendado pelo Comitê Assessor de Terapia
Anti-retroviral para distribuição gratuita. Há, atualmente, 16 opções para a
formação do coquetel. Os medicamentos possuem diferentes formas de ação. Normalmente,
atuam sobre algumas enzimas do vírus (transcriptase reversa e protease). O comitê, até
hoje, indicou: zidovudina ou azidotimidina (AZT); didanosina (ddl); abacavir (ABC);
estavudina (d4T); lamivudina (3TC); zalcitabina (ddC); lamivudina/zidovudina (3TC/AZT);
nevirapina (NVP); delavirdina (DLV); efavirenz (EFZ); saquinavir (SQV); ritonavir (RTV);
indinavir (IDV); nelfinavir (NFV); amprenavir (AMV) e lopinavir/ritonavir.
O Boletim Epidemiológico reforça a necessidade de se dar prosseguimento a campanhas
educativas contra a Aids. E lembra que não há mais grupos de risco (como os homossexuais
ou usuários e drogas), mas comportamentos de risco. Todos estão suscetíveis
(heterossexuais, mulheres casadas, idosos, adolescentes), desde que não usem
preservativos durante as relações sexuais, compartilhem seringas contaminadas ou se
submetam à transfusão com sangue contaminado pelo vírus HIV.
Espalhada pelo Mundo
Há cerca de 40 milhões de pessoas no mundo infectadas pelo vírus HIV, segundo
levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU). Do total, aproximadamente 2,7
milhões são crianças menores de 15 anos. A região com maior número de casos é a
África Subsaariana, que tem cerca de 28,1 milhões de infectados, o que corresponde a 3/4
do total de contaminados no mundo. As porções Sul e Sudeste da Ásia abrigam 6,1
milhões de soropositivos. Já a América Latina registra 1,4 milhão de infecções. Os
Estados Unidos e o Canadá têm juntos algo próximo a 940 mil casos.
Apenas em 2001, segundo a ONU, foram infectados pelo vírus HIV cerca de 5 milhões de
pessoas, sendo aproximadamente 800 mil crianças menores de 15 anos. Desde o início da
epidemia mundial de Aids, quando se registrou o primeiro caso em 1981, cerca de 20
milhões de pessoas morreram em decorrência da doença. Este ano, a Aids matou 3 milhões
de soropositivos. Estima-se que um terço das pessoas que vivem com o HIV tem entre 15 e
24 anos de idade e a maioria não sabe que é portadora do vírus.
A Aids é hoje a principal causa de morte na África Subsaariana e a quarta no resto do
mundo. Em 2001, o maior índice de contaminação ocorreu no Leste Europeu, com cerca de
250 mil casos novos. A maioria se infectou ao usar seringas contaminadas. Um dos dados que
mais preocupa os cientistas é que nos países desenvolvidos, tanto os europeus como os
Estados Unidos, o número de pessoas contaminadas pelo vírus HIV volta a crescer. Um dos
motivos para esse aumento é a diminuição do número de campanhas de combate à doença.
Vários Tipos de HIV
O HIV 1, causador da epidemia mundial de Aids, pode ser dividido em três grupos (M,N e
O). O grupo M, que é o mais abundante, é dividido em dez subtipos (que vão de
"A" a "J") e outras dez formas recombinantes que incluem partes dos
subtipos puros. No Brasil, encontramos o subtipo B como predominante (80% das
infecções), seguidos do subtipo F e subtipo C (tem maior prevalência na região Sul do
Brasil). O subtipo A é encontrado, sobretudo, na África Subsaariana. Os países da
Europa, Japão e Austrália também possuem, assim como o Brasil, o subtipo B. Já o
subtipo C está presente na África do Sul e na Índia.
Vírus em Mutação
O vírus HIV tem uma elevada taxa de mutação. Por dia, cerca de 10 bilhões de
partículas virais são produzidas em cada paciente infectado. Todas essas partículas
têm pelo menos uma mutação em seu código genético.
Nem sempre a mutação implica em maior resistência do vírus aos medicamentos
anti-retrovirais, mas um vírus resistente sempre surge de uma mutação. O índice de
vírus resistentes circulando nos pacientes soropositivos brasileiros ainda é muito
baixo. Em geral está em torno de 1% das novas infecções.
Amilcar Tanuri diz ainda que há uma tendência natural do aumento do índice de vírus
HIV resistentes. "O número de vírus resistentes e mutantes pode aumentar com o uso
dos anti-retrovirais", afirma. Nos Estados Unidos e nos países europeus o índice de
vírus resistentes é de 10% a 20%, e tende a aumentar ao longo do tempo.
O infectologista Marco Antônio Vitória, assessor do Programa Nacional de DST-Aids do
Ministério da Saúde, afirma que a resistência do vírus HIV é um fenômeno esperado,
por ser um microorganismo com alta taxa de mutação. Na avaliação do Ministério da
Saúde, a taxa de resistência no Brasil ainda é baixa e, por isso, não justifica
orientação especial quanto ao uso de anti-retrovirais.
