Artigos de saúde

Acidentes com animais peçonhentos

© Editorial Bibliomed

Neste artigo:

- Introdução
- Picada de cobra
- Picada de aranha
- Picada de escorpião
- Picada de abelha
- Contato com lagarta urticante

Introdução

Animais peçonhentos são todos aqueles capazes de inocular veneno (peçonha). Os acidentes mais comuns com crianças em nosso meio envolvem serpentes (ofidismo), aranhas (aracnismo), escorpiões (escorpionismo), lagartas urticantes (erucismo) e abelhas.

Os acidentes com estes animais são relativamente frequentes, mesmo nas cidades. Apenas no Brasil, são notificados cerca de 20.000 casos de picadas por serpentes a cada ano! Muitos são tratados com medidas caseiras e pouco apropriadas.

Existem muitos mitos envolvendo o cuidado de crianças vítimas de acidente com animais peçonhentos. Saber como proceder nestes casos é de extrema importância e ajudam a evitar o desenvolvimento de complicações mais sérias.

Picada de cobra

Inicialmente, é preciso recordar as características mais facilmente identificáveis das cobras venenosas: cabeça triangular e com escamas, pupila em fenda e cauda afilando rapidamente (as cobras corais são a única exceção a essa regra).

As manifestações da picada variam de acordo com o tipo de serpente e a quantidade de veneno injetada. Picadas de Jararaca tendem a ser dolorosas e acompanhadas de inchaço (edema) e manchas roxas (equimose) no local. Podem ocorrer sangramentos pelo nariz e gengivas, sugerindo inoculação de grande quantidade de veneno. Alguns dias após, pode haver formação de abscessos extensos. Se não tratada, a picada de jararaca é mortal em 8% dos casos.

O veneno da Cascavel causa degeneração difusa da musculatura e insuficiência renal. Além disso, pode ocasionar distúrbios visuais, dores cervicais, confusão mental e parada respiratória. Normalmente, as alterações no local da picada são discretas, com pouca dor, e os sintomas podem levar algumas horas para surgir. A picada de cascavel é uma das mais fortes entre as serpentes: cerca de 72% das pessoas não-tratadas e até 11% daquelas que recebem o tratamento falecem em decorrência de complicações relacionadas ao seu veneno.

Felizmente, os acidentes provocados por Corais são raros. As corais são cobras pouco agressivas, com hábitos noturnos e vivem quase sempre em abrigos subterrâneos. Além disso, têm a boca pequena e presas fixas, o que dificulta um pouco a picada. O seu veneno provoca paralisia dos músculos respiratórios, podendo levar à parada respiratória - causa da maioria das mortes.

Em todos os acidentes com serpentes, o local da picada deve ser limpo (preferencialmente com água e sabão de coco) e mantido elevado. Nunca se deve fazer garrotes ou cortes no local da picada. A pessoa deve ser tranquilizada, mantida em repouso e encaminhada ao hospital mais próximo o mais rápido possível para receber soro antiofídico, que é utilizado como antídoto quando uma pessoa é picada por uma serpente.

Os soros antiofídicos são fabricados a partir do veneno das serpentes, por isso existem diferentes tipos de soro, sendo que a picada de cada animal deve ser tratada com um antídoto específico. Por isso, é importante capturar a serpente ou descrevê-la ao médico para que o profissional a identifique e consiga administrar o produto adequado àquela determinada espécie.  

Entre os principais tipos de soro antiofídico produzidos no Brasil estão:

- Anticrotálico: utilizado para o tratamento de acidentes com cobras cascavéis (gênero Crotalus).

- Antibotrópico: utilizado para o tratamento de acidentes com jararacas (gênero Bothrops).

- Antielapídico: utilizado para o tratamento de acidentes com serpentes da família das corais (gênero Micrurus).

- Polivalente: utilizado quando não se sabe a serpente que picou o paciente. Esse produto é feito com venenos de jararaca e cascavel.

É importante destacar que, geralmente, são produzidos no país soros para as espécies nativas e mais comuns. Por isso, é muito arriscado manusear ou criar ilegalmente serpentes ou outros animais peçonhentos não nativos, uma vez que o soro para o tratamento de possíveis picadas pode não ser encontrado no país e o caso evoluir para óbito.

Como qualquer outro medicamento, o soro antiofídico pode desencadear reações adversar após a aplicação, como coceira, vermelhidão, vômitos, tosse, crises de asma, hipersensibilidade, e em casos mais graves, choque anafilático. Uma reação tardia que pode ocorrer é a chamada Doença do Soro, que surge de cinco a 24 dias após e causa coceira, febre, dores articulares, aumento de gânglios e pode resultar em comprometimento renal e neurológico.

Picada de aranha

A Viúva Negra é comum nas regiões praianas. Seu veneno possui uma ação potente sobre o sistema nervoso central. Picadas de viúva negra devem ser tratadas com soro específico e medicamentos sintomáticos administrados no hospital.

A Caranguejeira, apesar de seu aspecto assustador, não possui veneno. Sua picada causa alguma dor e pode ser complicada por reações alérgicas – em geral, desencadeadas pelo contato com seus pêlos.

A Aranha de Jardim possui pouco veneno e sua picada ocasiona apenas dor local, que cede com analgésicos comuns.

As Armadeiras são aranhas agressivas e grandes, comumente confundidas com as caranguejeiras. São conhecidas por se apoiarem nas patas traseiras, levantando as dianteiras e dando saltos de até 30cm quando atacam ou se sentem acuadas. Sua picada causa imediatamente dor intensa no local e a pessoa pode apresentar tremores, convulsões, salivação excessiva, aceleração dos batimentos cardíacos, distúrbios visuais e choque. Apesar destas manifestações, a maioria das pessoas melhora com o tratamento adequado e a morte é extremamente rara.

