Artigos de saúde
Por Alan Mozes
NEW YORK – Aplaudir um bom espetáculo parece um ato simples. Mas os aplausos de uma audiência demonstram organização social, dizem pesquisadores, onde o desejo de um indivíduo de fazer um barulho alto compete com o desejo de sincronizar o aplauso com o restante do grupo.
"O ruído do aplauso ao seu início freqüentemente se torna subitamente um aplauso sincronizado, e esta sincronização pode desaparecer e reaparecer várias vezes durante o aplauso", de acordo com um artigo publicado na última semana na revista Nature.
"Este é um fenômeno fascinante – em sociedade nós tentamos fazer as coisas juntos e existem algumas leis matemáticas que estão por trás do porquê isto acontece, que tendem a não ser completamente compreendidas, mas este é um exemplo simples e claro de um sistema social que pode ser compreendido," disse o líder dos autores do estudo Albert Barabasi da Universidade de Notre Dame em South Bend, Indiana.
Barabasi e sua equipe observaram o comportamento sincronizado em humanos gravando os aplausos de espetáculos de teatro e ópera na Romênia e Hungria. Com o auxílio de um microfone colocado no teto do espaço de apresentações, os pesquisadores mediram a mudança da velocidade do aplauso, o ruído gerado e a freqüência com a qual o aplauso vai e volta entre palmas aleatórias e sincronizadas.
Os pesquisadores compararam seus resultados com o comportamento de estudantes universitários que foram isolados em uma sala e solicitados a realizar vários experimentos de aplausos sincronizados.
A equipe concluiu que durante o aplauso, os indivíduos em um grupo começam com aplausos aleatórios que são rápidos e altos, então eles mudam para um aplauso mais lento que é menos barulhento e é sincronizado com os outros. A equipe também sugere que para esta mudança de comportamento, os membros da audiência devem estar cientes – talvez devido a hábitos culturais aprendidos – de que a lentificação do ritmo de vários indivíduos é necessária para atingir um ritmo grupal unificado.
Barabasi e seus colaboradores notam que esta lentificação ocorre quando indivíduos passam vários segundos aplaudindo no intervalo para aplausos. Esta redução no ritmo de aplauso leva a barulho total reduzido durante o aplauso sincronizado – e os cientistas encontraram que o desejo de competir com o ruído alto levaria eventualmente os indivíduos da audiência a quebrar o ritmo pela volta à velocidade de seu ritmo aleatório anterior. Este padrão de ida e volta se repete várias vezes ao longo de uma seção normal de aplausos.
Em entrevista à Reuters Health, Barabasi disse que está implícito que "a concordância com a sincronia" é realmente um exemplo de uma condição matemática importante sendo seguida.
"Eu já disse que existem várias leis matemáticas que aparecem em todos os lugares da natureza – mesmo na sociedade," ele disse. "Como a menstruação entre mulheres que vivem juntas, que se tornam sincronizadas. Se pessoas ou mesmo um grupo de vagalumes estão fazendo algo em sociedade que eles realizam periodicamente – e se têm contato uns com os outros – existe a possibilidade de sincronização, e este é o primeiro estudo que mostra que isto acontece com as pessoas".
Barabasi observa que os aplausos exemplificando o comportamento sincrônico apresenta um componente interessante. "Você conhece o jogo – você tem o conhecimento de que necessita aplaudir mais devagar para que ocorra a sincronia", ele aponta. E ele sugere que o fato de que o comportamento rítmico do aplauso ser muito mais comum na Europa Oriental do que na Europa Ocidental ou na América do Norte pode simplesmente ser resultado de um jogo subconsciente que é facilmente passado entre gerações em sociedades mais homogêneas e mais fechadas.
Barabasi acredita que esta pesquisa tem um papel importante e universal no auxílio à compreensão do comportamento humano não somente a nível social mas também a nível molecular. "Uma das aplicações mais importantes é no coração," ele disse. "No coração que tem muitas, muitas células diferentes e estas células podem ser ativadas periodicamente ...assim, elas concordam em se ativar juntas porque você tem a coordenação do coração, com um batimento ou mais por segundo. Existe uma clara sincronização ocorrendo aí".
FONTE: Nature 2000;403:849-850.
Publicado em Bibliomed Saúde em 02/03/2000
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