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Brasil tem padrão de consumo de álcool mais perigoso que o da Alemanha

São Paulo, 13 de Junho de 2001 (eHealthLA). De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil tem um padrão de consumo de álcool nível 3, ao passo que a Alemanha, país reconhecidamente produtor de bebidas alcoólicas, apresenta um padrão nível 2.

O Dr. Cláudio Jerônimo da Silva, psiquiatra e pesquisador da Unifesp, que acaba de voltar de Genebra, onde esteve em contato com a OMS, explica que o órgão desenvolveu uma metodologia para avaliar a gravidade do padrão de consumo da bebida em vários países.

De acordo com o Dr. Cláudio, a OMS estabeleceu uma escala que classifica os países em níveis de zero à quatro, onde no zero estão os países que não consomem álcool algum e, no 4, estão os que possuem o consumo que oferece mais risco de desenvolvimento e agravamento de doenças e de traumas físicos, conseqüentes de acidentes.

“Para que se tenha um parâmetro, a Alemanha, onde o consumo per capita de álcool (produção dividida por habitantes maiores de 15 anos) é um pouco maior que o brasileiro, está no nível 2”, relata o psiquiatra. Isso se explica porque, segundo o Dr. Cláudio, o padrão de consumo alemão é menos perigoso, pois mais gente bebe mais, ao longo de mais dias, mas em quantidades, a cada vez, menores, dentro de um limite em que não há perda de consciência.

“No Brasil, o consumo é episódico, mas abusivo”, sentencia, definindo que “o tipo de consumo do brasileiro é muito arriscado, ou seja, consome-se grande quantidade em uma única ocasião e, depois, passa-se largos períodos sem beber”.

É o caso daqueles que nada bebem durante a semana, mas abusam na sexta-feira; passam o ano todo sem beber, mas bebem de cair na sarjeta no Carnaval. Este tipo de padrão de consumo causa, por exemplo, muitos acidentes automobilísticos.

“Na maioria das vezes, as pessoas com este padrão de consumo são pessoas comuns, não necessariamente dependentes”, ressalta o Dr. Cláudio, que alerta que, nem por isso, são menos perigosas quando bebem.

Segundo o Dr. Cláudio, aceita-se no meio médico que é dependente do álcool aquele indivíduo que bebe em um padrão que cause tolerância, ou seja, que precisa beber doses cada vez maiores e em freqüências cada vez menores para obter o mesmo efeito; que sofre de síndrome de abstinência, isto é, que sofra tremores e outros sintomas quando não bebe; que comece a negligenciar outras atividades em favor da bebida, como o seu casamento, família, emprego, etc; e que perca o controle em relação à bebida, ou seja, que planeje beber uma certa quantidade e acabe bebendo mais do que havia se proposto.

Este sujeito, no entanto, pode ser aquele que bebe todos os dias sem nunca causar um prejuízo realmente grande, como um acidente, ao passo que outro, que não é dependente, pode provocar, em um consumo episódico, a morte de várias pessoas ao bater o carro.

O Dr. Cláudio explica que a OMS passa agora a preocupar-se, portanto, também com os prejuízos que o consumo de bebidas alcoólicas pode causar em pessoas comuns, sem diagnóstico de dependência.

Conforme noticiado esta semana pelo site BoaSaúde, o Dr. Cláudio coordena uma pesquisa para medir o impacto do uso do álcool no desenvolvimento e agravamento de 66 tipos de doenças clínicas.

O estudo está sendo desenvolvido no Hospital São Paulo, pertencente a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), com financiamento da OMS.

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