As Aranhas Marrons não são agressivas e picam apenas quando espremidas. Encontram-se no interior das residências, dentro de sapatos e roupas. A picada geralmente ocorre no ato de se vestir e pode levar até 24h para tornar-se dolorosa, o que muitas vezes leva à demora no uso do soro apropriado. Felizmente, a maioria dos acidentes com aranhas marrons são de pequena importância, mas algumas pessoas podem desenvolver insuficiência renal aguda, anemia aguda e distúrbios da coagulação.

Toda pessoa vítima ou com suspeita de picada de aranha deve ser avaliada por um médico, ainda que a aplicação de soro antiaracnídeo polivalente raramente seja necessária. A medida imediata mais correta é limpar o local da picada com água e sabão, aplicando antissépticos se possível.

Picada de escorpião

Os acidentes com escorpiões representam grande importância entre os acidentes com animais peçonhentos, seja pela alta incidência ou pela gravidade dos casos, principalmente em crianças com menos de sete anos ou desnutridas.

Os principais escorpiões encontrados no Brasil são o Marrom e o Amarelo, sendo este último o de veneno mais tóxico. Picadas de escorpião amarelo podem ocasionar náuseas, salivação excessiva, diarreia, dor abdominal, dor de cabeça, escurecimento da visão, tonturas, tremores, espasmos musculares, arritmias cardíacas, alterações da pressão arterial, convulsões, choque e coma. O tratamento varia de acordo com a gravidade das manifestações.

Como em muitos outros acidentes com animais peçonhentos, a medida inicial recomendada é lavar o local com água corrente e sabão, se possível aplicando um antisséptico tópico. Em seguida, a pessoa deve ser levada ao hospital para administração do soro antiescorpiônico e, de acordo com o caso, ela precisa ser internada nos casos graves e mantida sob observação no CTI, dada a grande mortalidade dos casos que evoluem para edema pulmonar agudo.

Picada de abelha

Ao picarem, as abelhas perdem o ferrão e parte do abdômen, o que ocasiona a sua morte. A dor é intensa e geralmente desaparece após alguns minutos, ficando o local vermelho e inchado.

Como em muitos outros casos, as manifestações decorrentes da inoculação do veneno da abelha dependem de vários fatores, tais como sensibilidade individual, potência e volume do veneno, estado geral de saúde, idade, etc. O local da picada também é importante: picadas na região da face e do pescoço possuem maior potencial de gravidade.

A pessoa pode apresentar vertigem, urticária, náuseas, vômitos, diarreia, falta de ar, taquicardia, queda da pressão arterial, crises convulsivas, insuficiência renal, distúrbios hemorrágicos e choque.

Calcula-se que sejam necessárias cerca de 400 picadas simultâneas para ter um efeito letal um adulto, apesar de alguns apicultores já terem sido atingidos por um número superior a mil abelhas e não terem evoluído desta maneira.

A medida mais imediata deve ser a remoção do ferrão, uma vez que quanto mais tempo ele permanecer no local, mais ele vai se aprofundando e injetando o restante do veneno.

É importante observar que o ferrão jamais deve ser removido com os dedos ou pinças, pois estes pressionam a bolsa de veneno. Deve-se utilizar uma lâmina de barbear ou faca ou outro material pontiagudo e limpo, bem rente à pele, raspando-se de baixo para cima. O local deve ser lavado com água corrente e sabão de coco. O uso de desinfetantes (p.ex.: álcool, iodo) é bem-vindo.

Nos casos de picadas múltiplas ou com manifestações preocupantes, recomenda-se avaliação médica.

Contato com lagarta urticante

Os acidentes envolvendo lagartas urticantes são chamados de erucismos. Esses animais recebem uma variedade de nomes, tais como bicho cabeludo, lagarta-de-fogo, lagarta-de-hera, mandruvá, mucuarana e taturana.

A maioria dos acidentes ocorre no verão e no início do outono, quando as larvas eclodem de seus ovos. Elas podem ser encontradas em goiabeiras, abacateiros, nogais, cajueiros, roseiras, cafeeiros, eucaliptos, figueiras, bananeiros, mamoeiros, mandioqueiras, seringueiras e outras plantas.

Normalmente uma lagarta é portadora, em alguma fase de seu desenvolvimento, de pelos ou espinhos ou cerdas que, direta ou indiretamente, podem causar acidentes nos seres humanos. Estas estruturas desprendem-se ao contato, inoculando o veneno.

Na maior parte dos casos, as vítimas são crianças, que tocam as lagartas por curiosidade. As manifestações do veneno são muito variadas e dependem de vários fatores: espécie da lagarta, tipo do pelo, quantidade do veneno, duração do contato. A queimação local, com ou sem coceira, ocorre em quase todas as situações, podendo permanecer por horas. Ainda podem ser observados vermelhidão, bolhas e descamação no local do contato, mal-estar, insônia, febre, náuseas e vômitos.

Não existe antídoto específico para o Erucismo. O tratamento é basicamente sintomático, limpando-se cuidadosamente a área afetada. Uma vez que a dor não é provocada apenas pela ação direta do veneno, mas também pela trepidação dos pelos da própria pessoa no local sensibilizado, indica-se raspagem do local com lâmina de barbear (a raspagem deve ser rápida, evitando manipulação demasiada).

Se o local acometido não puder ser raspado, a aplicação de uma pomada de vaselina ajuda a imobilizar os pelos, diminuindo um pouco a dor. Gelo local pode ser útil nos casos de dor mais intensa. É sempre aconselhável procurar atendimento médico para avaliar a gravidade do acidente.

Copyright ©  Bibliomed, Inc.      05 de agosto de 2020.