Artigos de saúde
O diagnóstico e o tratamento dos acidentes vasculares cerebrais (AVCs; derrames
cerebrais) em seus estágios iniciais, evoluíram de maneira extraordinária na última
década. É também um conceito moderno de que as lesões cerebrais secundárias a um
derrame podem não ser tão permanentes como se acreditava anteriormente.
O derrame cerebral afeta aproximadamente três quartos de milhão de pessoas por ano nos
Estados Unidos. Acredita-se que cerca de 160.000 destas pessoas irão morrer como
conseqüência do derrame.
Menos de um quarto dos casos de AVC é devido ao extravasamento de sangue no espaço
subaracnóideo (hemorragia subaracnóidea) ou no parênquima cerebral (hemorragia
cerebral). As lesões vasculares podem afetar áreas do cérebro que nada têm a ver com a
via piramidal, levando por exemplo a distúrbios do campo visual ou a alterações da fala
sem qualquer déficit motor (perda de movimentos). Este déficit motor, por sua vez, pode
ser causado por uma série de outros mecanismos não vasculares.
A presença de uma lesão cerebrovascular aguda é sugerida pelo início súbito de um ou
mais sintomas neurológicos focais e "negativos" (perda de função). A evolução temporal revelará a natureza do problema, transitória ou não.
As lesões cerebrais observadas têm instalação aguda, duração variável, e podem
levar à morte. A gravidade do quadro pode variar grandemente, de uma hemiplegia maciça
com alteração da consciência até quadros leves e transitórios que sequer chamam a
atenção do paciente ou do médico. A maioria dos casos encontra-se entre estes dois
extremos.
Em situações de derrame cerebral, assim como nos ataques cardíacos agudos, o tempo é
essencial: drogas trombolíticas devem ser utilizadas rapidamente, geralmente dentro de 3
horas do aparecimento dos sintomas, para propiciar uma melhor recuperação do quadro
isquemico. Trabalhos recentes revelaram que os medicamentos trombolíticos não somente
previnem lesão cerebral adicional de um derrame mas podem, de fato, reverter lesões que
já ocorreram: este foi o resultado de uma pesquisa realizada pela Unidade de Derrame
Cerebral da Universidade da Califórnia em Los Angeles e divulgada em abril de 2000.
Assim, para proporcionar um rápido tratamento, é importante que se faça o diagnóstico
precoce dos AVCs. Como primeira causa de incapacitação no mundo, os AVC merecem grandes
esforços de prevenção e tratamento agudo.
As sequelas
Além disso, porém, devemos cuidar dos pacientes que sobrevivem e de suas famílias do
modo o mais eficaz possível. Pacientes idosos ou com lesões hemorrágicas exibem maior
taxa de letalidade nos primeiros 30 dias. Após este período, entretanto, existe pouca
diferença nas taxas de mortalidade em cinco anos (em torno de 40 a 50%).
Sobreviventes de qualquer idade e tipo de AVC, portanto, devem ser sempre avaliados para
tratamento e reabilitação agressivos. Programas intensivos de reabilitação são
considerados eficazes em reduzir o grau de acometimento funcional e de incapacidade
residual. Mas a mensuração desta recuperação cerebral, quando induzida por tratamentos
médicos e de fisioterapia, até o momento não foi feita.
A avaliação da recuperação cerebral
Pesquisadores do Departamento de Neurologia da Universidade do Alabama, em Birmingham,
liderados pelo Dr. Joachim Liepert afirmam que o cérebro humano pode ser portador de
habilidades desconhecidas para promover a sua própria cura. De fato, eles sugerem que as
células cerebrais podem ser capazes de se reconectar após terem sido afetadas por um
derrame cerebral. E se essa afirmativa é verdadeira, e se essas células podem realmente
ser capazes de se reconectar, as vítimas de um derrame cerebral podem ter uma melhor
possibilidade de recuperar o seu controle de movimentos, atitudes e de linguagem. O
objetivo do estudo liderado pelo Dr. Liepert foi o de avaliar a reorganização da córtex
motora cerebral em pacientes vítimas de derrames, sendo a reorganização induzida por um
tratamento intensivo de reabilitação.
O estudo
Para avaliar sua teoria, os pesquisadores observaram os músculos da mão de 13 pacientes
vítimas de derrames cerebrais (dez homens e três mulheres). A musculatura da mão é
controlada pelo córtex do cérebro, responsável pelos movimentos. A técnica de
reabilitação foi feita da seguinte maneira: por duas a três semanas os médicos
restringem os movimentos do braço e da não menos afetados pelo derrame (durante 90% do
tempo, no período em que os pacientes permaneciam acordados). Esta restrição de
movimentos no braço sadio obrigava a que os pacientes usassem o membro afetado pelo
derrame cerebral, e que estava com menos movimentos. Estímulos locais transcranianos
foram utilizados para mapear a córtex cerebral responsável pelo movimento dos músculos
de ambas as mãos, sendo os pesquisadores capazes de verificar de onde provinham os
estímulos que levavam ambas as mãos a se movimentarem.
Foi verificado pela equipe médica que a representação no córtex da área dos músculos
da mão afetada é, inicialmente, significativamente menor do que o lado não é afetado.
Após o tratamento de fisioterapia intensiva, estando a mão normal presa, a área
cerebral de onde provinham os estímulos para o lado afetado aumentou de maneira
expressiva, correspondendo a uma performance motora melhorada no membro comprometido.
Desvios elétricos observados no local de saída dos estímulos do lado do cérebro
afetado pelo derrame sugeriram aos pesquisadores que áreas adjacentes do cérebro foram
"recrutadas" para realizar a atividade de estimulação da mão comprometida.
Exames de seguimento realizados até seis meses após o início do tratamento verificaram
que a função motora permanecia de alta intensidade, enquanto que as áreas no córtex
cerebral nos lados comprometido e não comprometido se tornaram praticamente idênticas,
representando um retorno ao balanço da excitabilidade, em direção a uma função
normal.
Em suas conclusões os autores afirmam que, apesar de resultados semelhantes terem sido
obtidos em animais de experimentação, esta é a primeira demonstração em seres humanos
de uma alteração a longo prazo na função cerebral associada com uma melhora induzida
por tratamentos na reabilitação de movimentos, após dano cerebral causado por derrames.
Fontes: Manual de AVC - 1ª Ed. - 1999.
Annals of Neurology 2000;47.
Stroke 2000;31:1210
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