Artigos de saúde
A obesidade é uma doença crônica relacionada com um aumento significativo
do risco de se adquirir ou piorar vários distúrbios: doença coronariana
(angina cardíaca e infarto cardíaco), hipertensão arterial, dislipidemias
(aumento dos níveis de colesterol e gordura no sangue), diabetes mellitus tipo
2 (chamada de não insulino dependente), cálculos biliares, apnéia do sono
(parada respiratória súbita e momentânea durante o sono), osteoartrite
(rigidez das articulações) e vários tipos de câncer. Há três graus de
obesidade classificados de acordo com o índice de massa corporal - IMC (peso em
Kg dividido pela altura ao quadrado). A importância mundial dessa doença
reside no fato de ser a mesma uma epidemia mundial pois sua prevalência atinge
somente nos EUA, cerca de 20% da população (50 milhões). Um outro fator de
importância é o fato de ser a obesidade um sintoma de ansiedades e estresse
crônicos que estão cada vez mais comuns e intensos no dia a dia da sociedade
capitalista ocidental.
Uma revisão literária extensa realizada pelo Dr. Walker S. Carlos Poston da
Escola de Medicina da Universidade de Missouri e pelo Dr. John P. Foreyt da
Baylor College of Medicine da Universidade do Texas, ambas nos EUA, reuniu uma
ampla gama de informações atualizadas sobre o manejo, controle e tratamento da
obesidade através de uma abordagem mais completa. O artigo foi publicado na
revista médica American Family Physician em junho de 2000.
De acordo com os autores, para que se consiga realizar uma intervenção eficaz
sobre o paciente obeso, é necessária uma abordagem bio-psico-social, de forma
que os diversos fatores responsáveis pelo quadro sejam combatidos e antes de
tudo compreendidos. O auto-conhecimento é uma das grandes armas para se
reverter o processo.
As estratégias estão focalizadas na mudança do estilo de vida da pessoa,
através do redirecionamento dietético, do recondicionamento físico e da
reestruturação comportamental.
Dentre as técnicas de mudança comportamental estão a auto-monitoração, o
controle de estímulos, a reestruturação cognitiva, o gerenciamento do
estresse e o apoio e suporte social.
Auto-Monitoração
Trata-se da observação sistemática das mudanças comportamentais iniciadas.
Isso inclui: relatório alimentar para gravar a ingestão calórica total, total
de gordura ingerida, grupos de alimentos utilizados e condições e situações
onde ocorre o descontrole alimentar; registro das atividades físicas realizadas
através da freqüência, duração e intensidade; escalas de composição de
peso corpóreo para registrar mudanças no peso, gordura corporal e massa
corporal magra. Não é necessária uma acuidade extrema nas informações. A
importância dessa tabela é o reconhecimento de situações que ajudam ou
desajustam sua dieta. Tem-se percebido em muitos estudos uma enorme aceitação
pelos pacientes dessa tabela, como sendo uma ferramenta de direcionamento. Como
exemplo, a redução de 500 a 1000 kcal por dia da dieta, leva a uma
diminuição de 0,45 - 0,9kg por semana.
Controle de Estímulos
É a identificação de situações psicossociais que levam ao comportamento
de compulsão pela comida e à inatividade física. Uma vez reconhecidos tais
momentos, pode-se modificá-los. Isso é de extrema importância devido ao fato
de serem esses fatores os desencadeantes das recaídas. Exemplos de mudanças
seriam: comer somente na mesa e não comer junto à televisão.
Reestruturação Cognitiva
Essa atividade aumenta a percepção de si mesmos e de seus pesos. Ajuda a
aumentar a auto-estima que está muitas vezes diminuída nesses pacientes devido
à distorção de sua imagem corporal. Muitos têm uma estimativa de necessidade
de perda de peso aumentada e irreal o que os desmotiva. Assim, qualquer perda em
vez de ser uma vitória passa a ser uma afirmação da impossibilidade de se
conseguir chegar ao objetivo estipulado.
Gerenciamento do Estresse
Por ser o estresse o principal fator predisponente à recaída, o
ensinamento de técnicas para diminuir a tensão é essencial. Essas podem ser
através de exercícios respiratórios, relaxamento muscular e meditação,
dentre outras.
Apoio Social
Aqueles com um maior grau de apoio social, tendem a conseguir uma maior
perda de peso e também a manutenção da mesma. Esse apoio pode ser conseguido
através da inclusão da família no programa de tratamento, programas
comunitários, grupos de atividades socais externas como nas escolas, igrejas,
faculdades e clubes que não necessariamente devem ser orientados para o
controle de peso. Essas interações podem ser decisivas para uma
auto-aceitação mais intensa e o desenvolvimento de outras formas de
relacionamento interpessoal.
Atividade Física
É o outro grande tripé do tratamento. É responsável pela redução de
várias complicações associadas com a obesidade. A atividade física é um
estímulo para se manter o peso atingido. Estudos mostram que uma pessoa
fisicamente ativa, mesmo obesa, pode diminuir os riscos de mortalidade
substancialmente. Isso mostra a possibilidade de uma "obesidade
saudável" o que só vem a enfatizar esse procedimento no acompanhamento
desses pacientes. Não é necessário que se comece fazendo atividades
estafantes. Pode-se começar com caminhadas de 30 a 40 minutos diárias. O
objetivo é gastar de 300 a 500 kcal por sessão ou 1.000 a 2.000 kcal por semana.
O uso de medicamentos
As informações atuais evidenciam o tratamento medicamentoso como um grande
aliado no controle de peso juntamente com todas as outras medidas acima
expostas. O uso de remédios sem tais medidas não demonstrou ser uma conduta
promissora em vários estudos. Os efeitos das drogas tendem a ser máximos em
seis meses. Há vários tipos de remédios. As drogas noradrenérgicas
(SanorexR) não devem ser utilizadas a longo prazo. O XenicalR é utilizado por
um período mais longo obtendo-se melhoras significativas e seus efeitos
colarerais sistêmicos são pequenos. Outra droga utilizada no tratamento a
longo prazo é a sibutramina (MeridiaR). É importante ressaltar que as drogas
podem causar efeitos colaterais como depressão, problemas pulmonares,
diarréia, boca seca, distúrbios de sono, aumento da pressão arterial e o
desenvolvimento de tolerância ou seja, uma necessidade de se aumentar a dose
progressivamente.
Recentemente, tem se focalizado muito além da perda de peso como único
tratamento da obesidade. Novas definições mais abrangentes têm considerado
como objetivos de tratamento: a melhora metabólica através do controle de
comorbidades associadas como diabetes e dislipidemias, aumento e constância de
exercícios físicos, melhora da auto-estima, estado de espírito, e qualidade
de vida através do incentivo às atividades sociais do dia a dia de forma que
se tenha uma rotina mais agradável e uma vida mais prazerosa.
Fonte: American Family Physician 2000;61:3615-22
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