Um estudo com aproximadamente 300 amostras de sangue colhidas em todo território
nacional, que contou com a participação do infectologista da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ), Amilcar Tanuri, indicou uma taxa de cepas mutantes e resistentes em
torno de 1%. "Nessa amostragem, colhemos também sangue de pacientes de São Vicente,
localizado na Baixada Santista, e a taxa era virtualmente zero. Existe uma discrepância
entre os dados da nossa pesquisa e os da Unifesp, coordenada pelo professor Ricardo Diaz.
Essa disparidade deverá ser analisada em estudos futuros. A diferença dos resultados é
grande, sobretudo em Santos", informa o médico.
Pesquisa Aponta Índice Elevado
Dados preliminares de uma pesquisa desenvolvida pelo Laboratório de Retrovirologia da
Escola Paulista de Medicina da Unifesp, em conjunto com a Fundação
Pró-sangue/Hemocentro de São Paulo e a Universidade da Califórnia (EUA), demonstram que
já existe no Brasil um subtipo de HIV com mutações em sua estrutura e mais resistente a
alguns medicamentos. O estudo vem sendo desenvolvido há seis anos. Desde 1995, os
cientistas acompanham a evolução da epidemia e analisam, anualmente, cerca de duas mil
amostras de sangue de indivíduos que procuram o centro de testagem anônima para HIV na
cidade de Santos, litoral Sul de São Paulo.
No último levantamento, os pesquisadores constataram que os vírus das chamadas
infecções recentes (ocorridas num período de até três meses antes da coleta de
sangue) são menos suscetíveis a determinados medicamentos do que os das infecções
não-recentes, ou seja, têm mais resistência a alguns anti-retrovirais.
Cerca de 20% dos pacientes avaliados e que contraíram o HIV em 2000 apresentaram
resistência completa à droga usada no coquetel chamada 3TC e resistência parcial ao
AZT. No grupo que havia se infectado anos atrás e fazia o controle com medicamentos, o
índice de resistência foi bem menor - cerca de 5%.
O pesquisador e infectologista Ricardo Diaz, da Unifesp, explica que o fenômeno de
resistência se deu através do processo de seleção natural. Os vírus dos indivíduos
com infecções recentes são combinações de dois subtipos de HIV prevalentes no Brasil
(B e F). "É a primeira vez que esse tipo de cepa é detectada em grande escala no
Brasil. Estamos vivendo uma fase da epidemia em que determinados indivíduos apresentam
infecção dupla", diz o coordenador do estudo, Ricardo Diaz.
O médico informa que na África, foram identificados vírus híbridos dos subtipos A e G.
Na Tailândia, há mutação com os subtipos E e A.
O infectologista Ricardo Diaz explica que, além de oferecer maior resistência aos
medicamentos, os vírus recombinantes podem não ser detectados por testes sorológicos
convencionais. Isso, na opinião de Ricardo Diaz, explicaria a discrepância entre os
dados colhidos por outras pesquisas brasileiras sobre resistência de vírus HIV. Para
evitar falhas no diagnóstico, os pesquisadores da Unifesp utilizam um teste capaz de
identificar versões híbridas (de dupla infecção) do HIV.
Prevenção Futura
Se as previsões não são das melhores, devido à possibilidade de aumento da
resistência dos vírus, o mais prudente é evitar a contaminação, fazendo uso dos
métodos preventivos disponíveis.
A comunidade científica é ainda cautelosa ao prever a conclusão de uma vacina
preventiva contra a doença. Até hoje, pelo menos 30 diferentes vacinas foram testadas -
a maior parte nos Estados Unidos e em países da Europa. Em novembro deste ano, a vacina
desenvolvida em conjunto pelo Instituto Pasteur, da França, e pelas universidades
norte-americanas de Pittsburg e Rochester, começou a ser testada na população
brasileira. A vacina é formada por uma combinação da proteína chamada "gp
120", que se encontra na superfície externa do vírus HIV, com o vetor
"canaripox", que possui cópias de genes de vírus reproduzidas em laboratório
por meio de engenharia genética. A empresa norte-americana VaxGen, da Califórnia, é a
detentora da proteína gp 120 e o vetor canaripox foi desenvolvido pela francesa Aventis
Pasteur. Com essa vacina, pretende-se proporcionar a imunidade ao subtipo B do vírus HIV.
A empresa norte-americana VaxGens iniciou, sozinha, outro teste de sua vacina. Com início
em 1998, o estudo terá seus resultados divulgados, provavelmente, até 2002. A empresa
testa duas versões da vacina, formada pela proteína gp 120 para os subtipos B e E do
vírus HIV.
Os médicos lembram que as vacinas são esperanças de prevenção futura. Por enquanto, o
melhor é prevenir-se com os métodos convencionais e já conhecidos pela população.
Mesmo com o risco de resistência do vírus HIV, as pessoas devem seguir à risca o
tratamento com o coquetel de anti-retrovirais indicado por seu médico.
Copyright © 2001 Bibliomed, Inc.
13
de Dezembro de 2001.
Veja também