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Brasileiros superestimam sua saúde

14 de dezembro de 2018 (Bibliomed). Qual a percepção do brasileiro sobre sua saúde? Essa foi a pergunta norteadora de um estudo inédito da Dasa, em parceria com o Instituto Ipsos, que mostrou que 80% da população vê como positivas suas condições de vida e saúde.

O Radar Dasa da Saúde envolveu 1.200 entrevistados em 72 municípios brasileiros e foi conduzido de forma a respeitar a proporção da população que vive em áreas urbanas, considerando variantes como gênero, faixas etárias, grau de instrução e atividade econômica descrita pelos dados oficiais do IBGE. Com margem de erro de até três pontos percentuais, o estudo foi realizado em duas etapas: a primeira apontou comportamentos da população quanto aos hábitos e às atitudes referentes à saúde e a segunda baseou-se na realização de exames de diagnóstico e cuidados relativos à prevenção de doenças. Como fontes de dados, foram utilizados Ministério da Saúde, Organização Mundial da Saúde (OMS) e o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e estatísticas internas de mais de 700 laboratórios da Dasa, compreendendo o período de janeiro de 2017 a agosto de 2018.

Quando questionados sobre hábitos e atitudes de saúde, 80% dos entrevistados mostraram-se positivos, especialmente aqueles com maiores renda e escolaridade. O estudo revelou, também, que o brasileiro tem consciência de que precisa melhorar seus hábitos de vida para ter uma saúde melhor, mas somente 24% afirma que consegue se cuidar e 57% se cobra mais neste quesito.

No entanto, quando analisados dados mais específicos, nota-se que muitos dos entrevistados não têm o hábito de irem a consultas médicas como forma de prevenção, sendo que 58% das pessoas buscam um médico apenas quando estão efetivamente doentes. As mulheres são as que mais cuidam da saúde, especialmente através de exames preventivos. Considerando dados dos 12 meses anteriores, 76% das mulheres entrevistadas haviam passado por consulta médica ou exames, contra 47% dos homens. Quanto à realização de exames, nota-se um fato curioso: a maior parte dos entrevistados confia em seus médicos para prescreverem exames e se sentem mais seguros com a prática (82% e 78%, respectivamente), mas 24% deles têm medo de descobrir alguma alteração patológica.

Os jovens têm buscado serviços médicos não emergenciais com mais frequência do que os mais velhos 22% (entre 16 e 24 anos) contra 11% (55 anos ou mais). Porém, pessoas com mais de 55 anos buscam mais exames clínicos (28% contra 13%) e fazem tratamentos mais regulares para problemas de saúde (27% contra 11%). Um fator de alerta é o uso de medicamentos sem prescrição médica: 39% dos brasileiros declaram tomar remédios sem recomendação médica. Renda e sexo não interferiam significativamente nesse quesito.

Diabetes, hipertensão e fatores de risco

Doenças como diabetes e hipertensão são responsáveis por milhares de mortes anuais. O Ministério da Saúde estima que mais de 30 milhões de brasileiros sejam hipertensos e que mais de 333 mil morram por ano de doenças cardiovasculares. Em relação ao diabetes, 12,4 milhões de pessoas convivem com a doença no país, e o risco entre homens e mulheres é igual. Muito são os fatores de risco para essas doenças, e os resultados da pesquisa apontam resultados tanto positivos quanto negativos.

Entre os fatores de risco tradicionais, como tabagismo e consumo de álcool, os dados apontam para uma redução no consumo de ambos, com grande parte dos brasileiros declarando que nunca fumaram (79%) ou nunca beberam (47%).

Má alimentação e obesidade estão entre os pontos que despertam preocupação nos especialistas. Cinquenta e quatro por cento dos brasileiros está acima do peso, sendo desse montante 19% considerado obeso. A obesidade está relacionada diretamente a dois fatores: alimentação ruim e sedentarismo. Apenas 30% dos brasileiros declaram se alimentarem bem, consumindo frutas, legumes e verduras diariamente. A renda e a faixa etária interferem diretamente na qualidade da alimentação, sendo que os jovens e aqueles com menor renda os que relatam comerem pior. Cinquenta e dois por cento dos brasileiros declara não realizar atividades físicas moderadas diariamente, sendo o sedentarismo maior a partir dos 45 anos. Pessoas mais jovens e com maior escolaridade são as que praticam mais exercícios.

O sono também chamou a atenção dos pesquisadores: 38% dos brasileiros afirmam dormir mal em pelo menos três noites da semana. Dormir menos horas que o adequado tem impacto direto na saúde, afetando o metabolismo, a imunidade, a pressão arterial e até a produção de insulina, entre outros.

Fake News e o impacto na saúde

Sessenta e sete por cento dos brasileiros relatam estarem com a vacinação em dia. Entretanto, a imunização vem apresentando queda no país. Doenças consideradas erradicadas não provocam medo e muitas pessoas acabam por não se vacinarem ou não vacinarem as crianças acreditando que estão protegidos.

