Artigos de saúde
Atualmente, estima-se que mais de trinta milhões de pessoas sejam portadoras do vírus
HIV tipo 1, causador da AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida), em todo o
mundo. Além disso, aproximadamente dezesseis mil novas infecções por dia, adquiridas
principalmente entre heterossexuais, são estimadas. A grande maioria dos indivíduos
infectados pelo vírus HIV tipo 1 são provenientes de países menos desenvolvidos,
principalmente, indivíduos da África e do sudeste asiático.
A AIDS é uma doença ainda considerada uma incógnita entre os médicos, apesar do grande
avanço científico e tecnológico da atualidade e, também, dos inúmeros estudos acerca
dessa doença. Apesar dos esforços para a obtenção de uma vacina comprovadamente eficaz
no combate à AIDS, esta ainda não se encontra disponível às pessoas, estando em fase
de testes. Na ausência desta vacina, a melhor opção para se evitar a infecção pelo
vírus HIV (vírus da Imunodeficiência Humana) é a prevenção.
As mudanças comportamentais estão no centro dessa prevenção, incluindo a promoção do
uso de proteção, como o preservativo. Entretanto, pouco é sabido acerca da efetividade
de diferentes estratégias empregadas com a finalidade de incentivar o uso de proteção
(preservativos) e facilitar o acesso às informações entre as pessoas que fazem parte do
denominado grupo de risco (indivíduos promíscuos, que têm vários parceiros sexuais,
homossexuais, prostitutas, usuários de drogas injetáveis).
Inúmeros estudos preconizaram estas estratégias como as principais para a eficácia do
programa de prevenção da AIDS. Dentre os 1.184 sumários (resumos de trabalhos), contendo
a intervenção no comportamento das pessoas como ponto principal, apresentados à décima
segunda Conferência Mundial sobre a AIDS, em Genebra, Suíça, em 1998, apenas 30
(correspondente a 2,5%) descreveram estudos controlados e randomizados. Esse fato reflete
a existência de dificuldades práticas e decisões políticas quanto a tais
experimentações, sendo que os estudos requerem o investimento substancial de tempo,
colaboração e financiamentos. Estes fatores, provavelmente, contribuem para a qualidade
ainda não acurada de avaliação de pesquisa de campo do HIV e da prevenção da AIDS.
Outro fator é a divulgação de material educativo como folhetos e distribuição de
preservativos para conscientização das pessoas que não são eficientes. Os agentes de
saúde, políticos e ativistas da AIDS têm procurado desenvolver uma atividade regular
para a prevenção da doença.
A Nicarágua é um país onde a infecção pelo vírus da AIDS (HIV) está alcançando
elevados índices e a prevalência de doenças sexualmente transmissíveis é bastante
elevada. Nesse país, assim como em outras regiões da América Latina, os
estabelecimentos que alugam quartos para o uso de prostitutas, com a finalidade de
praticarem o sexo comercializado, e para casais, com a finalidade de praticarem o sexo
não comercializado, são denominados motéis.
Alguns estudos realizados nos Estados Unidos e na Tailândia, mostraram que intervenções
baseadas em teorias de mudança de comportamento podem diminuir a incidência de doenças
sexualmente transmissíveis entre os indivíduos que apresentam um risco elevado,
considerados grupos de riscos.
Um estudo publicado em junho de 2000 na revista Lancet, realizou uma pesquisa
controlada acerca dos efeitos na população, da promoção do uso de preservativos utilizando material educativo, folhetos e cartazes nos motéis de Manágua, Nicarágua. Os cientistas verificaram que os resultados
encontrados tiveram implicações importantes para a prevenção da AIDS.
O Estudo
O aspecto mais relevante do estudo, o uso do preservativo, foi avaliado através da
verificação, em motéis, mais especificamente, pela procura nos quartos, após a saída
dos casais, de camisinhas usadas. Os preservativos encontrados foram registrados pelo
número e características (considerados usados os que continham esperma), em
formulários. Os pesquisadores de campo procuraram camisinhas, estando secretamente
disfarçados como serviçais da limpeza. Os pesquisadores realizaram o trabalho durante
vinte e quatro dias.
Neste trabalho, foram incluídos dezenove motéis, dentre os trinta e seis motéis de
Manágua, Nicarágua. Os autores do estudo distribuíram preservativos nestes motéis da
seguinte maneira: quando solicitados, ou seja, quando houve interesse por parte dos
indivíduos em usar a camisinha; deixando preservativos disponíveis nos quartos; ou
entregando-os diretamente aos casais freqüentadores dos motéis. O grupo utilizado como
controle foi o composto pelos indivíduos que não receberam material educativo, pois, na
ausência deste material, este grupo forneceu uma estimativa do uso de preservativos na
linha de base.
Os preservativos foram entregues às pessoas, juntamente com material educativo, como
folhetos e pôsteres contendo orientações quanto à prevenção de doenças sexualmente
transmissíveis (DST), prevenção da AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Humana), quanto
ao uso correto da camisinha (ensinando como colocá-la e usá-la corretamente).
Entretanto, não foram todas as pessoas que receberam o material educativo junto com os
preservativos.
Os cientistas apontaram algumas limitações do estudo, como: o pequeno espaço de tempo
em que foi realizada a pesquisa; a falta de cooperação de alguns proprietários de
motéis existentes em Manágua; o fato de que a estimativa do uso de camisinhas para o
sexo comercializado foi acurada, enquanto para o sexo não comercializado, os números
podem ter sido subestimados devido à presença de suítes (presença de banheiro em alguns quartos). Isto se explica pelo fato
de que, geralmente, o sexo comercializado é realizado em condições inferiores. Enquanto
o sexo não comercializado é praticado em locais mais dispendiosos, com melhores
condições.
Resultados
O uso da camisinha pelas prostitutas, para o
sexo comercializado, foi verificado na maioria dos casos, em 60%, contra uma minoria de
20% em que este tipo de prevenção (proteção) a doenças foi utilizado para o sexo não
comercializado.
Dentre os 19 motéis estudados, onze se destinavam ao sexo comercializado (realizado com
fins lucrativos, prostituição) e oito para o sexo não comercializado. A presença de
material educativo (cartazes e folhetos com textos e ilustrações sobre as doenças
sexualmente transmissíveis, AIDS e sobre o uso de preservativos) não causou nenhum
impacto sobre as pessoas que praticavam o sexo sem fins lucrativos.
Os autores desse trabalho concluíram que a melhor e mais efetiva estratégia para
aumentar o número de indivíduos que praticam sexo seguro, fazendo uso freqüente de
preservativos, é tornar esse tipo de proteção contra doenças sexualmente
transmissíveis e AIDS, disponíveis aos casais, principalmente, em quartos de motéis. Ao
passo que, a utilização de material didático com o propósito educativo de promoção
da saúde, prevenindo doenças, evidenciou-se sem valor, não mostrando eficiência. Os
pesquisadores confirmam a importância desse estudo devido, principalmente, aos resultados
encontrados. Estes possuem implicações diretas e relevantes na política de prevenção
das doenças sexualmente transmissíveis, principalmente, da AIDS.
Fonte: Lancet 2000; 355: 2101 - 2105
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