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Acupuntura Pode Oferecer Alívio a Pacientes com Aids

SÃO PAULO (Reuters) - Paulo, soropositivo há dez anos, conseguiu se livrar das pneumonias frequentes que quase o levaram à morte com o uso do coquetel contra a Aids. No entanto, um dos efeitos colaterais mais comuns causados pela combinação de drogas, a chamada neuropatia periférica, atingiu seus pés e sua mão direita, dificultando sua locomoção e movimentos.

"Meus pés estavam muito inchados e passei a caminhar com a ajuda de uma bengala", diz ele. Isso começou a prejudicar seu trabalho como voluntário em uma organização dedicada a auxiliar pacientes com HIV.

"Eu não podia ficar muito tempo em pé, logo ficava cansado." Ele já se tratava no Centro de Referência e Treinamento em DST e Aids, uma unidade médica estadual considerada modelo no tratamento de pacientes com Aids.

O diretor de Saúde Mental do centro, o médico Remo Rotella Jr, o aconselhou a se juntar ao grupo de pacientes em que aplicava acupuntura.

"Depois de um mês minha mão já estava bem melhor, somente quando me esforço muito há sinais de dor."

A neuropatia periférica é um processo inflamatório dos nervos periféricos, que é provocada pelo efeito tóxico dos medicamentos anti-retrovirais e, mais raramente, pelo próprio HIV. Ela ataca a capa de mielina desses nervos, que ficam desprotegidos e liberam corrente elétrica, causando muita dor.

Segundo Rotella, esse é um problema muito difícil de tratar. "Os antiinflamatórios muitas vezes não são capazes de aliviar a dor."

Outra grande preocupação dos pacientes soropositivos são as doenças oportunistas que podem atacá-los nos períodos de maior fragilidade imunológica. Um dos objetivos da acupuntura é fortalecer o sistema imunológico.

"Há pontos específicos para fortalecer o sistema imunológico, que trabalhamos em todos os pacientes, como o IG4. Temos uma resposta espetacular, afirma o psiquiatra.

Rotella explica que a condição imunológica está intimamente ligada ao estado emocional.

Luana, de 49 anos, há 17 foi contaminada por seu marido. Ela não apresentou sintomas da doença até 1989, quando teve uma depressão profunda. Contraiu então uma tuberculose, que lhe deixou sequelas no pulmão.

Ela foi uma das primeiras pacientes a se aliviar com as agulhas de Rotella, que começou seu trabalho no início do ano.

Rotella reforça que às vezes somente a acupuntura não resolve os casos de depressão. É necessária, então, o uso de antidepressivos. Segundo o médico, drogas e acupuntura se potencializam e a aplicação das agulhas permite que sejam ministradas doses menores de medicamento e por menos tempo.

"Nós lutamos contra o tempo. Uma depressão pode afetar o sistema imunológico e abrir caminho para uma infecção oportunista."

Alguns pacientes, no entanto, reagem melhor que outros.

Marco, há dois meses se trata com o médico. Sua principal reclamação é a neuropatia que atinge sua perna direita. Ele se trata há cerca de dois meses e as dores persistem. "Logo depois da sessão, elas melhoram, mas depois voltam", diz.

As primeiras experiências de Rotella com a Aids datam de 1986, quando trabalhava como psiquiatra no Emílio Ribas. Lá ele tratava tanto dos pacientes como da equipe médica. Antes de assumir o posto de diretor de saúde mental no Centro de Referência e Treinamento em DST e Aids ele trabalhava no Centro de Dor do Hospital das Clínicas, onde, em 1996 teve contato com a acupuntura.

PARCERIA PERMITIRÁ AMPLIÇÃO

Os pacientes se cotizavam para comprar agulhas para aqueles que não podiam pagar. A partir deste mês, o Estado vai começar a fornecê-las. A aplicação de acupuntura é feita uma vez por semana. Segundo Rotella, o ideal seria que houvesse aplicações no mínimo duas vezes por semana.

Um dos meios encontrados por ele foi estabelecer um convênio com o Centro de Estudos da Medicina Chinesa (Ceimec-SP), que forma médicos habilitados para a aplicação de acupuntura.

Pelo acordo de supervisão técnica, os alunos do Centro de Estudo Integrado de Medicina Chinesa vão tomar parte no tratamento, supervisionados pelos professores da escola.

"Este acordo é bom para os pacientes e para os médicos, que vão ter um treino mais efetivo. Além disso, ele ajuda a esclarecer um preconceito dos próprios médicos. Muitos receiam aplicar a acupuntura em pacientes com Aids, por temerem a contaminação, diz o médico Chen Sin Yuan, professor da escola. Segundo Rotella, esse risco pode ser evitado com o uso de agulhas descartáveis e luvas na ora de retirar as agulhas.

* Os nomes dos pacientes são fictícios.

Sinopse preparada por Reuters Health

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