A divulgação de notícias falsas sobre vacinas, as chamadas Fake News, nas redes sociais, especialmente no Whatsapp, é em grande parte responsável por essa diminuição no número de imunizações. Notícias relacionando a vacinação à incidência de autismo, ou ainda aquelas que dizem que a vacina pode causar a doença ou que essas não são eficazes estão afastando as pessoas da vacinação. O Ministério da Saúde ressalta que a vacinação é segura e que toda vacina licenciada para uso passou antes por diversas fases de avaliação, desde os processos iniciais de desenvolvimento até a produção e a fase final que é a aplicação, garantindo assim sua segurança.

A vacinação não é exclusiva das crianças, sendo que cada fase da vida exige uma imunização específica. No site do Ministério da Saúde é possível acessar o Calendário Nacional de Vacinação e consultar quais as vacinas indicadas para cada faixa etária. Além disso, estão disponibilizadas no Sistema Único de Saúde 19 vacinas para mais de 20 doenças.

Infecções Sexualmente Transmissíveis

O estudo analisou, também, a relação realização de exames para Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), e os resultados foram em consonância com os anteriores: as mulheres são a maioria a procurar exames para testes de HIV, HPV, Sífilis e hepatites. Isso é sinal de alerta, uma vez que os homens jovens são a maioria entre os soropositivos.

O Brasil vive uma epidemia de sífilis, com o número de pessoas infectadas crescendo 32,7% em comparação a 2014. A detecção da sífilis é simples e rápida, e está disponível nos postos de saúde. Se descoberta no início, a doença tem tratamento, mas, se não cuidada, pode levar à morte.

Quando analisados dados sobre testagem para o HPV (Papiloma vírus humano), as mulheres são maioria, especialmente nas idades entre 25 e 44 anos. O HPV é uma gama de vírus que compreende a mais de 200 tipos, dos quais 13 podem causar lesões precursoras do câncer. Cânceres de colo do útero, ânus, pênis e garganta, entre outros, estão relacionados ao HPV.

Em relação às hepatites, os dados mostraram que a Hepatite C, considerada a mais letal, tem maior prevalência no sudeste (61% dos casos de infecção por todos os tipos de hepatite). Já a hepatite B é prevalente entre os homens, mas os casos de infecção em ambos os gêneros vem diminuindo nos últimos anos. Por ser de contágio predominantemente sexual, a hepatite B segue o mesmo perfil etário das demais ISTs.

Dengue, Zika e Chikungunya

Por fim, o estudo analisou as doenças relacionadas ao Aedes aegypti, que apresentaram queda no ano de 2018 em comparação com 2017. Zika e Chikungunya trazem queda mais acentuada (45,4% e 44,9%, respectivamente). Contudo, a Dengue permanece estável, com mais de 225 mil casos por ano. Novamente, na testagem para as três doenças, as mulheres jovens (25 a 44 anos) são a maioria, mas o número de testes/ano ainda é abaixo de ideal.

Apesar da queda no número de infecções, doenças relacionadas ao Aedes aegypti ainda exigem atenção e o controle do vetor ainda é um desafio. Sabe-se que grande parte de focos de mosquitos Aedes são em residências. Classes mais baixas, da população, que residem próximo a borracharias, depósitos de lixo e ferros-velhos ou que não contam com uma rede de saneamento adequada (água encanada, rede de esgoto e coleta de lixo) mais propensa a essas doenças.

Otimismo não é suficiente

Apesar dos resultados positivos e do otimismo demonstrado pelo brasileiro, ainda é necessário trilhar um longo caminho para que o país alcance índices ideais de saúde. No entanto, dados do estudo Radar Dasa da Saúde mostram que se por um lado o tabagismo e a ingestão de bebidas alcoólicas vêm diminuindo ao longo dos anos, por outro, a obesidade e a má alimentação ainda afeta grande parte da população, bem como problemas com o sono e sedentarismo.

Doenças como diabetes e hipertensão ainda matam muito no país, e doenças que podem ser prevenidas por vacinação estão crescendo, uma vez que a onda de Fake News sobre vacinação que se espalhou pelas redes sociais provocou medo em muitas pessoas. Apesar do fortalecimento na regulação de venda de medicamentos, a automedicação ainda é prevalente entre os brasileiros.

Doenças relacionadas ao Aedes aegypti estão em queda, com exceção da Dengue, cujos casos permanecem estáveis. Mesmo com todas as campanhas de conscientização, o controle dos focos do vetor ainda é muito difícil.

O estudo confirmou o que já era de conhecimento popular: as mulheres ainda se cuidam mais do que os homens. Elas são a maioria a buscar consultas preventivas e a realizarem exames, incluindo testagem para Infecções Sexualmente Transmissíveis, como HIV, Sífilis, Hepatites e HPV.

Fonte: Radar Dasa da Saúde. Dezembro de 2018.

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