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Desfibriladores implantáveis previnem morte súbita

Por Merritt McKinney

NEW YORK – Para pessoas com uma condição cardíaca inerente que as expõe ao risco de morte súbita, o implante de um dispositivo eletrônico que dispare um choque quando o coração começa a bater em um ritmo perigoso pode salvar vidas, de acordo com um artigo publicado na última semana na revista The New England Journal of Medicine (NEJM).

Em pessoas com distúrbio genético chamado cardiomiopatia hipertrófica (HCM), as paredes do coração são espessadas e endurecidas. Isto pode causar batimentos cardíacos irregulares, os quais podem levar à morte súbita. A cirurgia para reduzir o espessamento do músculo cardíaco e medicamentos podem ajudar a tratar a doença, mas algumas pessoas com HCM permanecem sob alto risco de morte súbita.

De acordo com os resultados do estudo, publicado na edição de 10 de fevereiro da revista NEJM, o implante de um dispositivo chamado desfibrilador-cardioversor, que dispara um choque para restaurar o batimento cardíaco quando ocorre um ritmo cardíaco perigoso, pode prevenir a morte súbita m pacientes com HCM de alto risco.

"Para aqueles que estão neste grupo de alto risco, o desfibrilador é capaz de salvar vidas," disse à Reuters Health o líder dos autores do estudo, o Dr. Barry J. Maron da Fundação do Instituto do Coração em Minneapolis em Minnesota, em uma entrevista. "Nós demonstramos que isto funciona."

Maron e uma equipe internacional de pesquisadores acompanharam 128 pacientes que receberam o implante de um desfibrilador para prevenção de morte súbita. O estudo incluiu 43 pacientes cujos corações pararam de bater ou que apresentaram um batimento cardíaco irregular prolongado, e 85 pacientes que foram considerados sob alto risco, freqüentemente porque um membro da família teve morte súbita.

Em média, os desfibriladores foram ativados em resposta a um batimento cardíaco irregular em cerca de 7% dos participantes a cada ano. Esta freqüência foi significativamente mais alta em pacientes com problemas cardíacos anteriores do que nos outros pacientes de alto risco, 11% contra 5%. Contudo, algumas vezes o dispositivo produziu um choque quando não devia. Isto aconteceu pelo menos uma vez em cerca de 25% dos participantes, informaram os pesquisadores.

Além de mostrar que os desfibriladores podem ajudar a salvar vidas, os resultados do estudo ajudaram a identificar as causas mais comuns de morte súbita em pacientes com HCM. Vinte e um participantes cujos desfibriladores foram adequadamente ativados também receberam dispositivos que gravavam qual tipo de ritmo cardíaco irregular disparou o choque. Baseado nesta informação, os pesquisadores relatam que dois tipos de ritmo cardíaco, taquicardia ventricular e fibrilação ventricular foram os culpados em todos os 21 casos.

Em seus comentários à Reuters Health, Maron observou que um desfibrilador implantado é adequado somente para pacientes com HCM que estão sob alto risco de morte súbita, não para todos os pacientes com a doença, os quais poderiam se beneficiar de medicamentos ou cirurgia. Mas para os pacientes de mais alto risco, que tendem a ser mais jovens, o implante de um desfibrilador é o "tratamento de escolha," ele disse.

O estudo fornece "forte apoio" para o uso de desfibriladores implantados em pacientes que já sofreram parada cardíaca ou ritmo cardíaco irregular prolongado, assim como em alguns outros pacientes sob alto risco de morte súbita, observa o Dr. Hugh Watkins da Universidade de Oxford na Inglaterrra, em um editorial acompanhando o estudo. "Isto parece ser uma notícia muito boa," ele escreve.

Assumindo que estudos mais longos confirmem os resultados deste estudo, Watkins declara que os benefícios dos desfibriladores ultrapassarão os custos e riscos de seu uso.

FONTE: The New England Journal of Medicine 2000;342:365-373, 422-423.
Publicado em Bibliomed Saúde em 17/02/2000

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